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Com o lema "Eu vim para servir" (Mc 10, 45), nesta Quarta-Feira de Cinzas a Igreja Católica brasileira abre a Campanha da Fraternidade. Neste ano, o tema revela a vontade da Igreja de trabalhar para a construção da vida comunitária e em benefício de uma sociedade melhor, mais justa e solidária.

Em tempos de crise como os de agora, em que se vive no medo, em que os cidadãos perecem como náufragos em oceanos de indecisões, a Igreja quer ser portadora da esperança e da vida. Uma esperança que abra as portas para a defesa do bem comum, que garanta moradia, saúde e educação a todos. São temas clássicos de várias Campanhas da Fraternidade, mas que não se esgotaram nestas últimas décadas.

É necessária uma "Igreja em saída", como tem proposto o papa Francisco desde o início de seu pontificado. Uma igreja que saiba dialogar com o pluralismo e não se feche diante da rejeição do amor de Deus nos cenários sociais.

Educação, saúde e paz social são as urgências do Brasil. A Igreja tem uma palavra a dizer sobre esses temas porque, para responder adequadamente a esses desafios, "não são suficientes soluções meramente técnicas, mas é preciso ter uma visão subjacente do homem, da sua liberdade, do seu valor, da sua abertura ao transcendente", como também afirma o papa Francisco. Na promoção das pessoas, mesmo o Estado sendo laico, não se pode deixar de aprofundar uma consciência ética, fundamentada nos valores evangélicos para transformação da sociedade. O Estado não pode crer, porque não é pessoa, mas as pessoas que estão e formam o Estado podem crer e promover a vida.

O tema deste ano sugere uma sensibilização para que todos, independentemente de confissão religiosa, possam ir ao encontro das "periferias existenciais": os que não são vistos, os que ninguém quer empregar, os que passam fome e sofrem violência. É missão de todos os cristãos – e de todos os que amam – buscar esses que sofrem para que sejam portadores da esperança, do consolo e do amor.

Uma cidade grande como Curitiba tem muitas necessidades; uma região metropolitana que cresce a cada dia e onde cada vez mais surgem problemas de saúde, educação, habitação, transporte e moradia. A modernidade encontra-se no meio de dores e sofrimentos e a maioria da população vai se acostumando aos sinais de morte: morte dos rios, da natureza; morte nas estradas; violência nas grandes cidades; morte dos que não chegam a nascer. Torna-se urgente a superação da passividade e da apatia, demonstradas principalmente por políticas públicas que se esquecem daqueles que não podem ser felizes.

Não somente em Curitiba, mas no mundo todo, o amor precisa ser fecundado nos corações que se encontram na pobreza física e espiritual. Este amor abre perspectivas de mudança, de conversão para a cultura da vida. E isso se faz com gestos simples, como o grande exemplo da doutora Zilda Arns – médica sanitarista, fundadora da Pastoral da Criança, que começou seu trabalho com crianças desnutridas, com colheres de sal e açúcar e com a multimistura, que salvaram e salvam vidas diariamente.

Que esta Campanha da Fraternidade revele muitos gestos e atitudes para o serviço. Não meramente para serviços piedosos, mas por necessidades que são urgentes e precisam de ações imediatas. Ações que vão além de um aparato técnico, mas exigem a cordialidade e a humanidade que se encontram em todos os corações humanos. Que possamos cumprir essa tarefa nos cadernos da vida, para protagonizar a história e o tempo presente.

Rivael de Jesus Nacimento, sacerdote, é mestre em Teologia Pastoral e reitor do Santuário Nossa Senhora de Lourdes, no Campo Comprido.

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