Ouça este conteúdo
Destino de mais de R$ 800 milhões provenientes da Itaipu Binacional nos últimos dois anos, a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu (PR), apresenta uma Taxa de Sucesso na Graduação (TSG) abaixo da média nacional. A universidade federal criada pelo governo Lula em 2010 aprova apenas 3 de cada 10 estudantes que entram na instituição – a média da TSG nas universidades públicas federais foi de 46% em 2023.
O indicador é resultado de um cálculo realizado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) – no caso das universidades públicas federais – que leva em conta, entre outros fatores, a relação entre o número de alunos que concluíram a graduação e o total de matriculados dentro do mesmo período. Como exemplo, se em um determinado ano 100 alunos ingressam em um determinado curso e outros 80 se formam dentro do prazo regular, a TSG para esse curso será de 80%.
De maneira geral, a taxa de sucesso é uma forma de avaliar a efetividade de uma instituição de ensino superior na formação dos estudantes. Uma TSG baixa pode significar, entre outros pontos, uma reduzida capacidade das universidades em oferecer condições adequadas de ensino aos estudantes.
Baixo índice de formandos reflete falta de investimentos, avalia pró-reitor da Unila
A TSG na Unila atingiu, em 2024, o mais alto índice na série histórica disponibilizada pelo site da instituição - 32,95%. Em 2019, primeiro ano em que o indicador aparece disponível, o percentual de sucesso médio na graduação dos estudantes era de 24%. Em 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19, a taxa baixou para 22% - o menor índice da série.
“Felizmente estamos em uma crescente, uma inversão da curva”, avaliou o pró-reitor de Graduação da Unila, professor Antônio Machado Júnior. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele avaliou a importância da recuperação da taxa no período pós-pandemia.
“As universidades de modo geral estão enfrentando algumas dificuldades, seja no ingresso, no acesso ou mesmo na mudança de perfil dos estudantes. É algo significativo, e nós estamos nos adaptando a essas mudanças”, completou.
Para o pró-reitor da Unila, não há uma explicação única para justificar uma taxa de sucesso abaixo da média nacional. Um dos fatores, segundo Machado Júnior, é a necessidade de mais investimentos por parte da União no ensino superior.
“Toda universidade trabalha com três pilares: ensino, pesquisa e extensão. São pilares que demandam muito investimento, principalmente a pesquisa. Isso influencia no desenvolvimento, na implantação de uma universidade, de sua infraestrutura que muitas vezes não é barata. E o investimento tem impacto direto na atratividade das instituições, na captação e na permanência desses estudantes”, afirmou.
VEJA TAMBÉM:
Portal do MEC com dados das universidades está com conteúdo restrito
O Ministério da Educação, responsável pelas instituições de ensino superior públicas federais, concentra em uma plataforma própria os dados sobre as universidades. O portal Universidade 360 Graus foi criado em 2020 e apresenta, entre outros dados, as TSG de cada uma das instituições.
Disponível no Portal do Servidor do governo federal com dados atualizados até 2021, a plataforma mostra a Unila entre as 12 instituições com menor TSG entre as universidades federais, com uma taxa de sucesso de 26%. Os números, porém, refletem mais os impactos da pandemia no ensino superior do Brasil do que a situação atual das instituições.
Um exemplo é a Universidade Federal do Paraná (UFPR), que no portal disponível aparece com TSG de 17%, quarta pior universidade federal neste quesito em 2021. Uma consulta ao site da instituição mostra que em 2023, ano mais recente no balanço, a taxa de sucesso subiu para 53%. Naquele mesmo ano, a TSG da Unila foi de 27,7%.
Para pró-reitor, não é possível comparar Unila com outras federais
Para o pró-reitor de Graduação da Unila, não é possível comparar de forma equânime a universidade da tríplice fronteira com suas pares em outras regiões. Para Antônio Machado Júnior, as universidades instaladas há mais tempo e em grandes centros têm, naturalmente, um fator de atração maior do que a Unila.
“Essas contam com um ingresso e uma permanência maior, porque as pessoas estão mais próximas. E isso é um problema que vemos na prática quando há a interiorização das instituições. Aqui temos muitos alunos que vêm de longe, de outros países, e essa permanência é afetada pela evasão. É um desafio que temos, principalmente pela internacionalização”, avaliou.
A ligação da Unila com a Itaipu Binacional é estreita desde a criação da universidade. A usina doou o terreno e o projeto arquitetônico dos prédios, assinado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, e recebeu os estudantes em seu parque tecnológico até que as obras de construção do espaço permitissem a realização das aulas no próprio campus.
Paralisados desde 2015, os trabalhos no “esqueleto da Unila” devem ser retomados nos próximos meses graças a um investimento de mais de R$ 752 milhões feito pelo Ministério da Educação por meio de convênio técnicos firmados entre a universidade e Itaipu em março de 2024.

Em novembro do ano passado, a Itaipu Binacional firmou um novo convênio por 24 meses com a Unila, que prevê o repasse de R$ 65 milhões para “projetos de territorialização” da universidade localizada na fronteira entre o Brasil e o Paraguai. Entre as iniciativas estão pesquisas sobre plantas sagradas indígenas, geração de biogás e biofertilizantes, sustentabilidade indígena e educação em saúde sobre plantas medicinais para hipertensos e diabéticos.
VEJA TAMBÉM: