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Após um período de estabilização, as economias nacionais em várias partes do mundo voltam a sofrer os efeitos da segunda onda da globalização. Assim, empresas solidamente estabelecidas em países-chave enfrentam abalos enquanto outros grupos empresariais florescem, inclusive em países emergentes como o Brasil, passando a figurar como novas multinacionais de negócios.

O preço do petróleo – cuja tendência primária é de elevação – continuará influindo fundamentalmente na expansão ou declínio de firmas: enquanto as companhias petrolíferas exibem lucros crescentes, a indústria de veículos padece, levada a uma pesquisa frenética por outros tipos de energia. Os casos mais simbólicos dessa alteração de cenário foram os da General Motors e da Ford, ícones da indústria norte-americana e pioneiras na oferta de produtos com preço acessível ao consumidor comum, através de inovações como a linha de montagem, a publicidade em larga escala, produtos renovados periodicamente – e quanto à GM, criação de um tipo novo de organização empresarial, a "corporation", cujo controle difuso configurou o capitalismo do povo.

Por isso seus solavancos recentes afetaram o coração manufatureiro da América. Numa abordagem inicial, ambas as empresas foram vítimas da euforia das "vacas gordas" após a 2.ª Guerra Mundial, quando os Estados Unidos estabeleceram o padrão de consumo em massa e, embalados por lucros à primeira vista inesgotáveis, seus executivos assinaram contratos generosos com sindicatos trabalhistas. Quando o mercado se contraiu, assolado pela feroz concorrência da globalização, as montadoras norte-americanas se viram acossadas por custos fixos superiores aos de fabricantes estabelecidos mais recentemente.

Firmas automobilísticas na Itália, Alemanha, Inglaterra, enfrentam desafios similares. Nesses e outros países, companhias centenárias estão sob pressão, por não terem modernizado seus processos produtivos ou continuarem adotando um marketing antiquado. Em compensação, ali mesmo, surgem grupos vigorosos como a Airbus, para disputar liderança na fabricação de aviões comerciais de grande porte.

Esta segunda onda de globalização atingiu também atores de industrialização tardia: no Japão, a indústria de ponta enfrenta bem a concorrência dos desafiantes asiáticos capazes de produzir bens crescentemente sofisticados a baixo custo. Segundo articulistas, isso se deve ao constante esforço dos administradores japoneses para estabelecer nichos de excelência, operando com arranjos locais em que uma fábrica-mãe é cercada de fornecedores especializados, há uma cultura local de proteção dos segredos conquistados no domínio da tecnologia, etc.

O panorama encerra lições para o Brasil, onde certos grupos empresariais fraquejam enquanto outros "dão a volta por cima". O setor de aviação oferece exemplos com as mudanças de posição da TAM e da Gol – ambas inovadoras na operação comercial –, enquanto a Varig finalmente se prepara para sair da crise, com escolha de novos executivos e um plano de recuperação. Na distribuição de alimentos e varejo, a rede de supermercados Pão de Açúcar–Extra – afetada pela retração do mercado interno – uniu-se a um grupo francês para enfrentar os novos tempos.

Em compensação, aproveitando os nichos da globalização, desponta uma safra de multinacionais brasileiras com operações na América do Sul e países centrais: Gerdau, Odebrecht, Andrade Gutierrez e o grupo Votorantim, entre outras. Em destaque a Vale do Rio Doce, "jóia da coroa" da privatização, hoje uma das maiores firmas mineradoras do mundo e a única empresa nacional com "grau de investimento"; e entre as estatais a Petrobrás, com performance vigorosa ao explorar petróleo e gás nos cinco continentes.

A continuidade do êxito de nossos atores empresariais no cenário global depende de políticas públicas, tais a boa gestão da economia para evitar solavancos e fortalecimento do mercado de capitais, mas o essencial está lançado: estamos vencendo o desafio da inserção no mundo contemporâneo.

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