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Pais e educadores têm constatado há alguns anos a afluência de adolescentes entre 18 e 24 anos que pararam de estudar e não têm nenhum interesse em trabalhar. São chamados ironicamente de "geração nem-nem": nem estudam, nem trabalham.

Esses jovens preocupam por encarnar um fenômeno deletério que parece tomar conta de grande parte dos brasileiros, a descrença – que, segundo Vinícius de Moraes, é o pior mal. Convivemos com escândalos, com corrupção, com incompetência, com mentiras, com violência, e a soma de tudo parece nos anestesiar. É como se a sociedade manifestasse sintomas de depressão, quando o doente tem seus níveis de percepção e reação reduzidos ao mínimo, quedando inerte perante o que lhe traz sofrimento insuportável.

A educação é o melhor caminho, e o mais legítimo, para a melhoria de vida da população; sempre esteve no topo das prioridades das famílias. O trabalho realmente enobrece, e também assegura o sustento e até a identidade das pessoas. De algum modo nossa sociedade falhou se alguns de seus jovens desacreditam de tudo.

O conhecimento tem sido fator diferencial, e no fim da adolescência idealmente o jovem deveria estar realizando ou finalizando um curso superior, pois cresce a compreensão da necessidade de escolarização em função da complexidade das atribuições profissionais e da progressiva informatização das atividades. No entanto, embora esteja crescendo nos últimos anos, ainda é baixa a proporção de jovens que concluem o ensino médio e que estão aptos a cursar o ensino superior.

No país, pela Lei de Diretrizes e Bases, vigente desde 1996, os cursos de ensino médio "têm como finalidade consolidar e aprofundar, em um período mínimo de três anos, os conhecimentos adquiridos na educação fundamental obrigatória e habilitar o estudante a prosseguir os estudos ou prepará-lo para o exercício profissional de nível técnico". Pesquisadores da área educacional têm se dedicado às transformações devidas aos impactos sociais e culturais que afetam esse período específico, e diretamente a entrada e permanência do jovem na universidade, pois é no ensino médio que se verifica grande parte do abandono do estudo.

Dados do próprio Ministério da Educação mostraram que, em 2008, 83,6% dos concluintes de cursos superiores estavam integrados ao mercado laboral, 10,9% continuavam seus estudos em cursos de especialização, mestrado ou doutorado, e somente 5,5% não trabalhavam ou estudavam. No entanto, naquele mesmo ano, o grupo de jovens inativos era estimado em 3,4 milhões, devido, em maior parte, àqueles que adentraram o ensino médio e não o concluíram, ou que chegaram a finalizar essa etapa, mas não continuaram os estudos depois disso. No perfil desses jovens, evidentemente a profissionalização precoce e não especializada responde por parte desse contingente; alguns são responsáveis pela manutenção de suas famílias, sejam as de origem ou as constituídas na adolescência; e a parcela feminina, que constitui maioria entre aqueles que não estudam nem trabalham, tem a maternidade, cuidado com idosos ou incapazes – trabalhos tradicionalmente delegados às mulheres –, limpeza doméstica, além de responsabilidade no orçamento familiar, como os motivos de abandono da vida escolar. Evidentemente, não são consideradas trabalhadoras porque exercem função não remunerada, embora realizem atividades de grande impacto econômico, pois permitem a outros membros da família o exercício profissional regulamentado.

Desigualdades devem ser diminuídas e o acesso ao sistema educacional facilitado, para que possamos incluir com dignidade todos os jovens no mundo do trabalho.

Wanda Camargo, educadora, é assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil (UniBrasil).

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