• Carregando...

O Brasil se viciou em associar melhorias na educação com investimento monetário. É uma meia-verdade: professores precisam avançar nas práticas pedagógicas, dando ouvidos a crianças e adolescentes para saber o que aprendem de fato

Foi um tabefe bem dado a declaração da presidente Dilma Rousseff, na quinta-feira passada, de que um país não se mede pelo PIB, mas pelo que se faz às crianças e adolescentes. A frase deveria estar estampada nos pontos de ônibus e ser projetada nos cinemas, para que seja lembrada e cobrada, inclusive, de gente como Dilma, para que não fique no discurso e vá às vias de fato no país em que apenas 26% da população brasileira é plenamente alfabetizada.

O problema do ensino no Brasil, sabe-se, é qualidade. E tudo indica que o próprio setor educacional se esquiva dessa briga – tendendo a passar a borracha na insatisfação explícita da turma das carteiras, negando-lhe ouvidos. Nas camadas mais empobrecidas, inclusive, os alunos acham mais vantajoso arrumar um trabalho do que gastar horas e horas numa sala de aula e não aprender nada.

É uma ferida aberta – menos da metade dos que ingressam no ensino básico chegam ao final do ensino médio; 20% chegam às faculdades, fazendo do Brasil um modelo às avessas. Os que cutucam essa realidade, como a secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro, Cláudia Costin, ficam expostos às sapatadas, atiradas pelos que não admitem críticas ao modelo pedagógico corrente, criminosamente alheio às práticas na sala de aula. As consultas junto aos professores confirmam essa mentalidade: ensinar não aparece como a obrigação primeira da escola, cuja missão seria formar o senso crítico. Cá entre nós, a educação no Brasil pode estar sujeita ao inferno das boas intenções.

Como mostra o economista Gustavo Iochpe, autor do livro O valor da educação no desenvolvimento do Brasil, o que mais prejudica a prática docente é o desprezo aos talentos individuais e aos resultados. O professor tem de chegar à sala de aula sabendo ensinar. Aí é que são elas. Há de se prestar atenção no que declarou há pouco a psicóloga Viviane Senna, ao se tornar finalista do prêmio Grand Prix do banco francês BNP Paribas. Embora costume exagerar na afirmação de que a escola pública deveria se pautar na eficiência da iniciativa privada, a presidente do Instituto Ayrton Senna acerta ao apostar nas experiências de aprendizado como salvação da lavoura.

Ao motivar práticas aqui e ali, atingiu 2 milhões de crianças brasileiras de 1,3 mil municípios, reciclando 70 mil professores por ano. Senna e sua equipe estão "mexendo nos queijos", como se diz, alterando a equação: com melhorias no ensino básico o aluno encontra condições de progredir na escola. Já passa da hora, afinal.

Como afirma Viviane, qual o destino de um hospital que visse morrer metade dos seus pacientes ou de uma empresa que perdesse metade de sua produção? Pois a escola assiste a esse descarte, não é de hoje, repetindo ao infinito o modelo em que a escola responde apenas por 30% do aprendizado, deixando os outros 70% para a família. Como os pais não conseguem fazer sua parte, está armada a tragédia.

Pode ser diferente. Os dados estão aí para comprovar – não poucos países refizeram os investimentos, as políticas, mas principalmente na forma de passar conteúdos. Foi o que ocorreu na paupérrima Cuba, estudada pelo norte-americano Martin Carnoy. Mesmo em frangalhos, o sistema de ensino da ilha de Fidel é um primor em matéria de avaliações. Provas, exercícios e demais atividades que firmam o aprendizado são acompanhados por notáveis da educação.

Exemplos mais, não faltam. Fala-se dos avanços da Coreia do Sul e da China, por exemplo. Colômbia? Tanto melhor – se há em que se mirar, o Brasil pode esboçar sua revolução educacional. Não vai doer tanto, dá para assoprar – o país mostrou na última década que consegue manter as crianças do ensino básico na escola. O próximo passo é garantir que os alunos gozem de seu direito ao conhecimento. Vale mais que o PIB. Que dona Dilma nos garanta.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]