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Fábrica no Paraná
BNDES registra queda de consultas para investimentos no Paraná| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

No primeiro trimestre de 2019, houve uma queda na quantidade de consultas feitas por empresários ao BNDES com o objetivo de fazer investimentos no estado do Paraná. A diminuição foi de 34% na comparação com o mesmo período do ano passado – o pior resultado desde 2006 – e segue uma tendência nacional.

A consulta é a primeira etapa do processo de obtenção de crédito e indica que pode haver diminuição futura dos desembolsos do BNDES no estado. Segundo especialistas, a queda pode ser explicada por dois fatores principais: a estagnação da atividade econômica e a mudança na política de crédito do banco.

Pelo lado da demanda, a avaliação é de que sem a retomada do crescimento econômico, os empresários não recorrem a crédito para investimento.

“Uma atividade em franca expansão vai demandar aos empresários a procura por crédito para expandir seus negócios. Em economia que não está em expansão, a procura existe de maneira pontual e para manter negócio”, avalia Heraldo Neves, diretor-presidente da Fomento Paraná, instituição financeira ligada ao governo do Paraná.

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Na Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), a percepção é similar. Segundo João Baptista Lima Guimarães, analista de desenvolvimento do Núcleo de Acesso ao Crédito – grupo que trabalha na orientação de empresários que buscam dinheiro junto a instituições financeiras – a procura por crédito vem caindo. Em 2016, o Núcleo atendia cerca de 300 empresas, em 2018, o número caiu para cerca de 180.

Segundo Guimarães, além da queda no número de atendimentos, o Núcleo de Acesso ao Crédito registrou uma mudança no perfil das propostas. Antes, as consultas eram direcionadas a crédito para investimento em obras, maquinário e outras ações que levassem a expansão da capacidade produtiva. A busca, agora, é por capital de giro.

Ainda segundo o analista da Fiep, outro fator que desestimula o investimento no caso da indústria paranaense é o caso de haver capacidade produtiva ociosa. Portanto, mesmo quando a economia começar a se recuperar e houver aumento de demanda, o empresário tem condições aumentar sua produção sem a necessidade de expandir sua estrutura.

Heraldo Neves, da Fomento Paraná, destaca que essa postura de espera e desconfiança do empresariado paranaense pode ter relação com a os resultados da economia no primeiro semestre.

“Finalizamos o ano passado com expectativa de crescimento de 2%. Isso já ruiu. A agenda de reformas não vem dentro da expectativa dos empresários”, avalia.

Mudanças no BNDES

Não é só a baixa demanda que explica a queda da procura de dinheiro por paranaenses junto ao BNDES. Mudanças na política de crédito do banco também são relevantes para entender esse movimento.

Sob gestão do ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, o novo foco do BNDES é dar menos crédito a grandes empresas e focar mais nas médias empresas. Além disso, o banco quer concentrar os investimentos na área de infraestrutura e no apoio às concessões conduzidas pelo governo federal.

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Essas intenções já começaram a aparecer nos números do Paraná. No estado, o número de consultas feitas por empresas de grande porte caiu 78% na comparação entre o primeiro trimestre de 2018 e o mesmo período de 2019. Nas empresas médias, o número ficou praticamente estável, com crescimento de 1%; e nas pequenas e micro houve crescimento de 26% e 13%, respectivamente. O valor global das consultas em 2019 foi de R$ 1,3 bilhão, enquanto nos três primeiros meses de 2018 foi de R$ 1,9 bilhão.

Outras mudanças no BNDES, como a redução de subsídios do Tesouro ao crédito e a mudança da taxa de correção dos empréstimos, deixaram as operações com o banco mais caras para os empresários, o que também pode ter arrefecido as intenções do setor produtivo de contratar operações de crédito.

Instituições financeiras que intermedeiam empréstimos do BNDES no Paraná estão atentas a essas mudanças para conseguirem manter taxas atrativas para o setor privado.

No Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) – ligado aos governos do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – uma das soluções tem sido diminuir a dependência dos recursos do BNDES.

De acordo com o diretor de Operações do banco, Wilson Bley Lipski, atualmente cerca de 70% das operações do BRDE no Paraná são financiadas pelo BNDES. A meta é reduzir esse patamar para 55%. Por isso o banco tem recorrido a outras instituições, como a Agência Francesa de Desenvolvimento e o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Com essa composição de fundos, a expectativa do BRDE é manter taxas atrativas para a concessão de empréstimos a empresários da Região Sul.

No começo de 2019, mesmo diante do cenário político e econômico, o banco conseguiu expandir contratos (4%) e consultas (12%).

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