• Carregando...

A União Europeia vive a sua maior crise e o Mercosul, sempre envolvido em apuros, encara uma fratura alarmante. A hora parece ser do "eu sozinho"; a crise internacional é tão séria que ninguém quer um náufrago pendurado no pescoço.

No exato momento em que a humanidade começou a perceber as vantagens da agregação, as entidades transnacionais correm em direção da desagregação. Mal conseguimos divisar as benesses do multilateralismo e já estamos ameaçados pela maré montante do isolacionismo.

A vida associativa, gremial, exige uma base regulatória, a codificação da convivência, na qual as partes devem abrir mão de parcelas de soberania em benefício do todo. O Mercado Comum Europeu nasceu limitado pelo escopo (utilização coletiva do carvão e do aço) e pelo número de parceiros (seis), mas ao longo de 61 anos saltou para 27 membros, converteu-se na maior experiência federativa e democrática da história da humanidade, saltou para a união monetária, mas trancou-se em matéria fiscal.

Quando a Grécia descobriu que, além do fenomenal acervo de ruínas históricas, estava arruinada pela insolvência, apareceram brechas em todo o edifício europeu. A solução não é menos Europa – ao contrário, é mais Europa, maior federalismo.

O Mercado Comum do Sul (Mercosul), também umbilicalmente comprometido com o estado de direito democrático, sedimentou-se como aliança comercial e logo passou a aliança aduaneira, porém restrita aos quatro fundadores. O golpe parlamentar no Paraguai há duas semanas e a tola punição imposta pelos demais parceiros de suspendê-lo como Estado embro até as próximas eleições criou inédita situação nos 21 anos de existência da entidade: um dos países fundadores e cujo idioma – o guarani – fornece o seu terceiro nome (Ñemby Ñemuha), além de excluído da Entente, foi substituído por um Estado adversário.

Paraguai e Venezuela se engalfinham numa disputa política, nada diplomática, que tende a se converter em incontornável impasse quando o nosso vizinho realizar a eleição presidencial em abril de 2013, retornar à plenitude democrática e reivindicar o seu assento histórico.

A solução sul-americana deve ser idêntica à preconizada pelos patriarcas da União Europeia: mais América do Sul. E quem a preconiza é o mais interessante dos líderes sul-americanos, José "Pepe" Mujica, presidente da República Oriental do Uruguai, que sugere a junção do Mercosul com a Unasul, criando-se um bloco com 12 associados capaz de sobrepor-se à monótona gangorra dos atritos comerciais entre argentinos e brasileiros e oferecer uma agenda efetivamente sul-americana.

Mais federação e menos protagonismo: a fórmula é excelente para prevenir crises e acabar com confrontos. O "eu sozinho" exacerba nacionalismos, triunfalismos e, além disso, não é eficaz. Viver em comunidade pode oferecer sobressaltos, mas é mais cômodo. É mais moderno.

Alberto Dines é jornalista.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]