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Meio ponto porcentual. Esse foi o tamanho da redução da taxa oficial de juros decretada pelo Banco Central semana passada, fixada agora no ainda estratosférico patamar de 18%. A decepção foi geral. Dos críticos internos e externos da política econômica do governo Lula aos técnicos e empresários, todos acreditavam que, diante da crescente pressão geral, o Comitê de Política Monetária (Copom) se mostrasse menos irredutível e aplicasse um índice de queda de pelo menos um ponto, considerado inofensivo ao esforço de manter a inflação sob controle.

Na verdade, a conservadora posição do BC mais pareceu o resultado de uma birra, uma demonstração de força contra os críticos – uma espécie de "vamos ver quem manda mais" – especialmente endereçada à ministra Dilma Roussef, que atiçou o fogo amigo no âmago do governo, aos ministros "desenvolvimentistas" e ao Partido dos Trabalhadores (PT), que dias antes manifestou-se oficial e duramente contra o rigor empreendido pelo Ministério da Fazenda e pelo Banco Central.

É certo que são diferentes as motivações das facções contrárias ao arrocho dos juros e à intenção de projetar superávits primários maiores. Uns estão de olho na eleição do ano que vem. Diminuir o superávit e abrir o cofre para investir em obras fazem parte da caixa de tentações eleitorais de que pretendem fazer uso os partidários da reeleição de Lula – incluindo o próprio. Já a queda mais acelerada dos juros tem o sabor de sugerir aumento de renda e de consumo, algo de que o eleitorado gosta muito.

Para outros, como os ministros do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, e da Agricultura, Roberto Rodrigues, a motivação é refletir uma causa mais nobre e responsável, objeto da angústia do empresariado e da absoluta maioria dos analistas. Todos estão convictos de que, com juros altos, sobrevalorização do real, investimentos públicos nulos e desestímulo geral aos empreendimentos, a economia nacional tem tudo para manter em 2006 o mesmo pífio crescimento que apresentou em 2005.

A grande questão que se coloca, qualquer que seja a motivação que venha a inspirar uma mudança na política econômica – coisa de que ninguém mais duvida – é o que fazer com pelo menos dois dogmas consensuais da macroeconomia, defendidos com mão de ferro pelo ministro Palocci: a) é preciso manter o controle da inflação a qualquer custo como principal fundamento do crescimento; b) é preciso garantir altos superávits primários para reduzir a fabulosa dívida acumulada pelo setor público. O primeiro dogma só se materializa, na visão atual, via juros; o segundo, pelo corte dos gastos correntes e de investimentos.

Todas as facções cantam a música que todos os brasileiros querem ouvir. Mas nenhuma ainda apresentou receita segura para o bolo não desandar. Sim, todos concordam que é preciso criar ambiente favorável ao desenvolvimento econômico mais acelerado e que, para isso, é necessário afrouxar as amarras que o estão impedindo. Falta-lhes, contudo, mostrar como isso será possível a curto prazo com o concomitante e imprescindível controle da inflação e redução da dívida.

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