• Carregando...

O governo adiou para janeiro o anúncio do pacote de medidas para a retomada do crescimento, confirmando que a política econômica é um tema complexo, a exigir atenção concentrada dos governantes e da sociedade. Isso porque, após duas décadas de implantação de um programa de estabilização que derrubou a inflação, o Brasil não conseguiu encontrar a fórmula para um crescimento sustentado, capaz de assegurar expansão em um cenário de inflação controlada.

Segundo o porta-voz presidencial, o governo ainda não fechou o conjunto de providências porque – havendo dezenas de projetos para serem anunciados – o presidente pediu mais detalhamento aos ministros encarregados de articularem o novo programa. Mas o ministro da Fazenda adiantou que, entre outros itens, ele conterá a desoneração dos investimentos produtivos e um aumento no PPI – isto é, o programa piloto de investimentos em infra-estrutura, hoje o principal gargalo para a retomada de um avanço vigoroso na economia brasileira.

Todavia, os líderes empresariais e analistas técnicos consideram tais providências insuficientes, por passarem ao largo de um dos aspectos considerados mais críticos sob a atual administração: a redução do gasto público. Mesmo o empresário Josué Gomes da Silva, dirigente de um grupo de estudos industriais e filho do vice-presidente da República, avalia que "o corte de custos e o redesenho de processos leva a maior eficiência do Estado e, em conseqüência, a uma taxa mais equilibrada de juros e câmbio".

A nosso ver, ao ceder a um impulso e anunciar – na noite da reeleição – que lançaria um conjunto de medidas para elevar para 5% anuais o crescimento do PIB, hoje praticamente na metade dessa taxa (2,78%), o presidente Lula pode ter preparado para si próprio uma armadilha, para sair da qual precisará recorrer à sua proverbial habilidade política. É que a inclinação natural do atual governante é pela prudência em vez da ousadia em assuntos de natureza fiscoeconômicas.

Tanto que a turbulência global desencadeada por uma decisão desastrada das autoridades da Tailândia – tentando controlar a conta interna de capitais – foi tomada em nota pelo presidente. Enquanto naquele país asiático a bolsa de valores desabava, o Brasil resistiu com leve oscilação no mercado de títulos financeiros, levando Lula a observar para os circunstantes: "Por isso que eu acho que em economia, cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém".

Como o país se encontra em virtual estagnação, ante o esgotamento do efeito-renda dos aumentos reais do salário mínimo, bolsa-família, crédito consignado e outras "bondades"; com as vendas natalinas indicando recuo diante de anos anteriores, um esforço pela retomada é conveniente. Mas, a rigor, seria melhor o governo se concentrar no controle de gastos com redução geral dos impostos, do que voltar à era dos "pacotes" de eficácia duvidosa. O brasileiro quer trabalhar e crescer; para isso basta liberar as energias da sociedade.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]