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A novela nacional – agora sabemos – é um dramalhão. "Há uma nuvem de lágrimas..."

Já choraram, em público, nos últimos dias, o presidente Lula, o publicitário Duda Mendonça; a mulher de Marcos Valério, Renilda Maria Santiago de Souza; a ex-secretária de Marcos Valério, Karina Somaggio; a ex-mulher do ex-deputado Valdemar Costa Neto, Maria Cristina Mendes Caldeira; em coro, choraram os deputados petistas Dr. Rosinha, Chico Alencar, Dra. Clair, Desconsi, Maninha, Nazareno Fontelles, Walter Pinheiro... Muitos outros devem andar chorando pelos cantos, a portas fechadas. Uns, acuados; outros, indignados, frustrados.

O momento, porém, não é para derramamentos sentimentais, mas para lúcida compreensão do que está acontecendo. É para pensar.

A cada novo depoimento nas CPIs vai ficando claro que não estamos lidando apenas com a decadência de um partido que chegou ao poder, mas com uma crise nacional, uma fraqueza da nossa jovem democracia, pelo que tudo indica, posta em prática desde o fim da ditadura.

Não querendo livrar a cara do PT, que errou infantilmente por assimilar prática frontalmente contra seus princípios básicos, mas as demais legendas que aí estão têm agido todas de modo semelhante. Não riam, pois, aqueles que falam como se estivessem acima do bem e do mal, porque seria puro cinismo. Bem investigadas, as composições de poder e as campanhas eleitorais dos últimos tempos, no país, pecam todas pelos mesmos vícios: arrecadações milionárias, aceitando inclusive recursos de origens suspeitas, para eleições e sustentação de partidos; doações interesseiras de empresas de olho na obtenção de vantagens; gastos absurdos com marketing (o marqueteiro do PT confessou ter cobrado R$ 25 milhões por um "pacote de serviços" ); negociatas entre grupos políticos, entrando no jogo a distribuição de cargos públicos; uso da máquina e de recursos oficiais; distribuição de mesadas a aliados; empréstimos bancários insustentáveis; surgimento de figuras vampirescas como PC Farias e Marcos Valério; formação de caixa 2 e efetuação de pagamentos "por fora", como afirmou o publicitário Duda Mendonça; de quebra, roubalheira.

As CPIs em andamento no Congresso poderiam ser resumidas em uma só, portanto. São impróprias as denominações CPI dos Correios e do Mensalão. O objeto a investigar, o foco mesmo da questão é a maneira descarada como se tem feito política no país. Resta saber se haveria coragem no Congresso para entrar nesse pântano...

O dilúvio (não ler Delúbio) teria dado à humanidade a chance do recomeço. O risco de se constatar que está tudo errado é a recorrência ao insustentável mito do começar tudo de novo, afogando todo mundo no aguaceiro. E já há insinuação de formação de uma Assembléia Nacional Constituinte, com a missão noelina de criar uma nova Constituição, essa sim capaz de dar início a um novo Brasil, sanar todos os problemas... A humanidade pós-Noé é melhor do que a anterior.

Não é por aí. Temos que partir de onde estamos e do que somos e temos. Realismo antes de tudo. Uma sábia iniciativa para começar a corrigir imoralidades e irregularidades nas gestões partidárias é simplesmente fazer a contabilidade correta das atividades. Transparência é a palavra. É o que vêm tentando fazer alguns órgãos públicos, por força da Lei de Responsabilidade Fiscal e do Sistema Integrado de Administração Financeira Federal (Siafi). A Câmara dos Deputados, por exemplo, que neste ano tem um invejável orçamento (R$ 1,9 bilhão contra R$ 1,7 bilhão do Fome Zero) vem expondo todos os seus gastos na internet (www.camara.gov.br). Sem necessidade de senha, qualquer cidadão pode conferir até as despesas com a limpeza da piscina do presidente da Casa, Severino Cavalcanti. Transparência. Não adianta chorar.

mauricio@crcpr.org.br

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