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Paraná tem 1.500 profissionais “impedidos” de atuar contra o coronavírus devido à idade
| Foto: BigStock

A pandemia do coronavírus fez a técnica de enfermagem Silvia Regina da Silva, 40 anos, ser afastada do trabalho rotineiro na UTI Geral do hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba. Ela está no perfil dos profissionais de saúde que, ou pela idade ou por serem portadores de doenças imunossupressoras, não podem ficar expostas ao elevado risco de contaminação de quem trata pacientes com Covid-19. Há cinco anos, Silvia faz tratamento para artrite reumatoide e toma medicamentos que baixam a imunidade.

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Segundo dados da Confederação Nacional de Saúde (CNS), o Paraná contabiliza 128.208 profissionais de saúde, enquanto somente na capital, são 49.474. Não há informações sobre qual a parcela desses colaboradores se enquadram no grupo risco da Covid-19, mas a porcentagem somente de profissionais com mais de 65 anos é 1,23% no Paraná, o que representa mais de 1.500 pessoas com recomendação de afastamento da linha de frente.

Silvia trabalhava na UTI Geral, onde alguns leitos foram destinados aos pacientes com Covid-19 que precisam de tratamento intensivo. "Como sou do grupo de risco, fui remanejada para atender pacientes da UTI Cardíaca", explicou. Ela sabe o quanto é importante seguir atuando, mesmo que não seja diretamente na pandemia, mas que teme pelos colegas que estão expostos ao vírus diariamente. " Ficamos preocupados com eles, porque é uma situação complicada. Espero poder voltar ao meu posto de trabalho assim que tudo isso acabar ", enfatizou.

Normativa do Ministério da Saúde dá autonomia para os hospitais avaliarem o melhor cenário pra seus profissionais.“Cada serviço deverá avaliar a possibilidade de afastar profissionais que se enquadre nos grupos de risco, de acordo com as suas peculiaridades e necessidades. (...) Os gestores dos serviços de saúde, (...), deverão realizar a avaliação de risco para transmissão da Covid-19 em cada área do estabelecimento, a fim de definir as possíveis estratégias de realocação de pessoal dentro do serviço”. Enquadram-se no grupo de risco: gestantes e lactantes, trabalhadores acima de 60 anos, imunodeprimidos ou aqueles que possuem doenças crônicas graves.

Tanto a Secretaria de Saúde de Curitiba como a Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (Sesa), publicaram resoluções sobre o coronavírus e incluíram parágrafos sobre profissionais do grupo de risco que atuam no sistema público.

O decreto de Curitiba diz: “Os agentes públicos deverão ser afastados de suas atividades laborais, mediante prescrição médica ou por notificação de isolamento domiciliar (...) Os agentes públicos com idade igual ou superior a 65 anos e gestantes deverão permanecer no respectivo domicílio, mediante dispensa do registro da frequência, até receberem determinação de retorno ao trabalho”.

Flaviano Ventorim, presidente do Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Sindipar), explica que os sistemas de saúde particulares do estado estão seguindo padrões para garantir a segurança desses colaboradores. Enquanto alguns estão trabalhando no regime home office ou, ainda, tiveram suas férias decretadas, outros mudaram de área.

“A recomendação é que esses profissionais não trabalhem no atendimento direto, mas se encarreguem de outras atividades. Os hospitais devem avaliar as áreas com mais risco biológico de infecção e fazer com que esses colaboradores não atuem nesses locais”, detalhou.

O porta-voz disse ainda que é importante lembrar que a legislação não permite desvio de função, apenas remanejamento, o que deve ser respeitado pelos estabelecimentos de saúde.

Perda de profissionais qualificados

Ainda que o afastamento de profissionais do grupo de risco seja uma medida de segurança, ela pode significar a perda de especialistas qualificados para os hospitais.

De acordo com o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), o Paraná conta com 484 hospitais, privados e públicos. Curitiba tem 60 hospitais gerais e especializados. “Algumas equipes são compostas por profissionais mais técnicos, altamente qualificados, como é o caso das Unidades de Terapia Intensiva (UTI’s). É muito difícil repor esses especialistas, por isso, apesar de todos os esforços, pode ser que alguns hospitais fiquem limitados e precisem contar com esses profissionais neste momento”, alertou Ventorim.

No Hospital Nossa Senhora das Graças, em média, 25% dos colaboradores foram remanejados, seja por motivo de comorbidades ou devido a necessidades de adequações dos setores de atendimento por se enquadrarem no grupo de risco da Covid-19. De acordo com informações da assessoria de comunicação, cada caso é tratado individualmente seguindo recomendações do Ministério da Saúde e Ministério do Trabalho.

No Hospital de Clínicas da UFPR, de acordo com informações da assessoria de comunicação, muitos colaboradores estão trabalhando no regime home office, conforme a normativa interna, que diz, em seguinte trecho:

"Art. 12. Os servidores e empregados públicos, considerados vulneráveis, poderão executar suas atividades remotamente". O hospital não informou a porcentagem de colaboradores que se encaixam nessa normativa.

Ventorim destaca que a importância de todos que estão trabalhando nos hospitais nesta pandemia. “Todos os profissionais de saúde são extremamente importantes neste momento e diante de um cenário tão crítico como este, estão demonstrando os verdadeiros heróis que são”, finalizou.

Conteúdo editado por:Marcos Tosi
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