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O Haiti às portas do segundo ato, igualmente trágico: o socorro às vítimas, a remoção de corpos, os sepultamentos coletivos, a atenção redobrada ao risco de doenças em larga escala e o início do longo e penoso caminho da reconstrução de um país arrasado. O plano de emergência, centrado em cinco áreas classificadas de prioritárias, dá ênfase ao reforço da segurança nas operações e distribuição de suprimentos, principalmente água e comida. A declaração de um funcionário que participa do esforço de ajuda humanitária define o quadro desesperador. Disse ele que, no momento, dinheiro não vale mais nada. Agora, "água é a moeda". Os integrantes da força policial, ou o que sobrou dela, estão ocupados resgatando e enterrando suas próprias famílias, informou um haitiano. "Eles não têm tempo de patrulhar as ruas."

A onda de saques é um dos pontos de tensão, enquanto tropas e aviões carregados de alimentos e remédios começam a chegar. O ministro Nelson Jobim, da Defesa, começou a definir com o general Floriano Peixoto, que comanda a Força de Paz da Organização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), um plano de ação para coordenar os trabalhos de resgate e de ajuda humanitária. É a etapa que foi classificada de "pesadelo logístico" por Elisabeth Byrs, porta-voz da ONU.

Relatório parcial do Programa Mundial de Alimentos indica que os danos no porto da capital haitiana impedem que os navios com equipes e suprimentos realizem o desembarque. O aeroporto de Porto Príncipe está operando, mas, com sérias dificuldades para orientar as dezenas de voos que chegam de vários países.

Com medo dos efeitos das réplicas, os tremores de menor intensidade que se seguem a um terremoto mais forte, moradores lotam as ruas de Porto Príncipe, o que prejudica o transporte de alimentos, água e medicamentos para todos os pontos da cidade. Sem a menor estrutura para enfrentar um desastre de tamanha proporção, os haitianos dependem totalmente da solidariedade e da ajuda externa.

Ao longo da história, grandes catástrofes deixaram lições. O terremoto e os posteriores incêndios que destruíram São Francisco em abril de 1906 mataram mais de 3 mil pessoas e reduziram a pó a cidade da Califórnia. A partir daí, uma série de medidas preventivas foi tomada pelo governo norte-americano, que, aliás, no último dia 9 registrou um tremor no Oceano Pacífico, com epicentro a 16 quilômetros de profundidade, a 361 quilômetros de Sacramento, capital da Califórnia.

Kobe, no Japão, em janeiro de 1995 foi abalada por terremoto que matou quase 7 mil pessoas, na catástrofe mais mortífera do pós-guerra. A maioria morreu na hora, esmagada enquanto dormiam. O tremor alcançou intensidade 7,3 na escala Richter. Meio milhão de casas e imóveis foram destruídos, trilhos das estradas de ferro arrancados, estações de metrô ruíram e estradas foram danificadas. Igualmente foram tomadas providências para enfrentar, com o menor dano possível, outras catástrofes. Do pobre Haiti, o que se pode esperar? Sem estrutura para enfrentar um desastre como o de terça-feira, continuará vivendo, sobre o fio da navalha, um duplo pesadelo. O do impacto do fenômeno natural, que poderia ser minimizado, e o da total falta de condições para projetos de prevenção e planos de emergência.

Uma lamentável herança do colonialismo e da miséria a que foi submetido na sequência.

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