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Governadores e líderes rurais de todo o país foram recebidos ontem à tarde, em Brasília, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foram apelar para o último ouvido da República capaz de, se tiverem muita sorte, atender seus apelos – já que seu interlocutor natural, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, foi taxativo: todos os problemas referentes à agricultura não são inerentes à sua pasta, como câmbio, juros altos, falta de recursos, logística de transporte em portos, invasões de terra, ambiente e seca. "Nada é comigo", afirmou.

A pauta de reivindicações é ainda mais ampla do que as citadas por Rodrigues, mas não há dúvida de que todos os problemas convergem para um só: a agricultura precisa de lucro para sobreviver, pois ninguém trabalha para acumular prejuízos. Como o preço de venda dos produtos agrícolas está muito abaixo do custo de produção, os produtores acumulam dívidas estratosféricas, quase impagáveis. Portanto, a questão central a ser resolvida diz respeito à recuperação dos preços, o que – para não complicar muito – poderia, por exemplo, ser obtido por meio da mais usual das medidas de que o governo dispõe, isto é, a de utilizar os instrumentos legais de garantia de preços mínimos.

Já que o assunto não é da competência do ministro da Agricultura, os produtores colocaram então sua última esperança sobre os ombros do próprio presidente. Convenhamos que se trata de uma esperança vaga. Por uma simples razão: dedicado até o último fio de barba à campanha pela reeleição, não convém a Lula, neste momento, ceder aos produtores em qualquer medida que redunde em aumento do custo de vida.

O raciocínio é simples: um dos êxitos alardeados pelo governo é o fato de a cesta básica estar apresentando o mais baixo preço da história. Portanto, estimular a alta dos produtos que a compõem poderá equivaler a uma corresponde alta da cesta, o que é politicamente inconveniente para quem precisa de muitos votos urbanos para permanecer no Palácio do Planalto mais quatro anos.

É claro que a recusa em restabelecer a rentabilidade mínima para a agricultura aprofundará o terrível processo de desmanche que o setor está sofrendo. As conseqüências serão por demais danosas para o futuro – mas o que importa agora é o efeito eleitoral imediato que a omissão garantirá. O desmanche será sentido logo na forma de aceleração do êxodo rural, do desemprego, do empobrecimento do interior do país, na queda vertiginosa da produção e pela obrigação de o país ter de voltar a importar alimentos.

Ninguém continuará produzindo, por exemplo, milho, arroz, soja, feijão ou trigo... Uma saca de milho custa na lavoura R$ 16,00, mas o agricultor não consegue vendê-la por mais de R$ 8,00. A soja custa R$ 28,00, mas o mercado só paga R$ 16,00. A situação se repete com o arroz, de R$ 28,00 para R$ 17,00, e assim por diante. Na média, os custos de produção estão superiores em 25% em relação aos preços de venda.

Quem há de pagar suas dívidas? Quem há de investir em máquinas e em tecnologia para produzir mais e melhor? Quem há de pagar salários regionais valorizados acima da condição econômica, como ocorre no Paraná?

Esta é a realidade da agricultura brasileira – que, sim, com muita razão, reclama do câmbio, do clima, dos juros, da falta de financiamentos, do transporte precário. Todos esses fatores deprimem os preços, reduzem ou eliminam a competitividade, aumentam o endividamento, desestimulam a produção. Vítimas da insensibilidade do governo, fizeram ontem seu último apelo.

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