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Em 2013, tudo começou por causa de 20 centavos. Agora, são 50 centavos – o valor do reajuste nas passagens de ônibus e metrô determinado respectivamente pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e pelo governador paulista, Geraldo Alckmin, no fim de dezembro do ano passado e que começou a vigorar em 6 de janeiro. O valor passou de R$ 3 para R$ 3,50, mas Haddad concedeu tarifa zero para estudantes da rede pública e universitários cotistas, bolsistas do Prouni e beneficiários do Fies. Mesmo com as novas isenções, como era de se imaginar, o Movimento Passe Livre decidiu protestar nas ruas de São Paulo, na sexta-feira passada.

E, assim como tantas daquelas grandes manifestações de 2013, a de 9 de janeiro seguiu o roteiro que começou com mobilização pacífica e terminou em depredação – graças, evidentemente, aos vândalos black blocs, que se juntaram ao protesto quando ele se dirigia do Centro de São Paulo para a Avenida Paulista. Comerciantes mais precavidos baixaram as portas, mas isso não impediu a depredação de duas concessionárias de veículos, duas lanchonetes e três agências bancárias em vários pontos da região, além de inúmeras pichações e lixeiras incendiadas.

O conflito com a polícia começou quando os black blocs tentaram invadir uma agência bancária ainda antes que a marcha chegasse à Avenida Paulista. Os policiais usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha, e foram atacados inclusive com coquetéis-molotov, artefato cuja simples posse já demonstra a intenção criminosa dos depredadores. No fim, houve seis feridos e 53 pessoas detidas.

Uma das lições de 2013 e 2014 (que, lembremos, foi o ano em que o cinegrafista Santiago Andrade morreu, atingido por um rojão) foi a de que, se houve algo que tirou força das grandes manifestações de rua, foi justamente a ação dos black blocs, que espantaram os demais cidadãos conscientes. Já naquela época, sabia-se que os vândalos tinham sua rede de apoio, seja material, seja intelectual. Na academia, não foram poucos os que criaram um arcabouço teórico para justificar as barbaridades cometidas pelos depredadores; artistas manifestaram apoio aos black blocs; até o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro, comentando a morte de Andrade, preferia responsabilizar a empresa jornalística onde o cinegrafista trabalhava por não ter fornecido equipamentos de proteção, em vez de pedir a punição dos verdadeiros culpados; e, também no Rio de Janeiro, professores em greve prestigiaram a presença de black blocs em suas manifestações, com direito a gritos de guerra.

Na primeira manifestação de 2015, o que se percebe é que esse apoio não diminuiu. O Movimento Passe Livre resolveu tomar as dores dos vândalos. Em nota divulgada após a passeata, não menciona as depredações em nenhum momento; prefere apenas dizer que "Alckmin e Haddad respondem só com violência: tiros, bombas e prisões contra quem se manifesta", dando sequência ao processo, visto também em 2013, de demonização da força policial para que ela seja considerada "culpada até prova em contrário" e, temerosa da repercussão negativa de suas ações, acabe se omitindo diante de novos atos de vandalismo. Antes mesmo da manifestação do dia 9, o MPL já tinha recusado o convite da Polícia Militar para discutir o roteiro da passeata, desrespeitando a legislação e fazendo pouco do direito de ir e vir dos demais cidadãos paulistanos.

O direito à manifestação é fundamental; mas precisa ser exercido conforme a lei e de maneira pacífica – nada disso ocorreu na semana passada. Um novo protesto está marcado para hoje; que desta vez os vândalos black blocs não voltem a ser acobertados por aqueles que deveriam repudiar suas ações.

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