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No momento em que se aproxima a maior festa da cristandade, devemos aproveitar para fazer uma reflexão sobre o nosso país.

A promessa do crescimento econômico não se realizou no ano de 2005; pelo contrário, no último trimestre, segundo os dados do IBGE, a economia sofreu um refluxo. A conseqüência é a manutenção das altas taxas de desemprego em todo o país e a não realização da promessa dos dez milhões de empregos feita por Lula.

Os investimentos públicos estão paralisados, por isso a malha viária está destruída, o sistema público de saúde está uma calamidade, o desmatamento da Amazônia continua em ritmo acelerado, à medida em que não há concurso público para atender às reais necessidades do Ibama na fiscalização dos recursos naturais.

Enquanto tudo isso acontece o governo Lula comemora o pagamento antecipado de 15 bilhões de dólares ao FMI. Conclui-se que o superávit primário está rendendo vultosos recursos ao sistema financeiro internacional.

Porém não faltou dinheiro para o valerioduto. Segundo dados da CPI dos Correios, os recursos percorreram caminhos tortuosos, saindo de instituição bancária estatal, empresa estatal de energia elétrica, fundos de pensão de empresas públicas, empresa privada de telecomunicação, entrando em bancos privados e saindo para pagar parlamentares federais. O mais grave é a coincidência do pagamento do mensalão com as votações no Congresso Nacional, das reformas da previdência e tributária, em que o governo Lula conseguiu aprovar todos os seus projetos.

O movimento sindical aventou a hipótese de recorrer ao STF para anular as votações das reformas no Congresso Nacional. Na ocasião não havia elementos que comprovassem a relação entre o mensalão e as reformas. Hoje, com a publicação parcial do relatório da CPI dos Correios, os elementos são mais do que evidentes. A verdade é que milhares de trabalhadores do setor público e privado tiveram suas aposentadorias adiadas, direitos foram confiscados e a economia de recursos do governo federal e das empresas estatais serviu para alimentar o mensalão e os interesses do sistema financeiro.

A Comissão de Ética até agora só conseguiu cassar dois deputados federais, outros dois já se safaram conseguindo uma maioria folgada para as suas absolvições e os demais já estão comemorando o êxito do deputado Saulo Queiroz, que abre caminho para uma "pizza gigante". E mais uma vez quem vai pagar a conta é o povo, fiel pagador de impostos.

Jesus, na sua santa ira, expulsou os vendilhões do templo. Num ato emblemático, essa ira significou que a Casa do Senhor não é lugar de comércio e sim um lugar sagrado.

Ao que a nação assiste bestificada a partir de Brasília, é que o Executivo e o Congresso Nacional, em que os eleitos pela vontade do povo deveriam legislar e governar para o bem-estar do povo, estão legislando e governando contra o povo. O mais emblemático em toda esta situação é que os que deveriam ter a ira de Jesus, pois são os responsáveis pelo funcionamento das instituições. São os primeiros a tentar desqualificar os relatórios das CPIs, afirmando que não estão provando nada. Não percebem esses dirigentes máximos das instituições republicanas como o Congresso Nacional e o Executivo Federal, que a nação está irada e poderá expulsar pelo voto os parlamentares e governantes que forem coniventes com esses escândalos.

Jesus, quando viu a fome do seu povo, não teve dúvida e realizou o milagre da multiplicação dos pães para matar a fome de centenas de pessoas. Com o pouco que tinha não pensou nele e sim na coletividade.

O que acontece hoje é um escândalo e afronta qualquer cidadão que tenha senso de justiça. Não é possível assistir à distribuição farta de dinheiro público com mensalões, emendas em troca de votos, enquanto milhares de brasileiros às vésperas do Natal passam fome e não têm nenhuma esperança de uma vida melhor.

É triste a nação assistir à comemoração da não cassação do deputado estadual do PT do Ceará e estar prestes a ver outros deputados federais, que serão julgados pelo Congresso Nacional, serem absolvidos terminando tudo em "pizza" novamente.

Se Natal é nascimento, temos que superar essa sensação de que não adianta fazer nada e fazer renascer em nós um novo homem e uma nova mulher, que não se curvam diante da corrupção e da injustiça. Só é possível construir uma nação se não aceitarmos que novamente tudo termine em "pizza".

Lafaiete Neves é doutor em Economia pela UFPR, professor aposentado da UFPR e professor da PUCPR.

l.lafa@terra.com.br

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