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O ciclo da economia mundial pode estar mudando por efeito do choque de expectativas nos Estados Unidos, causado pelos furacões Katrina e Rita, e os reflexos dessa mudança estão se espalhando por todo o mundo, afetando inclusive o Brasil. O cenário positivo ainda prevalece, mas o bom senso recomenda acompanhar com atenção os números do desempenho nas principais economias, para minimizar as conseqüências de uma desaceleração econômica global. Embora os fundamentos econômicos do país continuem sólidos e a liquidez internacional permaneça abundante, os temores de instabilidade aumentaram nas últimas semanas, levando as autoridades a reforçarem medidas de cautela.

De fato, os indicadores que medem a confiança dos consumidores norte-americanos recuaram ao longo da última semana: caíram as vendas de roupas e artigos de consumo semiduráveis, os "carrões" que consomem muito combustível estão sendo substituídos por veículos econômicos, o frenesi de compra de casas residenciais esfriou e os analistas avaliam que o quadro pode estar sendo revertido, após dois anos de expansão continuada. O freio que ocorre na economia líder logo estendeu igual comportamento mundo afora, com queda em encomendas de fabricantes, manutenção de juros básicos pelos bancos centrais e outros esforços de ajuste.

Em meio a esse quadro de incertezas, os dirigentes da Reserva Federal norte-americana e do Banco Central Europeu redobraram preocupação com os níveis inflacionários, impulsionados pela bolha imobiliária, propensão a gastos individuais cobertos por crédito e, sobretudo, maiores preços do petróleo. Para se protegerem dos riscos dessa conjuntura adversa, firmas multinacionais sediadas nos Estados Unidos e os investidores privados aceleram a liquidação de aplicações no exterior, o que afeta mercados de títulos e ações em países emergentes.

Aqui, a bolsa de valores devolveu ganhos, enquanto a cotação errática do dólar ampliou as incertezas da conjuntura, atingindo os principais indicadores do desempenho (risco-país, cotação de títulos externos, etc.). Para ampliar a quadra de problemas, na Europa greves gerais na França e Bélgica levaram governos a se juntar à Itália na crítica à política restritiva aplicada pelo Banco Central Europeu. Desde a rejeição popular ao projeto de constituição da União Européia, essa diretriz vem sendo acusada de imobilista e responsável pelo persistente declínio da economia européia ante outras regiões.

Por isso os brasileiros não devem esperar uma queda mais acentuada dos juros básicos na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, conforme deixaram transparecer o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central. A nova leitura é que as autoridades evitarão se arriscar em gestos ousados – como alertou o presidente da República na reunião com os deputados da bancada federal do PT –, preferindo uma adaptação lenta e segura do país ao cenário mundial.

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