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O segundo turno da eleição presidencial não chega a ser inusitado, pois as pesquisas já apontavam a possibilidade de isso acontecer, entretanto, tal fato proporciona a chance para que seja aprofundado o debate sobre os rumos que o país deve tomar para a geração de riquezas e bem-estar da população. Como até o momento praticamente inexistiu confronto de ideias entre os principais presidenciáveis – Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) –, o segundo turno será uma grande oportunidade para saber o que pensam e o que pretendem no caso de vitória nas urnas.

Se de um lado o segundo turno permite ao eleitor aprofundar seu conhecimento sobre como pensa Dilma Rousseff, de outro, é a chance de a oposição ao governo corrigir seus erros durante a campanha e assumir um papel realmente oposicionista, pois o que se viu até hoje por parte de José Serra foi uma tentativa de evitar ao máximo um confronto direto com a figura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O PSDB tem agora a chance de se mostrar como alternativa viável ao projeto que o PT vem apresentando ao país.

A queda de Dilma, que acabou por conduzir a eleição ao segundo turno, indica que temas sensíveis a parte do eleitorado afetaram a decisão de voto. De um lado, especialistas em análise eleitoral acreditam na migração de eleitores evangélicos para Marina Silva (PV), devido à ampla divulgação na internet de opiniões de Dilma a respeito do aborto. De outro, há quem veja o recuo dos eleitores por causa das denúncias recentes de tráfico de influência envolvendo familiares da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra e a quebra de sigilo envolvendo dirigentes do PSDB nacional – entre eles Verônica Serra, filha de José Serra. Mas as causas do segundo turno não são tão importantes quanto o que ele pode representar em termos de legitimidade para governar e de aprofundamento do debate de políticas públicas para o país.

O fato é que até agora tivemos apenas simulações de debates entre Dilma e Serra. Nenhum dos temas de grande relevância, em especial as reformas necessárias para o crescimento do país, foi verdadeiramente debatido. O segundo turno traz a possibilidade de se reduzir a pobreza dos debates políticos que ocorreram no primeiro. Pode-se conhecer mais e melhor ambos os candidatos e entender os postulantes à Presidência da República.

Afinal, o novo presidente terá como o grande desafio nos próximos quatro anos realizar as reformas necessárias que vêm sendo adiadas há tempos – no âmbito político, tributário, da previdência e do trabalho. Tais reformas têm vital importância na correção de distorções das instituições e no desenvolvimento do país. No plano da transparência pública e das liberdades civis, espera-se o compromisso dos dois candidatos com a abertura dos dados do governo à sociedade, a votação do projeto de lei de acesso à informação pública, assim como o respeito incondicional às liberdades de expressão, informação e opinião, constantemente ameaçados no continente latino-americano. Quanto a esse último aspecto, ressalte-se que tanto Dilma Rousseff quanto José Serra assinaram neste ano o compromisso contido na Declaração de Chapultepec, documento que coloca a imprensa livre como condição fundamental para a solução de conflitos e promoção de bem-estar da liberdade.

Espera-se que esse compromisso seja cumprido, pois imprensa livre é essencial para a democracia. Vale lembrar que uma série de escândalos marcou os oito anos de governo Lula, tanto no Poder Executivo, quanto no Poder Legislativo: mensalão, atos secretos do Senado, farra das passagens aéreas nas duas casas do Congresso Nacional e, os mais recentes, quebra de sigilo fiscal de dirigentes tucanos e denúncia de tráfico de influência envolvendo familiares da ex-braço direito de Dilma Rousseff e ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra. E a imprensa livre foi quem desempenhou importante papel fiscalizador em todos esses casos.

No âmbito estadual, a vitória de Beto Richa (PSDB) ao governo no primeiro turno desta eleição coloca o tucano como referência nacional da oposição, junto com políticos como Aécio Neves e Alvaro Dias. Com isso o ex-prefeito de Curitiba assume uma posição de destaque no decorrer do segundo turno da eleição para presidente da República como importante cabo eleitoral do candidato José Serra. Beto Richa cresce politicamente, ainda mais por ter vencido o candidato de Lula, o senador Osmar Dias (PDT), interrompendo uma sucessão de êxitos que o presidente vinha tendo em alavancar candidaturas de aliados políticos.

Num momento em que a oposição precisa rever estratégias e posicionamentos para conduzir sua campanha no segundo turno, Beto Richa pode ser visto como uma liderança de expressão, pois a partir de 1.º de janeiro passa a governar um estado que é o sexto maior colégio eleitoral do Brasil, com 7,6 milhões de eleitores. A densidade política do governador eleito deve aumentar ainda mais em nível nacional no próximo ano, quando começam as articulações para as eleições municipais de 2012.

Após ter batido nas urnas seu principal adversário, o tucano terá a difícil tarefa de romper o modelo de gestão que há duas décadas perdura no Paraná. Como observou a Gazeta do Povo na reportagem "Um estadista é do que os paranaenses precisam", publicada neste domingo, Beto Richa precisará melhorar sua articulação política perante o governo federal, a fim de ampliar o volume de recursos de transferências feitas pela União, assim como precisará viabilizar um plano de investimentos da ordem de R$ 6,8 bilhões, para atender às demandas de infraestrutura do estado.

Um segundo aspecto será melhorar a gestão de recursos do orçamento do Paraná, a fim de que gastos com pessoal não fiquem tão próximos do limite imposto pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Ao mesmo tempo, se observa a necessidade de que o modelo de desenvolvimento do estado se paute pela sustentabilidade, recuperação do meio ambiente e redução das desigualdades regionais. É de se esperar também que o novo governador amplie os movimentos dados pelo governo anterior com o intuito de tornar mais transparentes dados públicos acerca de gastos e de alocação de recursos humanos, assim como de diversas áreas da administração.

Por fim, um último aspecto a ser considerado, trata-se da segurança pública, área com mais problemas no Paraná, conforme pesquisa feita pelo Instituto Paraná Pesquisa. Segundo o levantamento, é na área de segurança pública que os paranaenses consideram existir mais problemas hoje. Também pudera, o número de homicídios no Paraná aumentou 33,5% de 2007 a 2010, registrando-se 1.795 mortes violentas. No mesmo período, o número de veículos roubados aumentou em 23,6%. A segurança pública deverá receber atenção especial do governador, pois corre-se o risco de o estado ficar desacreditado em uma área que deveria ser de sua integral responsabilidade.

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