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 | Gabriel Jabur/Agência Brasília
| Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília

O Brasil não está fadado a ser o país do futuro que nunca chega. Com o diagnóstico correto, a vontade de enfrentar gargalos estruturais e lideranças políticas capazes de inspirar a população e negociar com o Congresso para promover as reformas necessárias, o país tem plenas condições de reencontrar a trilha de seu desenvolvimento. É com o espírito de contribuir para isso que o Insper, a consultoria Oliver Wyman e a PUC-Rio lançam a série “Panorama Brasil”, uma coletânea de artigos sobre os principais desafios enfrentados pelo país, com base em extensa revisão bibliográfica e apoio em dados sobre diversas áreas. A iniciativa é louvável e tem muito a contribuir para o debate público que se queira sério neste ano eleitoral.

O primeiro artigo, lançado no final de abril, tem como tema “Renda e Produtividade nas Últimas Décadas” e não deixa dúvidas: o Brasil é um país de renda que cresce pouco, atrasado em relação mesmo aos mercados emergentes. No centro deste atraso relativo está a estagnação da produtividade, drenada pela má qualidade de educação, infraestrutura, ambiente de negócios e pelo protecionismo comercial.

Alguns dados são acachapantes – nenhum é inédito, mas em conjunto sua força é maior – e ajudam inclusive a desfazer ilusões sobre o passado recente, fomentadas pela retórica do “nunca antes na história deste país”. Entre 1994 e 2016, o Brasil foi o que menos cresceu entre os países e grupos comparados. O Produto Interno Bruto (PIB) per capita – a soma das riquezas produzidas em um ano dividida pela população – cresceu 31,4%, ante 37,4% da América Latina, 42,3% da OCDE e 152,2% dos mercados emergentes, puxados por China e Índia.

Opinião da Gazeta: Um novo Brasil (editorial de 25 de novembro de 2017)

O alerta do estudo, com base nesses números e corroborado pelas análises mais sérias, é de arrepiar os cabelos: mantido esse ritmo de crescimento, o Brasil levará 31 anos para alcançar a renda per capital do Uruguai, 38 anos para alcançar a do Chile e mais de um século para chegar aos níveis dos Estados Unidos.

A produtividade não virá sem educação de qualidade, abertura comercial, reforma tributária e desburocratização das relações empresariais e trabalhistas

Mesmo as tão faladas conquistas sociais devem ser colocadas em perspectiva. Entre 1994 e 2015, o Brasil reduziu de 16,5% para 4,3% a quantidade de brasileiros abaixo da linha da pobreza, seguindo de perto a tendência da América Latina. Ocorre que os demais emergentes, puxados pela China, reduziram essa mesma cifra em seus territórios de 33% em 1997 para 3,4% em 2013. Em relação à desigualdade, medida pelo índice Gini, o Brasil de fato apresentou melhora relativa – queda de 14% entre 1994 e 2015 –, embora tenha acompanhado a tendência de redução na América Latina e, em menor grau, nos demais países emergentes.

Um dos aspectos que mais chama atenção é que, mesmo tendo crescido o número médio de anos de escolaridade do brasileiro, esse crescimento não foi acompanhado por um incremento na qualidade da educação – continuamos entre os piores países do mundo, segundo as medições do Pisa. Isso torna a discussão sobre modelos educacionais e eficiência dos investimentos nessa área uma das mais urgentes do calendário eleitoral deste ano.

Mas há outros fatores que entravam o desenvolvimento brasileiro, estagnando a chamada Produtividade Total dos Fatores (PTF) mesmo em face do incremento relativo em capital físico – embora se deva dizer que o país ainda carece de infraestrutura minimamente adequada, estando bem atrás de países como México, Turquia e Chile – e em capital humano por trabalhador.

Opinião da Gazeta: Investimento e crescimento econômico (editorial de 06 de março de 2018)

Para ficar apenas no diagnóstico do relatório, é possível citar como entraves ao desenvolvimento o ambiente de negócios, a eficiência da alocação de crédito, a gestão empresarial e o protecionismo comercial. Esse último aspecto é um dos mais gritantes na comparação: em números de 2016, a soma do valor de importações e exportações do Brasil alcançava 25% do PIB, ante 44% dos mercados emergentes, 59% da América Latina e 76% da OCDE.

Ironicamente, um dos maiores ganhos relativos que o Brasil teve nas últimas décadas, o aumento da expectativa de vida, aumenta os desafios diante de nós. Em cerca de duas décadas, seremos um país envelhecido. Por isso, antes de tudo, é preciso reformar a previdência e conter a trajetória ascendente dos gastos públicos. Mas é preciso ir além: o desenvolvimento do país passa, invariavelmente, pelo ganho de produtividade, que não virá sem educação de qualidade, abertura comercial, reforma tributária e desburocratização das relações empresariais e trabalhistas.

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