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O país tem perdido espaço e oportunidades quanto à sua integração internacional. Basta, nesse sentido, a análise do avanço qualitativo dos produtos e serviços brasileiros na esfera mundial, e da marca relacionada ao Brasil para perceber isso. De uma maneira geral, o Brasil continua em uma versão século 21 do seu perfil de exportador de commodities, com alguma complementaridade industrial de baixa e média complexidade. Ou seja, um modelo de inserção internacional que não ajuda a reverter o processo de relativa desindustrialização do país e é particularmente desarticulado às prioridades de nossas regiões mais produtivas e eficientes. O Brasil aumentou consideravelmente nas últimas décadas o seu volume de comércio internacional, mas não mudou o seu padrão qualitativo: há ainda uma considerável falta de articulação de global trader, e um comprometimento nos últimos anos do resultado comercial do país em razão de certa deterioração macroeconômica, com padrões ainda altos de oscilação cambial, e dispersão de foco.

Há sérios desafios e mudanças de estratégia para quem tem capacidade de influenciar e executar a política de inserção econômica global do país: no âmbito das disputas que virão, o entendimento das tendências e disputas em torno do conceito de "economia verde", energia e combustíveis que pautarão essa e a próxima década, e um posicionamento mais assertivo do que o pedido de 39 barreiras comerciais junto à Organização Mundial do Comércio (OMC).

Geralmente, quando as economias entram em recessão ou desaceleração, há um surto de medidas protecionistas. Em parte pela demora na recuperação econômica dos EUA e União Europeia, há a perspectiva do aumento de práticas desequilibradas de apoio à produção, como o seguro agrícola nos EUA, e da continuidade das disputas da União Europeia em torno da redução "temporária" de impostos industriais no Brasil.

A inserção nas correntes econômicas mundiais de maior valor agregado depende não apenas de um sistema de vigilância e inteligência comercial e competitiva mais ágil e integrado, mas principalmente da competitividade de corporações industriais, e da sua integração às cadeias produtivas e empresas líderes globais; de uma política constante de promoção da marca e da origem Brasil; e de um posicionamento estratégico como região industrializada preferencial da América do Sul, ao mesmo tempo em que pratica um agronegócio competitivo com controle de qualidade, logística e produtividade. Ou seja, uma política de bloco regional com lógica econômica, e não apenas política, em conjunto com um posicionamento de atuação junto aos grandes mercados que possibilite às empresas promoverem, em uma ou duas décadas, a mudança da matriz de comércio do Brasil na direção de um perfil mais adequado às necessidades de geração de choques de competitividade e inovação em uma economia diversificada de renda média dentro dos padrões globais, que é a nossa realidade atual.

Gustavo Grisa é economista, com MBA pela Thunderbird Global School, e especialista do Instituto Millenium.

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