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A melhor solução para a guerra na Síria é dar condições para que os próprios rebeldes derrubem Bashar Assad, sem intervenções estrangeiras

As ameaças, por parte do governo do ditador Bashar Assad, de uso de armas químicas na guerra civil que atinge a Síria elevaram a preocupação internacional a um novo patamar nesta semana. Difícil saber quais são as reais intenções de Assad quanto ao seu arsenal; a ameaça veio depois de um atentado que matou o ministro da Defesa sírio, entre outros membros da alta cúpula militar do país – o episódio chegou a ser visto como o "começo do fim" do regime de Assad, e uma reafirmação do poder bélico do ditador, ainda que apenas verbal, serviria para impedir uma debandada que consolidasse de vez o predomínio dos rebeldes.

As atenções se voltam para Aleppo, a mais populosa cidade síria, que se prepara para uma batalha decisiva e de grandes proporções entre forças legalistas e rebeldes. Há denúncias não confirmadas do uso em pequena escala de armas químicas por parte do Exército, o que levaria a um questionamento: o que fazer, caso Assad realmente cumpra sua ameaça? Um cartum da revista britânica The Economist, meses atrás, mostrava líderes internacionais dizendo ao ditador sírio, após mais um massacre de opositores, que ele havia ultrapassado todos os limites. "Não nos resta outra alternativa senão... riscar outra linha", completavam, numa demonstração da incapacidade da comunidade internacional de lidar com o assunto.

Com a deterioração do cenário sírio, os brasileiros têm todos os motivos para perguntarem em que se baseia a presidente Dilma Rousseff quando afirma que "o que temos de construir em conjunto é um caminho diferente, é que a paz seja obtida por meios diplomáticos, a partir de um consenso criado no Conselho de Segurança". A frase, proferida em Londres durante uma entrevista coletiva, é de uma ingenuidade impressionante, já que nem Assad mostra a mínima disposição para negociar com os rebeldes, nem a Rússia tem o menor interesse em deixar passar resoluções no Conselho de Segurança que prejudiquem seu aliado. A única possibilidade de que os russos deixem de ser um obstáculo à ação internacional seria a perspectiva definitiva de derrota para Assad, ocasião na qual a Rússia poderia abandonar o ditador na esperança de manter laços com um novo governo sírio.

Uma invasão estrangeira como a ocorrida no Iraque ou no Afeganistão muito provavelmente pioraria a situação e, dada a densidade populacional das áreas em conflito, uma ação como a realizada pela Otan na Líbia – com bombardeios aéreos a alvos e comboios militares, sem tropas em solo – não seria possível. Assim, o caminho mais seguro é dar condições para que os próprios sírios derrotem Assad, com o fornecimento de recursos, armas e equipamentos aos rebeldes. Não é a solução ideal: corre-se o risco de armar grupos de extremistas islâmicos e, após uma eventual queda de Assad, seria grande a possibilidade de um conflito generalizado, inclusive com vinganças dos sunitas contra os grupos étnicos e religiosos que apoiavam o ditador. No entanto, as alternativas são ainda piores. A urgência, agora, é impedir que o regime sírio recorra às armas químicas.

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