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As cidades do mundo estão cada vez mais populosas e por concentrarem mais pessoas, concentram também mais possibilidades e mais problemas. Aqui no Brasil a situação não é diferente. Se de um lado é o mundo urbanizado que alicerça a economia global, de outro não viabilizamos sequer as nossas demandas básicas: por aqui falta habitação, falta infraestrutura, falta segurança pública; sobra favela, trânsito, poluição.

Sabemos que 36,2% da população brasileira vive hoje em apenas 15 metrópoles segundo o censo 2010, e São Paulo é a quarta no ranking das maiores metrópoles do mundo, com 19.762.582 habitantes. Em nossas metrópoles é notória a segmentação dos espaços: os centrais – diversificados, infraestruturados e concentradores de riqueza – e suas periferias – desestruturadas, concentradoras da pobreza urbana e em constante expansão. A que tamanho chegarão tais metrópoles no futuro e qual será o impacto disso sobre a vida cotidiana do cidadão? Como lançar um olhar mais otimista para o futuro diante de tantos desafios?

Se hoje as 24 horas de um dia são insuficientes para darmos conta da "vida instantânea", como será a nossa percepção do tempo no futuro? Como poderemos ser cidadãos felizes gastando de três a quatro horas todos os dias dentro de um ônibus ou mesmo de um automóvel para chegar ao trabalho e no final do dia voltar para casa? Isso nos remete a uma reflexão fundamental, que é a da relação espaço-tempo nas grandes cidades. O arquiteto Flavio Villaça nos diz que o limite de tamanho que uma metrópole pode atingir dependerá diretamente da velocidade dos deslocamentos casa-trabalho.

Já para o inglês Richard Rogers, a fórmula da cidade sustentável está na alta concentração de pessoas – a cidade compacta – uma cidade onde se poderia morar e trabalhar no mesmo lugar, e por isso, além de reduzir grandes deslocamentos, resultaria ainda em uma enorme economia energética. Tudo isso apoiado em um sistema de transporte de alta velocidade, extremamente eficiente. Isso significa que a opção por um modelo de transporte mais sustentável define não só a redução de custos ambientais, mas principalmente a redução de custos sociais associados ao estresse da vida urbana.

Em Curitiba – cidade modelo de planejamento no país desde os anos 60 – a solução adotada foi a de priorizar o transporte coletivo sobre o individual, onde os ônibus circulam em canaletas exclusivas. Por outro lado, sua taxa de motorização hoje é a mais alta do país: 41,6 automóveis para cada 100 habitantes. Uma contradição, não? Isso nos revela que é o morador da Grande Curitiba quem de fato está no âmago do planejamento da rede integrada de transporte: por poder circular na RIT pagando uma única passagem, mais do que economizar na tarifa, amplia sobremaneira a sua condição de empregabilidade em Curitiba. Disso decorre a possibilidade de o cidadão metropolitano ganhar maiores salários – a relação é de até quatro salários mínimos em Curitiba contra um salário em seu município de moradia – permitindo-lhe assim alcançar a tão sonhada mobilidade social.

Sylvia Ramos Leitão é arquiteta e professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUCPR.

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