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Todos nós temos de nos solidarizar com os familiares das pessoas que foram ou devem ser executadas na Indonésia – em especial, dos brasileiros Marco Archer, fuzilado no último sábado, e Rodrigo Gularte, que aguarda um desfecho anunciado há vários anos. Perder um ente querido, seja ele quem for, sempre é uma dor inigualável para uma mãe, um pai, um filho ou irmão.

No entanto, este é mais um fracasso brasileiro pela ausência de políticas efetivas de prevenção e enfrentamento ao tráfico de drogas. Diariamente vemos jovens brasileiros serem aliciados pelo tráfico, geralmente comandados por homens e mulheres espertos, com poder de mando e vinculados a grandes grupos financeiros. Assim como sabemos, diariamente, da execução e outras formas de abater covardemente crianças, adolescentes e jovens, pelo conflito entre gangues e grupos armados e organizados em torno dessa substância mágica, perversa e (des)agregadora a que se convencionou chamar de droga.

Recentemente, em Curitiba, na Vila das Torres, vários jovens e crianças perderam a vida ainda inocente, em meio a uma vergonhosa linha geográfica que separa a turma de cima e a turma de baixo, impedindo o ir e vir das pessoas, o acesso à unidade de saúde, à escola, às possíveis relações humanas afetivas e pacíficas, comuns às pessoas de bem, com o aval dos gestores municipal e estadual, numa gritante violação dos direitos humanos.

E até hoje, não vi ninguém, nem Dilma, nem o ministro das Relações Interiores (será que precisamos criar este ministério?), nem o prefeito, nem o governador e suas primeiras-damas-secretárias, a não ser as "mães das Torres" e seus aliados, pedir clemência pela vida de "nossos meninos e meninas".

Antes de ir à Indonésia, tanto Marco como Rodrigo possivelmente traficaram por aqui e é provável que muitos jovens da classe média tenham perdido seu especial fornecedor com essas prisões. Ambos, jovens com poder aquisitivo suficiente para manter seus esportes radicais e suas viagens internacionais, bem como suas manobras nesse nosso país de desiguais, da corrupção solta, de políticos fajutos, mantidos no poder por uma elite mau-caráter e por uma população carente de tudo, de educação, de saúde, de moradia e que se entorpece com promessas e drogas.

Se Marco e Rodrigo estivessem aqui, fossem pobres e negros, a população estaria torcendo para que fossem pegos e mortos. A máxima por aqui ainda é "bandido bom é bandido morto" e, por similaridade, "traficante bom é traficante preso ou morto". Por isso, no Brasil, se elege político porque prendeu traficante (mesmo que no exercício do dever), como se fosse um favor. Marco e Rodrigo, além de ferirem a moral e legislação brasileiras (no Brasil, o tráfico de drogas é crime), ferem um pacto internacional e desrespeitam um país e suas leis, a Indonésia. Só que lá não é o Brasil. Lá as leis são para todos e devem ser respeitadas. Marco e Rodrigo, lá, não são turistas como se forjaram no Brasil. Lá, como aqui, são traficantes, são criminosos. Se aqui estivessem, nem sei se estariam presos. Lá, a morte de um e de outro são exemplos do mal que a droga causa às famílias, à sociedade, às relações internacionais, à vida.

Vamos levar a sério uma política sobre drogas que valorize a prevenção. Clemência, Dilma! Clemência, poderes Legislativo, Executivo e Judiciário! Não temos no Brasil a pena de morte. Por isso, chega de matar nossas crianças e adolescentes pela desigualdade social, pela falta de oportunidades, de educação de qualidade, de dignidade às famílias e população que só quer ser feliz, mesmo que seja com pouco, mas pouco de muita qualidade.

Araci Asinelli da Luz, doutora em Educação, é professora da UFPR.

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