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O aparato policial, visto pela lente de Marx, é músculo da burguesia para oprimir o operariado e manter a dominação. A polícia, nessa linha, é desnecessária e odiosa porque serve à opressão. O Estado é rude, não os indivíduos. Esses, quando praticam algum ato de força, o fazem resistindo à exploração. Assim, toda violência provinda da polícia é ilegítima e a das pessoas, especialmente das pobres, legítima e não deve ser punida. Em alguns momentos a violência de indivíduos e grupos é objeto de incentivos, a exemplo da reação de vários governos diante de extorsões, cárceres, invasões praticadas por silvícolas e outros segmentos que fazem da brutalidade o seu modo de ação política.

Para quem acredita que a violência decorre da pobreza, basta o poder público se empenhar para mitigá-la e haverá redução da violência. É famosa a resposta de Brizola, quando governador do Rio de Janeiro, ao ser instado a que polícia subisse o morro: "Subirá um dia; antes, porém, quem vai subir é a saúde e a educação". Via de regra, esse pensamento ao assumir o governo tem retórica de desvalorização da polícia, ressaltando os aspectos negativos como corrupção e violência, sem enfrentar esses problemas. Além disso, deixa a instituição à mingua administrativa, alocando-a à margem das prioridades políticas.

Prognóstico autorrealizável: a polícia é ruim, não vale a pena investir. Com isso, de fato, a polícia fica péssima, sem treinamento, motivação, equipamento, instalações, disciplina, compromisso. As delegacias de polícia causam espanto com as celas abarrotadas e pelas precárias condições de trabalho dos policiais carentes de móveis, computadores, internet, cadeiras, iluminação, areação. Lugares insalubres, ofensivos à dignidade de quem passa por lá como vítima ou algoz. Imagine-se a lesividade para os que laboram diariamente. Trabalhar em ambiente tão ruim é deprimente, dá sensação de irrelevância, rejeição.

Homens e mulheres em salas encardidas, escuras, por toda a vida, em situação de constante perigo por causa dos resgates de presos, roubo de armas, viaturas caindo aos pedaços, colegas corruptos que não são expulsos. Ao conhecer a precariedade da polícia, que pai sonha em ver o filho com o distintivo ou a farda?

Os fatos demonstram que violência e pobreza não são diretamente proporcionais. A desigualdade econômica diminuiu e a violência aumentou. Sociedades com pleno emprego e melhora na distribuição de renda precisam de polícia para garantir a ordem. Contudo, o estigma sobre a atividade policial está incrustado na cultura e falta coragem política para afirmar que segurança é tão importante quanto saúde e educação. A rigor, é a condição que permite a distribuição dos bens sociais. Ausente a polícia, escolas, postos de saúde, bibliotecas, fóruns não funcionam.

Disciplina e honestidade são atributos primários para qualquer servidor público. Com muito mais intensidade para os policiais, visto que têm a incumbência de segurança pública. A sociedade deve exigir polícia de boa qualidade. No dia em que a instituição for admirada a ponto de as crianças desejarem ser policiais, teremos atingido o padrão moral e material de sociedade civilizada.

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