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A industrialização tardia, a manutenção da escravidão e o descaso com a educação produziram uma combinação explosiva, responsável por manter o Brasil em estado de pobreza, atraso econômico e penúria social

Na sexta-feira passada, o Brasil comemorou 190 anos de sua independência. Daqui a dez anos, quando o país chegar ao bicentenário dessa data histórica, será o caso de perguntar o que fizemos com duzentos anos de independência. Antecipando o balanço, é possível dizer que o país teve vários avanços; que saiu da pobreza total e absoluta para a condição de um país com razoável desenvolvimento econômico e social. É possível listar vários êxitos nacionais, até mesmo adotando um ar ufanista em relação à paz social, à tolerância racial e à cordialidade de um povo que insiste em ser feliz mesmo em meio a tantas carências.

Mas também é possível afirmar que, mesmo com riquezas naturais abundantes, o país não atingiu elevado grau de desenvolvimento, em parte porque alguns erros foram responsáveis pela lentidão com que o país avançou na economia e no campo social. Tal lentidão e atraso estão estampados no total de 40 milhões de pessoas pobres e 13 milhões de extremamente pobres. Como sempre, as mazelas comportam várias explicações, cada qual com seu grau de verdade e importância. No dia 7, esta Gazeta do Povo apresentou um programa que, colocado em prática, permitirá que o Brasil chegue ao bicentenário como uma nação desenvolvida. Hoje, debruçamo-nos sobre algumas causas da situação atual.

Apesar da dificuldade em obter uma explicação completa e fechada, é possível registrar pelo menos três grandes erros na história do Brasil, que figuram entre as principais causas responsáveis pelo atraso e pela demora em erradicar as mazelas sociais mais graves. O primeiro erro foi a industrialização tardia, que manteve o Brasil dependente de uma agricultura pobre e sem tecnologia, e impediu a absorção dos ganhos e das vantagens da Revolução Industrial que acontecia na Europa desde, pelo menos, a década de 1780.

Embora o grito da independência tenha ocorrido em 1822, na prática foi somente em 1844 que o Brasil construiu as primeiras bases para a industrialização, quando o então ministro da Fazenda Manuel Alves Branco baixou novas taxas de importação, elevando-as para 20% sobre produtos sem similar nacional e 60% sobre os produtos com similar nacional. Com essa proteção, que encarecia os produtos importados da Inglaterra e dava condições de competição à indústria nacional, algumas atividades industriais puderam dar os primeiros passos.

O segundo grande erro foi não ter colocado um ponto final na escravidão, para permitir o surgimento de uma classe de trabalhadores livres e assalariados necessários para o novo modo de produção nascido com a Revolução Industrial, o capitalismo. Os trabalhadores livres não somente seriam destinados a formar uma classe de operários para as indústrias, como também eram necessários também para formar uma classe de consumidores capazes de criar um mercado consumidor interno.

O terceiro erro cometido pelo Brasil – talvez o maior deles – foi não ter implantado a educação pública e gratuita para todos os brasileiros logo após a declaração da independência. Durante a colônia, a educação foi delegada à Companhia de Jesus (os jesuítas) e o poder público se omitiu completamente da tarefa. Depois de muita confusão entre o governo e os religiosos, em 1759 os jesuítas foram expulsos, e a educação acabou relegada a um plano secundário. Embora o governo tenha chamado a educação para si, o que se viu foi um tempo de lamentável estado de ignorância, com 90% da população seguindo analfabeta pelas décadas seguintes, assim continuando quando a industrialização dava seus primeiros passos.

Isoladamente, cada um desses grandes erros já seria suficiente para atrasar o desenvolvimento do país. Juntos, a industrialização tardia, a manutenção da escravidão e o descaso com a educação produziram uma combinação explosiva, responsável por manter o Brasil em estado de pobreza, atraso econômico e penúria social. A independência do Brasil cumpriu o ritual de tirar a colônia do jugo de Portugal, sem conseguir colocar o país na rota do crescimento econômico e do desenvolvimento social.

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