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A Venezuela viveu na madrugada de ontem um novo dia de protestos contra as arbitrariedades do governo de Hugo Chávez. Depois de suspender o sinal de emissoras de tevê da oposição que se recusaram a pôr no ar seu pronunciamento à nação, o governo foi criticado em atos públicos realizados em Caracas e Mérida, ambos duramente reprimidos. Em Mérida, dois jovens manifestantes, um de apoio e outro de oposição ao governo, morreram. A dureza da ação policial tem o objetivo de demover os que repudiam o governo e, graças a ela, as manifestações de reação às decisões do Executivo ainda têm proporções pequenas demais para que se possa antever mudanças no país.

Apesar de Chávez contar com o poder de repressão policial para conter os insatisfeitos, há sinais de esgotamento do arsenal de truques de que ele se utiliza para manter em alta a popularidade que garante sua permanência no poder pelo voto – em um modelo que é apenas aparentemente democrático. As expropriações recorrentes afugentam os investidores e desestimulam os jovens com espírito empreendedor. O confisco vem, muitas vezes, acompanhado de uma ironia nada fina. O hotel expropriado na capital recebeu o nome de Alba Caracas, em referência ao que os chavistas chamam de Alternativa Bolivariana à Alca. O prédio construído em Caracas para ser um shopping da rede Sambil, e confiscado às vésperas da inauguração, em novembro, deve ser transformado em um comitê chavista.

Em meio à insegurança jurídico-econômica, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou uma queda de 2,9% em 2009, um cenário improvável, apesar da crise, para um país que tem petróleo em abundância. A má gestão levou a Venezuela a enfrentar, no ano passado, a escassez de energia. A crise energética chegou ao auge no início deste ano, com a implantação de um rodízio de cortes programados. O desabastecimento visível nas prateleiras dos supermercados só fez aumentar com a maxidesvalorização do bolívar forte, anunciada logo no início do ano. As autoridades admitiram que a medida aumentaria a inflação mas, contraditoriamente, passaram a punir os comerciantes que repassaram os aumentos.

Na segunda-feira, o governo de Caracas sofreu um revés político: a demissão do vice-presidente, Ramón Carrizález, e da ministra do Meio Ambiente, Yuribí Ortega, mulher deste. O casal alegou razões pessoais para o afastamento. A perda do aliado po­­de não ter grande impacto sobre Chávez, mas o quadro de instabilidade econômica começa a afe­­tá-lo. Com comida e energia faltando, mesmo a po­­pulação mais despolitizada, grata a Chavez por sua generosa política assistencialista, começa a questionar-se sobre o futuro. É uma preocupação ainda sutil. Mas, a dois anos da próxima eleição, Chávez já não tem pela frente o horizonte azul dos tempos de abundância de recursos.

Desde que assumiu o poder, Chávez fez de tudo para matar os impulsos empreendedores dos venezuelanos, tornando-os o mais dependentes possível da boa vontade estatal. Agora, o caudilho pode ser vítima da própria política. Afinal, a distribuição farta de benefícios depende de uma economia ativa que só é possível com um ambiente de liberdade e democracia.

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