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A crise nas bolsas de valores e mercados internacionais iniciada no final de fevereiro e que ainda repercute foi uma freada de arrumação, mas serve de alerta de que o mais longo ciclo de prosperidade desde a recessão de 1930 pode acabar. No Brasil – que recebe a visita de trabalho do presidente dos Estados Unidos – desta vez os riscos de desarranjo são menores, diante da solidez de nossa economia.

De fato, enquanto em períodos anteriores uma queda nas bolsas representava corrida dos capitais para fora, com paralisia dos financiamentos externos, elevação da taxa de juros e perplexidade geral, a turbulência transcorre sob relativa calma: o Banco Central prossegue na sua política de afrouxamento dos juros, o risco-país oscilou levemente e o governo segue com as atividades regulares.

É verdade que o país não tem crescido muito, mantendo expansão média de 2,5% ao ano; nivelada com o crescimento demográfico e bastante inferior à média do mundo em desenvolvimento, com seus saltos de 8 a 10%. Porém, da mesma forma, não temos o que perder: as reservas acumuladas compensam a reduzida dívida externa, os juros reais no patamar mais alto do mundo não precisam ser puxados para cima e os capitais atraídos para lucrar com o diferencial brasileiro se acham protegidos pelo excedente de moeda forte.

Por esses motivos, em sua passagem por Curitiba há uma semana, o ministro da Fazenda declarou esperar a passagem da turbulência com tranqüilidade. Professor na Fundação Getúlio Vargas, Guido Mantega sabe que os ciclos de valorização são seguidos por períodos de contração, encarando com naturalidade uma eventual correção no preço das matérias-primas que tanto beneficiou os mercados emergentes, entre eles o Brasil.

Na mesma linha, o ex-presidente do Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos, Alan Greenspan, reafirmou que o ciclo de crescimento pode estar acabando, listando entre seus desequilíbrios a bolha de preços no mercado imobiliário americano: alguns compradores de casas não conseguiram pagar seus débitos, acarretando perdas controláveis, mas que derrubaram os índices de confiança, acarretando um efeito-cascata sobre investidores, fundos de investimentos e similares.

A correção iniciada numa bolsa de valores da China reflete, na essência, excessos nos mercados americanos, impulsionados por fundos financeiros que tomavam recursos emprestados em mercados de juros baratos para aplicar em papéis de maior atrativo e risco. Há um mês os ministros de finanças dos países ricos, o G-8, haviam alertado para essa desenvoltura dos fundos de "hedge" na era da globalização financeira.

O Brasil – que recebe a visita do presidente George Bush para uma parceria com os Estados Unidos que expande nossas possibilidades de exportação de etanol e outros produtos – pode passar pela crise sem sobressalto. Basta reforçar a vantagem competitiva natural em energia renovável com reformas modernizadoras, para aproveitar o último elo de uma fase de bonança que não vai durar para sempre.

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