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Nas últimas semanas foram divulgadas as demonstrações financeiras das instituições que operam no mercado bancário brasileiro. Verificou-se, de maneira geral, que a queda dos lucros foi modesta ou, em alguns casos, o aumento dos mesmos ficou abaixo do esperado. Entretanto, não há motivo para alarme e nem compadecimento da eventual penúria dos banqueiros nacionais, pois o lucro trimestral das instituições continua na casa dos dez dígitos.

Em particular, chamam atenção as justificativas apresentadas pelos bancos para a frustração das expectativas de aumento de seus lucros. Todas as notas veiculadas pela imprensa mencionavam o aumento da inadimplência como uma das causas da desaceleração do desempenho das principais instituições. Ora, um banco destacar o impacto da inadimplência sobre sua receita equivale a um vendedor de guarda-chuvas reclamar da queda de vendas apontando para a sequência de dias ensolarados. Inadimplência é o que se chama de "risco do negócio", ou seja, é custo inerente à atividade empresarial, e como tal deve ser reconhecido. Assim, não cabe à sociedade aceitar o tom alarmista instalado quando o assunto é a queda do lucro dos bancos. Razão para alarme há quando é considerada, isso sim, a situação dos inadimplentes e do mercado de crédito brasileiro como um todo.

Aproximadamente depois de uma década de expansão (em 2002 o crédito concedido era equivalente a 30% do PIB; em 2012, é de 50%), a concessão de crédito enquanto mola propulsora do crescimento econômico brasileiro começa a emitir sinais inequívocos de desgaste.

Em 2009, quando a recessão mundial ameaçava o Brasil, a expansão do crédito e o corte de impostos foram os instrumentos usados pelo governo para animar a economia interna. Em face das incertezas atuais causadas pela economia europeia, mesmo com os seguidos cortes de juros efetuados pelo Banco Central, a estratégia corre o risco de não mais funcionar.

Portanto, o preocupante na mensagem dos bancos não é a queda dos lucros, mas o velado reconhecimento de que o setor financeiro privado não está disposto a abrir mão de sua atual e confortável posição em nome de uma absolutamente necessária expansão de crédito, fundamental para a manutenção do crescimento da atividade econômica.

A mensagem que a sociedade deve absorver é que os bancos parecem determinados a ter mais cuidado nas futuras concessões de crédito, em nome de suas generosas margens de lucro. Ao mesmo tempo o ambiente econômico incerto vai garantindo ao Brasil fraco crescimento do produto no exercício. Uma resposta razoável seriam as reformas micro e macroeconômicas de que o país necessita. Um exemplo de reforma microeconômica é o cadastro positivo, que diminuiria o custo do crédito pessoal – uma redução ainda maior que poderia acontecer desde já mesmo nas condições atuais.

A tragédia é que novamente se abate sobre nós a desconfiança de termos perdido outro encontro com a história. Entre 2005 e 2010 tivemos inúmeras oportunidades de realizar mudanças que capacitariam nossa economia a crescer de forma contínua e ordenada por gerações. As oportunidades, no entanto, foram descartadas no interesse de casuísmos político-eleitorais. Diante disso tudo, fica a pergunta: continuará o Brasil surfando em marolinhas com a mesma desenvoltura com que o fez em mares mais propícios na última década?

Edson José Ramon é presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP).

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