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Os resultados brasileiros nos Jogos Olímpicos de Londres não podem ser analisados de forma isolada, mas no contexto de um processo iniciado em 2003, quando o então presidente Lula chamou ao Estado a responsabilidade sobre o esporte de alto rendimento. Criou um ministério específico para o esporte, mas o colocou no rateio compensatório aos partidos de apoio ao governo – assim como as demais pastas. A prioridade foi política, em detrimento das questões técnicas que o esporte exige.

Com a mesma desenvoltura, o governo criou leis, como a Lei de Incentivo ao Esporte; sancionou a Bolsa Atleta e turbinou orçamentos. Mais: duas empresas estatais engrossaram o rol dos patrocínios: BNDES e Casa da Moeda juntaram-se ao Banco do Brasil, Caixa, Petrobras, Infraero, Eletrobras e Correios.

Com tudo isso, soou estranho que autoridades do Comitê Olímpico Brasileiro anunciassem evolução mínima em medalhas, comparativamente aos Jogos de Pequim, em 2008. Mas assim ocorreu. Afinal, se houve mais recursos, por que faltou evolução? Pior: por que o atletismo retrocedeu ao nível de 20 anos atrás, quando retornamos sem medalhas dos Jogos de Barcelona? E o que dizer da natação, sem uma representatividade feminina altamente competitiva? Logo a CBDA, que no ciclo olímpico recebeu R$ 45,5 milhões de verbas públicas! Da mesma forma, o tênis, de lamentável desempenho, contou com R$ 17,5 milhões recebidos de fontes governamentais.

É neste contexto que o desempenho esportivo precisa ser analisado, mas a partir de um "jogo aberto" entre as duas principais autoridades nacionais do setor, o Ministério do Esporte e o Comitê Olímpico Brasileiro. É preciso definir quem é quem nessa hierarquia. Se o ministério participa com os recursos, por que não opinar na gestão dos mesmos? A fraca evolução em Londres sugere que essa questão seja tratada prioritariamente para que haja projetos integrados, metas de médio e longo prazos e planejamento efetivo. E por que não incluir nesse debate – atrasadíssimo, mas ainda indispensável – os ministérios da Educação, Cultura e Saúde? A estagnação no alto rendimento não ocorre, também, devido à ausência da escola e da universidade brasileiras em programas afins?

Não há dúvidas de que temos desperdício sem a prática de educação física na idade escolar. Não para se "formar atletas", como muitos sugerem, mas para que se crie, antes, uma cultura esportiva sólida e não exclusivamente futebolística. Que a atividade física seja instrumento de apoio pedagógico, contribuindo para a melhor formação do caráter dos jovens. No Orçamento da União, identifiquei recursos para a "implantação de estruturas esportivas", isto é, construção e cobertura em quadras de 3 mil escolas. Mas, até agora, foram utilizados apenas 8,5% do R$ 1 bilhão autorizado para 2012.

É diante desse quadro que o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, anuncia um plano de investimento no esporte olímpico, "ampliando os recursos financeiros". Como se faltasse dinheiro. A ausência maior é de uma sólida e duradoura política de esporte voltada prioritariamente para a escola. Que a iniciativa privada se ocupe do alto rendimento em um intercâmbio eficiente, como já existe em outros países.

José Cruz é jornalista e blogueiro (http://josecruz.blogosfera.uol.com.br) especializado em esporte.

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