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Diante da irrefutável constatação de tudo que vem sendo comprovado no plenário do STF, o PT reage tentando tapar o sol com a peneira

O mensalão caminha para os seus momentos mais cruciais com a proximidade do julgamento do triunvirato formado pelo ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoíno e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares. Com as decisões do Supremo até agora, condenando a maioria dos implicados, é crescente a inquietude nas hostes petistas com o destino dos três acusados de participação direta na compra de apoio parlamentar no primeiro mandato de Lula. Uma provável condenação, a exemplo do que já ocorreu com o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), representará outro inevitável baque na imagem já arranhada do partido.

Diante da irrefutável constatação de tudo que vem sendo comprovado no plenário do STF, de que houve, sim, um escandaloso esquema de corrupção, o PT reage tentando tapar o sol com a peneira. Da inconsistente tese de que o mensalão se resumiu a meras sobras de campanha, o conhecido caixa dois, o partido passou a buscar subterfúgios para atenuar o impacto do julgamento dos mensaleiros. O caminho encontrado está sendo o da divulgação de notas que repetem conhecidas cantilenas: supostas conspirações tramadas pelas oposições em conluio com as elites conservadoras e com setores da imprensa para apear do poder um governo dito popular e democraticamente eleito.

O uso de tais comunicados voltou a ser empregado com ênfase no dia 20, desta vez em desagravo ao ex-presidente Lula, que teria inteiro conhecimento do esquema do mensalão, segundo reportagem publicada pela revista Veja. Em defesa de Lula, o texto assinado por presidentes de seis partidos aliados compara o momento atual ao da conspiração para depor Getúlio Vargas, em 1954, e com o golpe de 1964, que derrubou o presidente João Goulart. Por trás dessas maquinações, os signatários identificam golpistas acusados de querer transformar o mensalão em um julgamento político e dessa forma desestabilizar o governo e as conquistas do lulopetismo – o mesmo discurso, aliás, adotado pelo senador Roberto Requião em discurso proferido no Senado na terça-feira passada. Nem mesmo os ministros do Supremo foram poupados de críticas indiretas por marcarem o julgamento para um período próximo ao das eleições municipais de outubro.

Poucos dias depois da divulgação da nota, parlamentares da base aliada foram a público criticando não apenas o teor da nota, mas também o modo como ela foi divulgada. Os senadores Pedro Taques e Cristovam Buarque, ambos do PDT, negaram a existência de qualquer "clima golpista" e disseram não ter sido consultados antes que a presidência da legenda endossasse a nota; um parlamentar do PMDB afirmou ao jornal O Estado de S.Paulo que o texto chegou pronto para ser assinado pelo presidente do partido, Valdir Raupp.

O esforço para blindar Lula é pura cortina de fumaça diante das inevitáveis consequências dos graves equívocos éticos cometidos por um partido que, após ascender ao poder, envolveu-se em lamentáveis negociatas em nome de um projeto de longa duração. Contrariamente ao que querem fazer supor alguns próceres petistas, o julgamento do mensalão vem demonstrando não um clima de instabilidade, mas o amadurecimento das instituições do país. Enquanto no plenário do STF o julgamento se desenrola segundo o cronograma previamente definido pelos ministros, fora dele a vida segue o seu curso normal; tudo na mais absoluta ordem e paz, como é de se esperar em um regime democrático.

De incongruente nesse momento histórico da política nacional só mesmo o destempero daqueles que, diante das mazelas cometidas pelo partido que abraçam, se defendem com a velha tática de atacar a torto e a direito. Postura que, em última análise, só depõe contra o próprio PT ao pretender abafar as críticas pelos malfeitos cometidos com argumentos fantasiosos e sobejamente conhecidos.

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