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Há uma série de problemas na economia europeia, não apenas no setor bancário, mas também nos mercados de bens e de trabalho, o que exige das autoridades mudanças coordenadas – não só entre diferentes Estados-membros, para evitar mais desequilíbrios de balanço de pagamentos, mas também entre os diferentes mercados.

A criação de emprego é o principal desafio para a Europa. Para isso, são necessárias reformas que criem empregos de forma sustentável, ou seja, promovendo o crescimento da produtividade. Há uma falta de dinamismo na criação de novas empresas, dificultada pelos regulamentos pesados em alguns setores, como o de serviços profissionais. Reformas coordenadas no mercado de trabalho podem levar a custos de trabalho semelhantes entre os países e, por consequência, de competitividade.

Há também a necessidade de regras comuns fiscais e de regulação. O antigo pacto de estabilidade e crescimento foi violado pelos países-chave sem quaisquer consequências e durante períodos menos difíceis. Como acreditar que o pacto atual será viável e benéfico durante a recessão mais profunda e mais longa dos últimos 70 anos? O euro não é viável na sua forma atual e dependerá da viabilização de uma estratégia crível de sobrevivência, que demandará a convergência dos interesses políticos na manutenção da união monetária.

A estratégia envolve resolver os desequilíbrios nas finanças públicas apenas no médio prazo e de forma eficiente. Corte de despesas em educação e pesquisa é uma estratégia fracassada quando um país possui um setor público inchado. A via de ajuste fiscal draconiano de curto prazo não está funcionando. Não só porque pode ser prejudicial ao crescimento de curto prazo, mas também porque o apoio popular para a austeridade está diminuindo e a instabilidade social vem aumentando. O cidadão comum sente-se injustiçado pelos governos por ter de suportar o peso maior do ajuste, enquanto os que arriscaram no sistema financeiro parecem ser socorridos pelo contribuinte. Há saída para o euro, mas se ele vai sobreviver ou não é uma questão de economia política.

É mais difícil sair da recessão quando os mercados estão voláteis e os investidores, muito sensíveis ao risco. Por isso, a ideia alemã de austeridade acima de tudo é míope, prejudicial para o bloco e, no fim, prejudicial para a própria Alemanha. Por sorte, a discussão sobre a compra de dívida soberana dos bancos europeus pelo BCE reduziu os anseios mais conservadores do Bundesbank. Para suavizar o ajuste do bloco, a Alemanha deveria transigir e aceitar termos ainda mais flexíveis para os países do sul da Europa e, sobretudo, estimular o seu próprio consumo e reduzir impostos.

Finalmente, a política monetária também pode ajudar. Hoje a meta do BCE é manter a inflação abaixo de 2% ao ano, mas essa instituição poderia aceitar uma taxa/meta de inflação ligeiramente maior – por exemplo, de 0,5 a 1 ponto porcentual a mais por ano –, sem comprometer o caminho futuro de estabilidade, mas permitindo aliviar os problemas da dívida real privada.

Miguel León-Ledesma, professor de Economia na Universidade de Kent, é consultor regular do Banco Central Europeu e professor visitante da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (FEA-RP/USP). Alex Luiz Ferreira é professor de Economia na FEA-RP/USP.

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