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Treinamento da prefeitura de Campinas para aferição do nível de oxigênio no sangue com oxímetro, equipamento que foi doado pelo Todos pela Saúde para municípios de todo o Brasil.
Equipamento é de fácil aplicação e mede nível de oxigênio no sangue.| Foto: Fernanda Sunega/Prefeitura de Campinas

O Paraná recebeu uma doação de 5.731 oxímetros de dedo que estão sendo distribuídos aos 399 municípios para serem utilizados pelas equipes de Atenção Básica do Sistema Único de Saúde (SUS) no acompanhamento de pacientes com Covid-19. O equipamento mede a saturação de oxigênio no sangue e indica quando a doença começa a se agravar, o que permite o internamento e tratamento precoce.

O protocolo de monitoramento foi definido pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), que está lançando junto com o Instituto Estáter a campanha Alert(ar), para conscientizar a população sobre a importância de monitorar a doença. A doação foi feita pela organização Todos pela Saúde, uma iniciativa do Banco Itaú financiada por dezenas de empresas. Em todo o Brasil, estão sendo entregues 104.581 dispositivos, segundo dados do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), que organizou a distribuição.

Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), as regionais de saúde estão retirando os oxímetros para distribuir às prefeituras. As cidades com mais de 100 mil habitantes receberam diretamente a doação. Em Curitiba, o novo protocolo foi adotado na segunda-feira (27), com equipes monitorando pacientes de três regionais: Tatuquara, Cidade Industrial e Bairro Novo.

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Foco da campanha são idosos

O foco do projeto é monitorar idosos de comunidades vulneráveis. “Queremos focar em pacientes com mais de 60 anos, porque a associação da idade com comorbidade leva ao risco maior de morrer”, afirmou o presidente da SBI, Clóvis Arns da Cunha, em transmissão ao vivo feita pelo Conasems na terça-feira (28). Ele destacou que a letalidade da doença entre crianças é quase nula, mas que nos mais idosos pode chegar a 20%. “Infelizmente os pacientes estão chegando nas unidades de atendimento com hipóxia avançada, que é a falta de oxigênio. É a hipóxia que mata o paciente, que leva à disfunção dos órgãos”, explicou. Ele destacou que, ao contrário de outros agravos, na Covid-19 não há falta de ar, e por isso muitos pacientes chegam em situação muito crítica ao hospital.

Segundo Pércio de Souza, engenheiro e fundador do Instituto Estáter, um desafio da campanha Alert(ar) será conscientizar as pessoas a buscar atendimento quando apresentarem sintomas respiratórios. A entidade promove ações com voluntários em comunidades carentes desde maio, época em que iniciou a busca por parcerias para atuação no Paraná. “Uma das experiências que tivemos foi ver a resistência muito grande das pessoas, principalmente aquelas com mais de 60 anos, em se identificar como paciente. Acham que vão ser discriminados, e que a única saída será ir para um hospital, talvez uma UTI, e ficar desconectados dos seus parentes. Então temos que fazer um trabalho de conscientização”, afirmou.

Monitoramento e tratamento

Desde o início da pandemia, o Instituto Estáter, formado por engenheiros, passou a recolher dados sobre casos, internamentos e mortes por Covid-19 em todo o mundo, que foram analisados com o apoio de infectologistas e outros profissionais de saúde. Souza apontou que a situação do Brasil segue um padrão mundial: um grande número de pacientes com Covid-19 é internado diretamente nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), com quadro já agravado; apenas uma pequena parcela é atendida em ambulatório. Em Curitiba e no Paraná, esse padrão também foi observado. “Precisamos trazer o paciente mais cedo para a enfermaria”, alertou Souza.

Segundo Arns da Cunha, o protocolo da SBI indica que o agravamento da Covid-19 ocorre em torno do sétimo dia após início dos sintomas. Quando a saturação ficar abaixo de 95%, o paciente deve ser encaminhado para atendimento médico. O infectologista diz que quase todos esses pacientes precisarão de internamento, mas poderá ser na enfermaria. “Vai poder receber tratamento barato e isso vai salvar vidas. A base será a oxigenioterapira, com cânula nasal, que tem em qualquer UPA ou qualquer hospital, a dexametasona, que pode ser até via oral, ao custo de R$ 1 por dia, e heparina, porque 40% desses pacientes vão ter alguma manifestação tromboembólica”, resumiu na transmissão do Conasems. A SBI está treinando seus médicos, que replicarão a informação para prefeituras de todo o Brasil.

Curitiba vai ampliar projeto

Curitiba, que recebeu 368 oxímetros doados, iniciou o monitoramento sob o novo protocolo na segunda-feira passada, e vai ampliar o monitoramento dos pacientes nesta semana. O diretor de Atenção Primária da Secretaria Municipal de Saúde, Juliano Gevaerd, destaca que as unidades de saúde já contavam com o dispositivo para as consultas rotineiras, mas que a partir de agora a capital paranaense adota um novo protocolo para os idosos com Covid-19.

“Estamos trabalhando com vários formatos. Ou vai uma equipe da unidade de saúde em que a pessoa está cadastrada ou do distrito sanitário correspondente. Farão a verificação do oxigênio, em muitos casos, de manhã e de tarde, na casa das pessoas que estiverem no sistema. Claro que para isso a pessoa precisa buscar o serviço de saúde ou teleatendimento”, explicou. A experiência que se iniciou em três distritos mostra que é viável o acompanhamento dos casos confirmados acima de 60 anos, disse o diretor. “É importante frisar que o acompanhamento ocorrerá entre o quarto e décimo dia de evolução dos sintomas, porque é a partir do sétimo dia que é considerado o ponto crítico, e por isso trabalharemos com uma margem de segurança”, destacou Guevard.

O projeto não prevê visitas domiciliares a pessoas abaixo de 60 anos com Covid-19, mas todas as unidades de saúde do município são equipadas com o aparelho. Além disso, desde que a epidemia de coronavírus começou, a prefeitura de Curitiba já tinha recebido algumas doações. Guevard destaca que há até oxímetros em aplicativos de celular, apesar de não atestar a confiabilidade desses aparelhos. “Quem tiver um aparelho em casa pode usar, como mais uma ferramenta no contexto da pandemia e, se achar necessário, buscar o atendimento da prefeitura ou o plano de saúde. Ao longo dos próximos dias, a prefeitura deve reunir dados sobre o monitoramento com os idosos. A expectativa é que o acompanhamento reduza o número de internamentos em UTIs e a demanda por respiradores.

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