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Noite ainda vasculho memórias buscando escritos sobre Nova Orleans, a cidade encantadora. Chocada com as notícias, fui ao meu caderno de viagem para acordar lembranças refrescadas com dor. Impossível lembrar sem nostalgia e saudosismo. À época, escrevi um artigo que se chamava algo como "Sensualidade, música e comida" porque lá, essa mistura era diabolicamente excitante. O jazz pelas ruas, jardins, cafés e casas noturnas impregnando o tempo, o acordar e o dormir. A exótica comida Creole e o tempero Cajun, picante, quente e sensual acrescenta charme aos momentos à volta da mesa. Difícil em Nova Orleans não se voltar às delícias da mesa; minha cozinha ainda conserva dois azulejos com receitas locais. Saborear um jantar degustação do Chef Emeril no restaurante do mesmo nome foi ótima opção. O Farmer’s Market, um dos melhores mercados do mundo para utilidades, acepipes ou temperos os mais diversos; amantes da cozinha ali se deleitavam entre compras sofisticadas e curiosas.

Lá, tive a oportunidade de me hospedar por alguns dias no Hotel Windsor Court, numa das suítes mais sofisticadas de minha vida. Além da vista espetacular do Mississipi, a biblioteca da suíte, que oferecia uma seleção de livros exemplar, e ainda a decoração, a sala de banho, o closet, o estar, a cama com dossel, os detalhes... tudo indescritível.

Estar em Nova Orleans significava comer ostras com champagne ao cair da tarde introduzindo os prazeres da noite e assim também fui recebida no hotel. Depois me hospedei numa gest house histórica, o Cornstalk Hotel, com apenas 14 quartos, situado no French Quarter. Na Royal Street, antiquários, brechós, oyster houses, livrarias encantadoras atraiam turistas. Foi nas sacadas das casas emolduradas por gradis espanhóis ou franceses que aprendi a combinar bouganvilles roxas com alamandas amarelas. Que mistura caliente!

O excesso praticado nos brunchs da House of the Blues ou do Preservation Hall ao som do jazz integram boas recordações. Aprendi a ouvir o jazz com meu grande amigo Zuza Homem de Mello, talvez o melhor entendido do Brasil no assunto. Ele, que ano após ano, foi ao Festival de Jazz da cidade buscar inspiração para o Free Jazz Festival, hoje Tim Festival. Ninguém melhor do que ele poderia escrever sobre a insinuante cidade.

Visitas às Plantation fizeram parte do roteiro. Como não ver de perto as casas que relembravam o filme "E o Vento Levou" com a deliciosa história de Scarlett O’Hara? As soberbas Houmas House, Nottoway, Oak Alley e Tezxuco à beira do Mississipi valiam o passeio.

Imagino que Bill Clinton esteja chateado e não por acaso esteve presente após a passagem do Katrina. Sua mãe lá morou e escreveu ele: "Adoro a música, a comida, o povo, e a alma dessa cidade". Sim, Nova Orleans tem alma. Que chora agora. Diz ele ainda: "Mesmo conhecendo grande parte das maiores cidades do mundo, Nova Orleans será sempre especial – pelo café com beignets (rosquinhas doces fritas) no Morning Call on the Mississipi, pela música de Aaron e Charmaine Neville, os veteranos do Preservation Hall, e pela memória de Al Hirt; pelas corridas matinais no French Quarter; pela comida maravilhosa que saboreei nos restaurantes fantásticos...(...)". Bill Clinton, nascido Blyte, que adotou o nome Clinton do padrasto, deve saber das coisas.

Enquanto pelo mundo se espalham desastres e tragédias irreversíveis provocados pela natureza, no Brasil os homens provocam desastres e tragédias pela sua ação nefasta. Enquanto o mundo se solidariza com a tragédia, desta feita americana, o Brasil fica indiferente à sua tragédia interna, a guerra pelo poder e as batalhas sucessivas pela eleição de 2006. Bem escreveu o paranaense Roberto Busato, residente da OAB: "A idéia de manter o presidente da República "sangrando" para que chegue fraco às eleições é inqualificável. (...).O inaceitável é que seja condenado e, simultaneamente, preservado em face de interesses eleitoreiros."

www.andradevieira.com.br.

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