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O berço da democracia vacilou. Nas últimas eleições gregas, candidatos de inspiração até mesmo fascista contaram com o apoio de muitos eleitores. Surpreende que, após tantas décadas, durante crises graves como essa, ainda corramos o risco de sofrer grandes catástrofes políticas, como as que mancharam diversas páginas da história. A situação da Grécia é delicada, assim como a de muitos outros países europeus em que se verifica o desespero da população.

A União Europeia reconhece, agora, que foi permissiva demais com os últimos ingressantes do bloco e percebe, finalmente, que não se pode fazer uma união monetária sem união de regras orçamentárias e políticas sociais. A maioria dos países europeus, contaminada pela crise americana, revelou um cenário de déficits públicos exorbitantes e com baixa capacidade de financiamento. Esse pode ser mais facilmente explicado pela remota preocupação europeia com o welfare state e generosas concessões sociais, que inviabilizam políticas de austeridade fiscal.

Ainda assim, é complicado entender como um país pode ter tão poucas alternativas de superação dessa crise. Como é possível cruzar os braços com uma dívida equivalente a 165,3% do PIB e 51,2% de seus habitantes com menos de 25 anos desempregados? Ocorre que países como a Grécia, que adotaram o euro, perderam a capacidade de emissão de moeda – ao contrário de outras nações, não podem imprimir moeda para estimular a economia e diminuir o déficit do balanço do governo. A credibilidade do governo está tão abalada que o país não consegue emitir dívida no mercado para captar recursos.

Uma saída para a Grécia e outros europeus com essa situação alarmante seria sair do euro e voltar a emitir sua própria moeda. Caso isso seja feito, sua moeda teria uma enorme desvalorização, o que poderia, em um primeiro momento, ajudar nas exportações e começar uma recuperação econômica praticamente do zero. Essa alternativa seria muito mal vista pelos mercados e colocaria o futuro econômico da União Europeia em xeque. Apesar de a Grécia representar, em termos absolutos, uma porcentagem pequena da movimentação financeira europeia, a reputação e a credibilidade dos demais países ficaria abalada – podendo, inclusive, culminar no término do bloco econômico.

Os mais otimistas veem uma luz no fim do túnel. A recente iniciativa de compras ilimitadas, por parte do Banco Central Europeu, de bônus da dívida soberana com vencimentos entre um e três anos de países da zona do euro que fizerem essa solicitação parece ser a melhor alternativa de efeito mais rápido. Evidentemente, no médio e longo prazos, é fundamental a implementação de uma política de austeridade fiscal, além de uma reflexão sobre as atuais políticas sociais. É preciso reequilibrar com muito mais veemência o orçamento governamental.

Se a União Europeia terá de reconhecer que Margaret Thatcher acertou ao afirmar que o euro está fadado ao fracasso, e deve-se desistir dele, não se sabe. Veremos, em um futuro breve, se o mundo clamará "Deus salve a rainha". Por ora, resta a necessidade de socorrer o euro. Do contrário, o mundo todo sofrerá os impactos de seu declínio.

Samy Dana, Ph.D. em Business, é professor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas, em São Paulo (EESP-FGV). Giovana Carvalho é graduanda em Economia pela EESP-FGV.

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