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Um ano após ser restaurado, o Bondinho da Rua XV amanheceu pichado no sábado (09), em mais um caso de vandalismo de equipamentos públicos de Curitiba. Referência turística da cidade, o Bondinho está no mesmo lugar há 41 anos e já foi alvo ação de vândalos.

No início de 2015, o Museu Guido Viaro também sofreu com o vandalismo. As paredes construídas na década de 1930, foram marcadas por símbolos azuis e pretos. Além das pichações, o prédio foi invadido e teve duas telas furtadas. Dias depois, as obras foram abandonadas em frente do Museu. Não era a primeira vez que o local sofria com a depredação– sete outros casos de pichação lá ocorreram durante os 12 meses anteriores. Apesar de os autores de tais atos imaginarem que fazem arte, a pichação e o vandalismo de patrimônio público ou privado é sempre condenável, além de ilegítima forma de expressão.

Pichação não é expressão nem protesto– mas mero vandalismo

Muito além da já desgastada discussão se é possível ou não considerar a pichação como uma forma de arte, muitos intelectuais infelizmente glamourizam esses atos de vandalismo, corroborando com o distorcido entendimento que os próprios pichadores têm sobre os limites da expressão política. Para se ter ideia do tamanho equívoco conceitual que povoa o imaginário de parte desses vândalos, na época em que o Museu Guido Viaro foi depredado, um dos pichadores responsáveis afirmou que o local foi escolhido para ser “ato de protesto” e, para garantir a repercussão, o grupo resolveu furtar duas telas.

Após o fato, um manifesto chegou a ser publicado nas redes sociais, defendendo a ação e chamando os responsáveis por ela de artistas combativos e autodidatas”, e que a pichação – ou pixo, como preferiram na ocasião – seria um “protesto na rua”, com uma “linguagem agressiva” e que “não quer ser domesticada”. Segundo os autores do manifesto considerar a pichação uma ação criminosa seria “típico do cinismo a que pode chegar um processo segregacionista, elitista e racista da cidade, criminalizando a população que foi roubada (em inúmeros sentidos) por gerações”.

Tais argumentos lembram muito aqueles usados pelos defensores da estratégia black blocs, que prega o uso da violência e da depredação como forma de protesto. Embora a violência dos pichadores aconteça apenas contra o patrimônio (público e privado), não há como negar que a lógica é a mesma. Quando se trata de expressão política, de protesto, tudo seria permitido, mesmo quando inclui a transgressão à lei e a violação do direito dos outros.

Essa lógica deturpada é perigosa. Mesmo que o fim almejado fosse nobre – e no caso dos pichadores é difícil identificar exatamente o que objetivam – já está provado que o argumento de que os fins justificam os meios não é defensável. Contudo, mais assustador ainda que a existência de defensores dessa ideia é a facilidade com que esse discurso é aceito, inclusive nos meios intelectuais, só com dificuldade encontrando quem tenha coragem de contradizê-lo.

Voltando um pouco no tempo, no caso dos pichadores que invadiram a Bienal de São Paulo em 2008, por exemplo, a ação de vandalismo acabou sendo “premiada”. A Fundação Cartier convidou o grupo para uma exposição em Paris e na Bienal de 2010 eles foram convidados a participar. O mesmo reconhecimento foi dado aos black blocks, que durante a onda de protestos anti-Copa em 2013 foram recebidos pelo governo Dilma como se fossem legítimos representantes da sociedade, o que nunca foram.

É preciso perder o medo de dizer o que as coisas são de fato. Pichação, feita à revelia do proprietário do imóvel, que causa dano a um bem público ou privado, não é expressão nem protesto– mas mero vandalismo. Existem formas legítimas de expressar posições políticas, protestar e reivindicar. Mas todas elas devem se guiar pelo respeito ao outro, pela defesa dos direitos fundamentais de cada cidadão, o que inclui a preservação dos espaços públicos e do patrimônio, tanto público quanto privado. Quando se deixa esse respeito de lado, se está a caminho da barbárie.

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