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A secretária americana de Estado anunciou que vai ao Oriente Médio pressionar pela manutenção do calendário de retirada israelense da Faixa de Gaza e de partes da Cisjordânia. Essa operação, prometida para agosto próximo pelo primeiro-ministro Ariel Sharon, é fundamental para consolidar a nova presidência palestina e trazer esperança de paz para a conturbada região – berço de tensões que hoje preocupam o mundo inteiro. Por isso todas as pessoas interessadas na prevalência da paz devem se alinhar com a proposta da srta. Condoleeza Rice, mobilizando esforços para que o Estado de Israel devolva a jurisdição da Faixa de Gaza para a Autoridade Palestina.

A propósito, é natural que à medida que se aproxima o prazo de retirada, marcado para meados de agosto, as tensões ganhem um grau de acirramento crescente, traduzido em bmanifestações de grupos ligados aos colonos israelenses, de radicais palestinos, que se opõem tanto a Israel quanto à Autoridade Palestina, e até de forças de segurança de Israel e do governo palestino. O quadro se agravou nos últimos dias com os ataques lançados por terroristas palestinos contra alvos israelenses – um deles inclusive matando a jovem Dana Gelkovitich, filha de um imigrante brasileiro que residia no kibutz de Bro Chail. A esse atentado se seguiram atos de retaliação de Israel, como o lançamento de ataques seletivos contra militantes palestinos, cerco de áreas por tropas e novos conflitos na área fronteira entre os dois Estados.

Concordamos que o quadro se agravou e seus desdobramentos preocupam, mas o cronograma da retirada precisa ser mantido, com a adoção de todas as medidas de segurança necessárias por parte de ambos os governos. Numa avaliação mais ampla o governo israelense de Sharon tem responsabilidade na remoção das colônias instaladas em território ocupado, porque tais ampliações foram conduzidas sob estímulo direto do partido político liderado pelo primeiro-ministro. O novo governo palestino de Abu Mazen também deve se empenhar na contenção de seus radicais, sob pena de ter a legitimidade afetada, perdendo o apoio internacional que lhe cercou a escolha como sucessor do líder Iasser Arafat.

O cenário do Oriente Médio ainda envolve tensões no Iraque e Afeganistão, onde os novos governos instalados, após a intervenção ocidental liderada pelos Estados Unidos, não reuniram meios de consolidação. Tais choques se desdobram em muitos níveis, alimentando um enfrentamento entre povos islâmicos e nações ocidentais que pode ser a razão indireta dos atentados terroristas que ensangüentaram a cidade de Londres, na Grã-Bretanha, há uma semana. O fundamentalismo islâmico presente no grande arco geográfico – que vai do Norte da África, passando pelo Crescente Fértil, até a franja chinesa – se defronta em nossos dias com governos tão diversos como os da Rússia, da Tailândia e da Indonésia.

No plano internacional, ainda, existe um projeto de ampliação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas – vital para resgatar seu alcance – lançado por dois grupos de países: o primeiro junta emergentes como o Brasil e Índia a nações industrializadas como o Japão e Alemanha; o segundo, representado pela União Africana. Tal conjunto de países levou o tema para o exame da atual Assembléia-Geral da ONU, embora ainda enfrentando resistência de alguns membros permanentes daquele organismo.

Independentemente do sucesso do pleito dos africanos, o notável na questão é o grau de coesão que eles exibem para os demais do mundo. Essa posição contrasta com a atuação dos sul-americanos, exibida na recente eleição do diretor-geral da Organização Mundial de Comércio e que se repete agora, no processo de escolha do novo presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento. A sucessão do veterano Enrique Iglesias evidencia a divisão sul-americana, havendo candidatos apresentados pela Colômbia, Bolívia e Brasil. Enquanto tal situação persistir, continuará restrito o papel internacional do continente.

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