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O PT nasceu em 1979, de uma aliança de sindicalistas com o clero "progressista" da Teologia da Libertação – que iniciava o trabalho de organização das Comunidades Eclesiais de Base – e com facções trotsquistas e marxistas-leninistas com suas deformações ideológicas e seu desapreço pela democracia.

Em conseqüência, ao longo do tempo, coexistiram dentro do PT múltiplas tendências, justificando a situação de conflito interno em que sempre viveu o partido, dividido entre essas tendências.

A não ser nos primeiros tempos, quando surgiu a mística da incorruptibilidade, favorecida pelo afastamento do partido das fontes de sedução dos cargos executivos, a história mais recente do PT deixa muitas dúvidas. Dúvidas que se avolumaram com as atitudes eleitoreiras tomadas para arregimentar aliados e aderentes de undécima hora, no afã de ganhar a última eleição presidencial. Os três fracassos de Lula na eleição para presidente aconselharam que se abandonasse a arrogância da auto-suficiência e se buscasse uma nova política de alianças. A manobra foi feita pelas "tendências" dominantes no partido e com as bênçãos dos aliados do PT, ostensivos ou dissimulados. Essa "ideologia intermediária", com o apoio de um hábil marqueteiro, deu certo e esse "saco de gatos" assumiu o governo do país com um projeto de poder que incluía a completa "petização" da máquina dirigente em uma espécie de "mexicanização" do Brasil, sendo preciso arranjar emprego também para os novos aliados, ávidos por tirar partido da nova situação. Mas a experiência da "ideologia intermediária" e a busca de uma base parlamentar envolveram o governo do PT com a corrupção e tornaram difícil de manter a falácia do alegado "patrimônio ético" do partido. Falácia, porque a expulsão, há dez anos, do militante Paulo de Tarso Wenceslau como forma de calar as dúvidas por ele levantadas sobre as benesses concedidas por prefeitos do partido em favor do próprio Lula, nada teve de ética. A "varredura para baixo do tapete" dos graves indícios que vinculavam o governador Olívio Dutra a uma caixinha alimentada pelos bicheiros gaúchos e os nebulosos negócios que resultaram no assassinato do prefeito petista de Santo André, são episódios comprometedores. O aval dado por Lula à honestidade do sr. Orestes Quércia e as manobras para levar José Sarney à presidência do Senado nada tiveram de éticas e pareciam indicar que o governo do PT – com seus novos aliados – não hesitaria em repetir as manobras do governo anterior para construir seu "rolo compressor" no Congresso, com o qual tentaria impor seus objetivos, mesmo ao preço de arranhões à ética de que se dizia defensor tenaz e histórico. A agressiva e aguerrida militância do PT e os "arapongas" de seu "SNI" particular – como o denunciou, ao tempo, o senador Esperidião Amin – eram os principais atiradores de pedras a estilhaçar vidraças alheias, criando uma falsa imagem de postura ética que os fatos a cada dia tornam mais difícil de sustentar. Os escândalos se sucedem, comprovando que, ao contrário do que se procurou passar aos crédulos, o PT nunca foi muito transparente ao lidar com a coisa pública e com dinheiro.

O governo Lula, desde seu começo, tem sido marcado por deslizes de seus ministros que transformaram a "res publica" em "cosa nostra". Os episódios das viagens da ministra Benedita e do ministro dos Esportes e da nomeação das esposas dos figurões para funções regiamente remuneradas foram emblemáticos. Os mais recentes invadiram o quarto andar do Palácio do Planalto, envolvendo o chefe da Casa Civil, José Dirceu, até há pouco a "eminência parda" do governo Lula, afastado do cargo pelas evidentes implicações com o escândalo denunciado pelo deputado Roberto Jefferson, o que parece mostrar que, comparado com os escândalos envolvendo o PT, o "mar de lama" que levou o presidente Vargas ao suicídio era apenas um manso regato de águas poluídas. Por muito menos o presidente Collor foi levado à renúncia com a participação decisiva do PT. Além disso, confirma-se no governo federal a incompetência demonstrada pelo partido desde a fracassada experiência na prefeitura de Fortaleza, seguida pelo insucesso de Erundina e Marta Suplicy em São Paulo. Em Porto Alegre, essa constatação levou mais tempo, mas no governo do estado, já no primeiro mandato, Olívio Dutra mereceu o repúdio dos gaúchos. E as razões desses fracassos são apontadas pela insuspeita jornalista Miriam Leitão, ao escrever que "Políticas que concentram renda sempre estiveram no ideário do PT, que pregava uma política industrial com transferência de renda para grandes grupos nacionais, barreiras ao comércio que elevam o preço dos produtos aqui dentro aumentando o lucro dos oligopólios, políticas de defesa corporativa que aumentam as vantagens de alguns setores organizados, transferência de dinheiro público para os fundos de pensão das estatais, subsídio à educação da classe média e dos ricos através da universidade pública gratuita". Por isso, soa ridícula a insinuação que são as "elites" que estão procurando desestabilizar o governo Lula, em face dos escândalos em que se afunda, de cujo naufrágio tentam, com sofismas, salvar o desastrado timoneiro.

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