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Se você, paciente leitor, não encontrar este texto na Gazeta de domingo (e nem a Gazeta), é sinal de que eu estava errado e o mundo realmente acabou. Mas acho que a chance de que isso aconteça é relativamente remota; mesmo porque, se acontecer, deixar de ler o jornal do dia será o menor de nossos problemas.

Fazer previsões é um esporte milenar com resultados pífios que frequentemente levam os profetas ao ridículo: a frase de Darryl Zanuck, o grande produtor cinematográfico, a respeito do futuro da televisão é célebre: tratava-se de uma moda passageira, pois logo as pessoas se cansariam de ficar "sentadas olhando para uma caixa de madeira compensada". Outras vezes, levaram ao desastre, como a incapacidade do marechal Foch, a maior autoridade do Exército da França depois da Grande Guerra de 1914-18, em reconhecer a importância futura da força aérea: "aviões são brinquedos estupendos, mas não têm qualquer valor militar". Vinte anos depois, a Blitzkrieg alemã derrotou e humilhou os franceses com o apoio decisivo da aviação.

O curioso é que as previsões furadas mais conhecidas foram feitas por gente muito preparada, que supostamente deveria saber de que estava falando. Profecias de indivíduos lunáticos nem chegam ao conhecimento de ninguém, a não ser de outros lunáticos que acreditam neles. Mas, no caso dos lúcidos, o que chama a atenção é o desprezo pela experiência passada de outros profetas ilustres, o que deveria sugerir cautela para não fazer previsões muito taxativas e não queimar a língua também.

Algumas das realidades dominantes de nosso mundo contemporâneo não foram imaginadas a não ser por muito pouca gente. Quem previu o impacto da internet, por exemplo? Quem imaginava que, em menos de 40 anos, qualquer pessoa no mundo estaria conectada instantaneamente com outros 2 bilhões de habitantes do planeta, podendo enviar e receber mensagens instantaneamente? Que cientista social previu a importância das comunicações instantâneas nos movimentos políticos que levaram à Primavera Árabe, por exemplo?

E quem imaginava que as pessoas, cada vez mais ávidas em proteger sua privacidade pessoal e familiar, se jogassem de cabeça nesse monstrengo chamado de "redes sociais", onde compartilham segredos e informações importantes sem nenhum cuidado (ao lado, é claro, de informações vitais para o conhecimento de terceiros como a fotografia do vinho que se está tomando na sala VIP de algum aeroporto ou o prato que se está comendo em um restaurante da moda...)?

Porém, pior ainda que os que acreditam piamente nas previsões é a multidão dos que não acreditam nas realidades por mais comprovadas que estejam. 29% dos norte-americanos, por exemplo, ainda não acreditam que o homem pisou na Lua e dizem que tudo foi uma encenação feita em um estúdio de cinema em um lugar secreto no estado de Nevada chamado de Área 51. E milhões deles duvidam que Elvis tenha morrido, enquanto outras centenas de milhares acreditam que quem matou o presidente Kennedy foi o próprio motorista do carro em que estava...

Como brasileiro, sou especialmente refratário a acreditar em profecias. O ministro Mantega está aí mesmo para desmoralizar as previsões com seus chutes sobre o crescimento do país. Mas sejamos tolerantes, pois isso até se justifica: como já disse alguém, o Brasil é um país tão estranho que até o passado é imprevisível...

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.

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