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Empresário Jorge Atherino, réu em ação penal ligada à Operação Piloto.
Empresário Jorge Atherino, réu em ação penal ligada à Operação Piloto.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

O empresário Jorge Atherino admitiu à Justiça Federal nesta quarta-feira (8) que procurou um funcionário da Odebrecht em 2014 para pedir apoio financeiro à campanha de reeleição do então governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), e que o pleito foi de fato atendido, mas via caixa 2. Atherino também revela que entrou em contato com a Odebrecht atendendo a um pedido de Juraci Barbosa Sobrinho, que na época era o tesoureiro da campanha eleitoral, e de José Richa Filho, o Pepe Richa, então secretário estadual de Infraestrutura e Logística e irmão de Beto Richa. Em manifestações anteriores sobre o tema, os dois já negaram ilegalidades. Na noite desta quarta-feira (8), a Gazeta do Povo não conseguiu contato com eles.

É a primeira vez que Atherino admite o repasse ilegal. Ele foi questionado sobre isso durante seu interrogatório na ação penal que tramita na 23ª Vara Criminal de Curitiba desde setembro do ano passado, e na qual ele e outras nove pessoas respondem por crimes como corrupção e lavagem de dinheiro. Cinco réus foram ouvidos nesta quarta-feira (8); os outros cinco já tinham sido interrogados na terça-feira (7). O processo tem ligação com a Operação Piloto, que é uma investigação derivada da Operação Lava Jato. A defesa de Atherino pediu recentemente para transferir o processo para a Justiça Eleitoral, o que foi negado.

“O comitê da campanha me convocou para uma reunião. O Juraci e o Pepe. Me pediram apoio à campanha e eu falei que naquele momento não tinha como ajudar. Perguntaram se eu poderia conversar com alguns empresários. Me deram um panorama de alguns empresários e um deles era a Odebrecht. Como o Luciano Pizzato já tinha estado comigo, eu falei que poderia falar com ele. E foi o que eu fiz. Eu sabia que ele era funcionário da Odebrecht, não sabia que ele era diretor”, iniciou Atherino.

Ele se refere ao engenheiro civil Luciano Ribeiro Pizzato, réu no mesmo processo, e que em 2014 atuava como diretor de contratos da Odebrecht em Curitiba. Em depoimento já prestado no mesmo processo, Pizzato também admitiu o contato com Atherino e a doação eleitoral via caixa 2. “Eu fui apresentado a ele [Luciano Pizzato] no final de 2013. Entre janeiro e fevereiro de 2014, ele me procurou querendo comprar alguns lotes nossos. Mas nenhum negócio foi fechado com ele”, explicou Atherino.

“Eu fui à Odebrecht em junho, perguntei se eles iriam participar da campanha e eles ficaram de me dar um retorno. Passados uns 10 dias, o Luciano Pizzato me retorna dizendo que iria participar da campanha, com R$ 4 milhões, mas que teria uma dificuldade: o dinheiro é por fora. Daí eu vou ter que falar com as pessoas para saber se pode ou não. Conversei com o Pepe e com o Juraci. Eles não me responderam de pronto. Demorou uns 15, uns 20 dias, para me responderem. E daí eu voltei ao Luciano dizendo que eles aceitariam o caixa 2”, continuou Atherino.

Embora tenha admitido uma intermediação, Atherino nega que o dinheiro tenha relação com a Parceria Público-Privada (PPP) formatada pelo governo do Paraná entre 2013 e 2014, para realização de obras de melhoria na PR-323. A licitação da PPP foi vencida por um consórcio encabeçado pela Odebrecht e, na versão do Ministério Público Federal (MPF), o grupo empresarial recebeu ajuda do então chefe de gabinete de Beto Richa, Deonilson Roldo, para ganhar a concorrência. Em troca, ainda segundo o MPF, a empreiteira teria se comprometido com os R$ 4 milhões.

Mas Atherino afirma que não participou “de nada relacionado à obra da PR-323” e que nunca teve contato com Deonilson Roldo para tratar dos R$ 4 milhões. “Deonilson Roldo não teve nenhum envolvimento”, afirmou o empresário. Réu no processo, Roldo também prestou depoimento à Justiça Federal nesta quarta-feira (8), negando qualquer participação nos crimes apontados pelo MPF. Os dois chegaram a ficar presos preventivamente, na esteira da Operação Piloto, entre o final do ano passado e o início de 2019.

Na audiência desta quarta-feira (8), Atherino só concordou em responder às perguntas elaboradas pela sua própria defesa. Diante do alerta de que permaneceria em silêncio, nem o juiz federal Paulo Sérgio Ribeiro, nem o representante do Ministério Público Federal (MPF), fizeram perguntas a ele. Todo o depoimento dele durou 15 minutos.

“Fiquei com medo”

Em seu depoimento, Atherino também deu detalhes sobre como teriam ocorrido os repasses de dinheiro, até se chegar à soma prometida, de R$ 4 milhões. A primeira entrega, em setembro de 2014, foi no valor de R$ 500 mil, e Atherino conta que ele próprio se encarregou de receber o dinheiro.

“Eles disseram que tinha que ser em São Paulo, e não em Curitiba. Eu mesmo fui buscar. Dei o endereço da casa da minha família em São Paulo. Eu não vi problema. Eu achei que iria chegar um diretor da Odebrecht, um gerente da Odebrecht... Chegou um boy, de chinelo, de calção. Fiquei muito desconfortável. Fiquei com medo. Não fiz as outras viagens”, revelou ele.

Atherino afirma que voltou para Curitiba e, na manhã seguinte, já deixou o dinheiro no comitê, para Pepe Richa. Ele também contou que, a partir daí, combinou que o comitê ficaria responsável por receber os demais repasses. “Eu só passava a senha da Odebrecht”, resumiu ele.

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