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A estudante Gabrielle Rodrigues, de 16 anos, mora no Atuba de Colombo. Da porta de casa, enxerga Pinhais, que fica logo ali, do outro lado da rua. E poucos metros adiante, depois da ponte, está Curitiba, também ao alcance dos olhos da adolescente. Para ela – certamente como para milhares de outros habitantes das divisas – a discussão sobre até onde vai cada cidade da região metropolitana (RMC) não faz o menor sentido. "É uma coisa só", diz. Para ela, assim como para milhares de vizinhos, passar de uma área para outra é tão simples como ir do Capão Raso ao Novo Mundo.

Por incrível que pareça, a opinião de especialistas que se debruçam sobre o fenômeno das conurbações – essa massa formada por diversos municípios – não difere muito do que diz Gabrielle, entrevistada em matéria sobre a região metropolitana de Curitiba (RMC) publicada na Gazeta do Povo de domingo ("Viagem a Gotham City"). É o caso do geógrafo Francisco Mendonça, professor da UFPR e estudioso de questões urbanas.

Para o geógrafo, o mapeamento da RMC tem de ser revisto, pois não responde mais às exigências de uma área onde moram 3,1 milhões de pessoas. "As cidades formam uma massa só. Os gestores dessas regiões têm deveres em comum", declarou à reportagem, referindo-se aos muitos pontos em que Curitiba se confunde com suas vizinhas. E vice-versa.

À revelia de suas implicações, o tema encontra pouco entusiasmo na sociedade e nos círculos políticos. Não é difícil entender por quê. Para o curitibano médio já é difícil admitir a existência de 258 favelas da capital. Que dirá ter de se ocupar das relações pouco amistosas da cidade grande com lugares pouco lembrados, como Contenda ou Itaperuçu. Quanto aos políticos, uma gestão intermetropolitana implicaria quase nascer de novo. Em vez de pensar no seu próprio umbigo e numa provável reeleição, os prefeitos e vereadores teriam de projetar sua ação para além da aldeia que representam.

Para vencer a mentalidade municipalista, só há uma saída: inteligência política e respeito aos princípios participativos do Estatuto da Cidade. A administração algo isolada e mesquinha, que por ora vigora, equivale a um tiro no pé. Como diz o secretário municipal de Assuntos Estratégicos, Domingos Caporrino Neto, um rio não escolhe a cidade na hora da enchente. O mesmo raciocínio vale para outros problemas em comum – particularmente os que fazem do Pólo Metropolitano, ou Primeiro Anel, uma zona de conflito.

A dizer, o pólo é formado por Almirante Tamandaré, Araucária, Campina Grande do Sul, Campo Largo, Campo Magro, Colombo, Curitiba, Fazenda Rio Grande, Pinhais, Piraquara, Quatro Barras e São José dos Pinhais. Entre essas 12 cidades circulam diariamente cerca de 200 mil pessoas para estudar e trabalhar, a maioria na direção da capital. É um exército de mão-de-obra que ajuda a Curitiba a ser o que é, o que não basta para que ela supere uma de suas doenças crônicas – a dificuldades de dividir suas conquistas.

A cidade, sabe-se, cresceu e se desenvolveu de forma narcisista. Olha-se no espelho e se enxerga como modelo. Mas não é de hoje que vê seus ganhos mirrarem em meio aos impasses com a vizinhança. "Não é clichê dizer que esses municípios são uma outra Curitiba. Que uma alimenta a outra. É a pobreza da RMC que faz a capital ser o que ela é. Só que a situação mudou. À pobreza se soma a violência", explica o historiador Dennison de Oliveira, da UFPR.

É o nó da questão. Com a violência, reduziram-se ainda mais as distâncias entre a capital e as cidades próximas. Acabou o faz-de-conta. Por mais que esse debate seja deixado em banho-maria, está próximo o dia em que assuntos metropolitanos vão ter de sair da lista de questões extraordinárias para se tornar o prato do dia. Qualquer dúvida, é só fazer uma visitinha para a jovem Gabrielle. Ela sabe do que é feita a RMC.

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