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De todas as verdades brasileiras, a mais sólida e a mais repetida é a de que só a educação salvará o país. A máxima pode sair da boca da mais humilde das retirantes e do mais graduado dentre os doutores. À revelia de nossos inúmeros fracassos – boa parte deles em sala de aula – temos a alegria de que pelo menos num ponto concordamos: hasteamos a bandeira da educação com a facilidade de quem cantarola uma canção. Daí a importância e a admiração creditada aos secretários e ministros da pasta do ensino: eles são nossos vices de fato.

Não raro, muitos deles se aproximam em importância dos próprios gestores masters. Fernando Haddad – apesar do fado desvairado em que se tornou o Enem – vai ser sempre uma das melhores faces do governo Lula. Nós, paranaenses, ainda lembramos com ego inflado a passagem de Ney Braga pelo Ministério da Educação, deixando estar suas torpes vinculações políticas. E nas raias municipais, impossível esquecer os feitos da economista Eleonora Fruet, líder de 47% do funcionalismo de Curitiba e uma das líderes mais cintilantes da gestão Beto Richa.

Maurício Requião – secretário de Educação na maior parte do governo que agora acaba – também merece seus senões e confetes. Há professores que defendem a dimensão inclusiva e o sentido cívico da era Maurício. E quem profira, com a mesma ferocidade, que seus feitos não foram conhecidos e festejados porque ninguém os mostrou. É possível. Por "ninguém", entenda-se a imprensa, acusada de ter ferido o governo anterior no que tinha de mais nobre: o apreço pelas escolas. Virou uma guerrilha particular. Não poucas vezes, entrevistas dadas legitimamente por professores foram desmentidas na TV Educativa, açodando a relação entre mídia e instituições de ensino. O intuito de colocar a escola na redoma, no conforto das tevês laranja e a salvo da crítica, inaugurou um dos períodos mais obscuros do setor.

Trata-se de uma dessas histórias sem fim, pois não se sabe exatamente onde ela começa. Não restam dúvidas que os bons feitos de Requião, o irmão, hão de vingar. Pelo menos é essa a esperança que faz a maioria levantar da cama todos os dias. Mas é fato também que a secretaria se ocupou pouco de dialogar e mostrar para a sociedade – via imprensa, inclusive – a propalada proficiência de seus feitos, gozando agora do anonimato que para si reivindicou. Preferiu, como alguns outros setores do governo Requião, o pé-atrás, a defensiva e, muitas vezes, os préstimos da posição de vítima. Com as vitimas não há quem possa.

O saldo é que o que se sabia dos feitos da Secretaria de Estado da Educação vinha de contrabando, dado em ciciados por alguma professora temerosa de ser punida por exercer o que é de direito de quem ensina: falar. Em paralelo ao silêncio medieval, muitos diretores e docentes, é fato, tomaram como modelo a casmurrice de Maurício – o secretário invisível – e os arroubos temperamentais do governador, mimetizando-os feito escolares do Jardim de Infância. Difícil encontrar um jornalista que, no último governo, tenha batido na porta de uma escola pública sem ouvir a máxima das máximas das piores ditaduras: "Imprensa aqui não entra."

Pouco informada sobre esses espaços onde habitam nossas grandes esperanças, muitos dentre a população se esqueceram de velar pelas escolas. É contra essa cortina de ferro que o novo secretário de Educação deve investir munição pesada. O prédio da Avenida Água Verde – cuja fachada lembra os ternos ginásios de antigamente –, todo pintado de quadros coloridos, não transpareceu a alegria que tenta ostentar. O que, diga-se de passagem, é um mal anterior ao próprio Maurício.

Vale uma pesquisa junto aos professores: inúmeros declararão que vêm de ontem e de anteontem a impaciência e a arrogância de alguns técnicos da Seed. O mal-estar que a secretaria representa na vida de quem enfrenta a lavoura da sala de aula precisa ter fim, sob pena de não sobrar respeito e afeto pela instituição que deveria ser a casa do professor.

Os escândalos deste segundo semestre – envolvendo um sumidouro de documentos e uso abusivo de verbas para viagens –, confirmam que alguma coisa está fora de ordem.

A tarefa do novo governo, como se vê, é uma lenha. Mas cabe escrita num quadro negro. A escola é pública e nada mais desejável de que seja vista e vivida pela sociedade com a mesma intensidade que o futebol e a arte. Estamos na linha de passe: empresários, igrejas, famílias, gestores precisam empenhar seu compromisso com a educação. Que nenhum supermercado, templo ou condomínio seja erguido sem o compromisso com a escola da frente. Que a Seed alinhave essa costura da escola com o mundo.

Em miúdos, qualquer um que tenha experimentado a solidão de uma sala de aula sabe do que se trata. Tão ruim quanto a escola em silêncio, tutelada e infantilizada é a sociedade que nega seu braço depois de dizer, como quem assobia ou chupa cana, que só a educação pode nos salvar. Ora veja.

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