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Curitiba vive momentos de grande tensão e medo com a violência em ondas crescentes. Não bastasse a escalada do crime pela disputa de pontos de venda e áreas de distribuição de drogas, depara-se o cidadão com os criminosos ao volante e, agora, com a insegurança nos dias de futebol, notadamente nas rodadas em que há o tradicional clássico Atletiba. O que se resumia, décadas atrás, a pequenos incidentes nas arquibancadas ou na saída dos estádios, geralmente contornados por policiais e até mesmo por torcedores mais conscientes, hoje se apresenta como algo fora de controle, desafiando a tudo e a todos.

Em razão do último Atletiba, apesar das campanhas de paz, a cidade se viu mergulhada em um labirinto da truculência e de fúria. As medidas já adotadas e até mesmo as que estão sendo sugeridas, como a de Atletibas liberados apenas para uma torcida, são mais tentativas do que efetiva esperança de um retorno à convivência civilizada, de respeito mútuo.

Por enquanto, conforme a reunião realizada na quarta-feira entre representantes da Polícia Militar, Ministério Público e integrantes das torcidas organizadas de Atlético e Coritiba, a proposta de uma só torcida foi descartada. Isso porque chegou-se à conclusão de que o maior problema não está na Arena da Baixada ou no Couto Pereira, mas fora dos estádios. Não resta dúvida de que é preciso agir, tomar providências, encontrar saídas. Mas qual a resposta adequada ao barbarismo que desfila pela cidade antes e depois dos jogos? A PM admite rever a atual estratégia, partindo para um cerco aos vândalos. Dará início à identificação dos torcedores e, com o apoio dos chamados comandos, ou seja, as subdivisões das torcidas organizadas, pretende elaborar uma lista com os nomes dos infratores.

A identificação dos torcedores pode levar a alguns resultados, mas não é a resposta final. Tomemos com exemplo o que ocorre no trânsito. Com o atual modelo da Carteira Nacional de Habilitação e a aparato tecnológico, os motoristas podem ser identificados e rastreados pelas autoridades com grande facilidade. Nem por isso, no entanto, temos uma legião de motoristas responsáveis, cientes de seus deveres, respeitadores das normas e leis de trânsito.

Ao volante, com o anonimato decorrente da massificação, muitos motoristas dão vazão aos piores instintos humanos. Não raras vezes, o estopim desse comportamento está nas drogas ou no consumo exagerado de bebidas alcoólicas. O mesmo se dá com os bárbaros travestidos de torcedores. A vigilância e a repressão dos abusos são importantes, mas não dão conta de banir a violência porque não vão ao cerne da questão.

O movimento que toma o futebol como pretexto para a desordem é produto emblemático de um tempo marcado pela impaciência com a diversidade e pela inabilidade de partilhar espaços coletivos. Desaprendemos a conviver. Da obsessiva afirmação da nossa individualidade, nasce a miopia para enxergar o outro. Numa palavra, o que nos falta é civilidade.

Por isso, além de mecanismos de coerção, precisamos investir também na conscientização – uma tarefa que não é de uma instituição apenas, mas de toda a sociedade. No apelo à civilidade e na valorização do próximo é que reside a esperança de paz. No trânsito ou no entorno dos estádios.

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