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Quando instituições entram em crise, como é o caso da Assembleia Legislativa do Paraná, imersa no lodaçal de denúncias de irregularidades indesculpáveis, é importante que a sociedade supere logo o espanto e levante sua voz contra o desmando. O silêncio da maioria e a inércia das demais instituições sobre as quais pesa a responsabilidade de fiscalizar e adotar medidas de repressão e punição dos que se acharem criminosamente envolvidos nos desvios só fazem com que prospere a impunidade e se repitam indefinidamente vergonhas como as retratadas pela série "Diários Secretos" levada ao público pela Gazeta do Povo/RPC TV.

A omissão não faz bem à democracia. O debate e a mobilização, ao contrário, são essenciais para o aperfeiçoamento do regime e das instituições que as mantêm de pé. Por isso, é extremamente salutar não apenas que organismos como o Ministério Público e a Polícia Federal promovam profunda investigação como, também, que vozes autorizadas e respeitáveis se pronunciem, opinem, exijam providências – como o fizeram na semana que passou a Ordem dos Advogados do Brasil/PR e o Partido Verde.

A tais vozes se junta agora a autoridade moral de um senhor na casa dos 80 anos, com uma experiência acumulada na vida pública e na gestão dos mais importantes desafios paranaenses e brasileiros – o engenheiro Karlos Rischbieter, um catarinense que fez do Paraná a terra do seu coração. Ex-presidente do Banco do Brasil e ex-ministro da Fazenda num dos momentos mais conturbados da política e da economia nacional, foi também presidente do Banco de Desenvolvimento do Paraná (Badep), sob cuja direção o estado deu início ao seu grande processo de industrialização. É deste período o nascimento da Cidade Industrial de Curitiba e a atração de empresas do porte da Volvo e da Bosch.

Rischbieter, exemplo de competência técnica, probidade e de seriedade, suspende por um momento o recolhimento dos últimos anos para dedicar-se ao que mais gosta – aos livros e à música – e vem agora a público com a entrevista da página 22 desta edição para analisar com pertinência, serenidade e abalizada opinião o que sucede nos dias de hoje no Brasil e no Paraná no campo da ética nas instituições.

A entrevista leva-o de imediato à comparação: a corrupção de hoje é mais grave e mais ampla do que nos tempos em que exerceu funções públicas? A resposta é não. A corrupção nem é exclusiva do Brasil e nem é maior do que no passado. A diferença está na combinação da democracia com a tecnologia moderna, diz ele. O conhecimento público e a repercussão de casos como o protagonizado pelo ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, o único governador na história brasileira preso no exercício do poder, só foram possíveis graças à conjunção desses dois fatores – uma simples câmera escondida e a liberdade de imprensa que hoje vigora. Foi o que bastou para que o mar de lama se revelasse por inteiro.

Foi graças também à tecnologia, aos recursos da informática principalmente – inexistentes há uns poucos anos – que o trabalho de alguns bons jornalistas e de veículos de comunicação que veem nas liberdades democráticas a oportunidade de honrar o seu papel social desnudou o esquema de corrupção vigente na Assembleia Legislativa do Paraná. "São várias coisas muito assustadoras. No mínimo, é uma desorganização muito forte. No máximo, é crime", sublinha Rischbieter.

O ex-ministro apela para a quebra do silêncio da sociedade paranaense. "Todos temos o direito de saber o que está acontecendo. A culpa coletiva é sempre um perigo muito grande, separar o joio do trigo é importante, mas cabe à Justiça fazer isso. Não podemos deixar que esse assunto seja enterrado. Toda a sociedade civil pode ajudar nisso, senão a culpa será nossa."

Dito isto, complementa a inquietação: "Fico triste porque não vejo associações de classe se manifestando, sindicatos, organizações. Cadê a Federação das Indústrias do Paraná? A Federação da Agricultura? Essas entidades fortes têm de se manifestar contra ou a favor, mas não podem ficar caladas."

Por fim, Karlos Rischbieter faz o alerta contra o que define como "sentimento da pizza" – aquele resultado pífio (ou nenhum!) que, no país da impunidade, geralmente acompanha as CPIs e as investigações sobre os mais escabrosos fatos da vida pública nacional. Mas não perde a esperança no trabalho da Polícia Federal e do Ministério Público – embora veja que a solução está dentro da própria Assembleia Legislativa, a quem, em primeiro lugar, compete depurar seus próprios defeitos.

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