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O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não podia ter "celebrado" de melhor maneira o Dia Internacional de Combate à Corrupção, na terça-feira passada. Em um evento organizado pela PGR, ele simplesmente pediu a substituição da diretoria da Petrobras, à luz das cada vez mais escabrosas revelações da Operação Lava Jato. "Diante de um cenário tão desastroso na gestão da companhia, o que a sociedade brasileira espera é a mais completa e profunda apuração dos ilícitos perpetrados, com a punição de todos, todos os envolvidos", afirmou, lançando, logo em seguida, o pedido de renovação da cúpula da estatal: "Esperam-se as reformulações cabíveis, inclusive, sem expiar ou imputar previamente culpa, a eventual substituição de sua diretoria, e trabalho colaborativo com o Ministério Público e demais órgãos de controle".

O governo reagiu à corajosa sugestão do procurador-geral. Assessores da presidente Dilma Rousseff disseram à imprensa que Dilma considerou "um escândalo" a fala de Janot, e que as afirmações constituíam um "julgamento político", expressão que caiu no gosto da cúpula petista desde que o mensalão chegou ao Supremo Tribunal Federal. Em público, no entanto, Dilma, que é especialmente próxima da presidente da Petrobras, Graça Foster, não disse nada. Escalou, para rebater o procurador-geral, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Aparentemente, Dilma não ficou muito satisfeita com a primeira manifestação do ministro, que teve de convocar uma entrevista coletiva para reafirmar a total confiança do Planalto em Graça Foster. "Em primeiro lugar, nós afirmamos e reafirmamos que não existem quaisquer indícios ou suspeitas que recaiam sobre a pessoa da atual presidente, [Maria das] Graças Foster, e os atuais diretores", disse o ministro.

A questão nem é a possibilidade de os atuais diretores estarem implicados nas roubalheiras envolvendo a empresa. Como já dissemos em editorial, não há, realmente, indício nenhum de que Graça Foster tenha alguma participação no esquema de corrupção e propinas, ainda que fosse diretora da Petrobras na mesma época em que alguns de seus colegas estariam cobrando um "pedágio" de 3% para aprovar contratos em suas diretorias. E nem Janot insinuou que Graça e os atuais diretores têm ou tiveram participação em esquemas ilícitos. O ponto é outro: a atual diretoria, com Graça à frente, se mostrou incapaz de fazer a limpeza que todos, inclusive o Palácio do Planalto – e isso fica cada vez mais claro – sabiam que precisava ser feita.

E as omissões começam a aparecer. Já comentamos o caso escandaloso da empresa holandesa SBM Offshore, que pagou uma multa multimilionária ao Ministério Público de seu país para escapar de um processo por oferecer propina não apenas no Brasil, mas em outros países. Graça Foster sustentou até onde foi possível a versão de que as investigações internas da Petrobras não haviam encontrado irregularidade nenhuma, mas em 17 de novembro finalmente admitiu que já sabia dos "malfeitos" desde meados deste ano – ou seja, escondeu o fato da opinião pública e, talvez, até mesmo da CPMI da Petrobras, aquele teatro encenado pelo PT e pela base aliada e que culminou em um relatório de 900 páginas que não acrescenta praticamente nada ao que o Ministério Público e a Polícia Federal vêm descobrindo.

Agora, surge a notícia, publicada pelo jornal Valor Econômico, de que uma gerente-executiva avisou Graça Foster sobre irregularidades – que incluíam a obra da Refinaria Abreu e Lima – não uma, mas duas vezes, em 2009 e 2012. A empresa, em nota, alegou ter investigado todas as denúncias da geóloga Venina Velosa da Fonseca, ex-subordinada de Paulo Roberto Costa, e que um gerente foi demitido por justa causa em 2009, embora, por razões médicas, a demissão só tenha sido efetivada em 2013. Em relação a uma outra denúncia, uma auditoria "não constatou nenhuma não conformidade no período de 2012 a 2014", diz a mesma nota. Quanto a Venina, logo após fazer as denúncias ela foi transferida para a Ásia e, em 19 de novembro deste ano, foi afastada da Petrobras.

É por todos esses fatores que a sugestão de Janot precisa ser levada a sério, e não descartada como tendo "motivação política". O governo parece ainda não ter compreendido o risco que a credibilidade da Petrobras corre e o impacto que podem ter ações como a que foi aberta na Justiça norte-americana. Essa insistência pode custar caro ao que já foi um orgulho nacional.

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