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Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal.
Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal.| Foto: Divulgação / STF

A Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) repercutiu, na sessão desta terça-feira (9), as falas do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes no programa de entrevistas Roda Viva, da TV Cultura. Alguns deputados pediram para que o Legislativo estadual manifestasse repúdio ao magistrado, que disse que “Curitiba tem o gérmen do fascismo”, mas o presidente da Casa, Ademar Traiano (PSD), afastou essa possibilidade.

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No programa, Mendes afirmou que “Curitiba gerou Bolsonaro, Curitiba tem o gérmen do fascismo. Inclusive todas as práticas que desenvolvem, investigações a sorrelfa [dissimulação silenciosa para iludir], investigações atípicas, não precisa dizer mais nada”.

Denian Couto disse que Gilmar Mendes "rasgou a toga"

Logo no início da sessão, o deputado Denian Couto (Podemos) pediu que a Alep emitisse uma nota formal de repúdio contra as declarações de Gilmar Mendes. “Ou esta casa se insurge verdadeiramente em uma posição formal dos representantes do povo do Paraná, de repudiar o que disse o ministro Gilmar mendes, ou o nosso silêncio poderá ser confundido com conivência”, afirmou.

Tecendo uma série de críticas à atuação do ministro no STF, Couto classificou como “parcial” a conduta do magistrado. O deputado citou declarações anteriores de outros integrantes da Suprema Corte contra Mendes, e afirmou que o ministro se comporta de forma política.

“Nós não podemos aceitar esta posição de um homem que, no exercício da magistratura, se comporta de forma diversa ao que se espera de um magistrado. O comportamento do ministro Gilmar Mendes é de político. Ele rasgou a toga. Deveria renunciar ao cargo, se tivesse dignidade. Apresente seu nome, concorra na eleição. Vá buscar espaço no Legislativo ou no Executivo e comporte-se como político que é”, disparou.

"Ministro deve pedido de desculpas", disse Flávia Francischini

Na sequência, a deputada Flávia Francischini (União) disse, no plenário da Alep, que o ministro deve “um pedido de desculpas a Curitiba”. Em tom de repúdio, a deputada relembrou que a Operação Lava Jato devolveu aos cofres públicos mais de 4 bilhões de reais por meio de acordos de colaboração premiada e acordos de leniência, e fez fortes críticas a Mendes.

“É triste que um ministro do STF trate Curitiba como caricatura e por uma inverdade, valendo-se de uma fake news da esquerda. Não vou permitir esses ataques à Curitiba, a cidade que eu escolhi para morar há mais de 20 anos e onde um dos meus filhos nasceu. Curitiba sempre foi vanguarda para o Brasil e para o mundo. Inclusive no combate à corrupção”, complementou.

Fábio Oliveira chamou ministro de "irresponsável"

Fábio Oliveira (Podemos) seguiu criticando as declarações do ministro do STF. Para ele, a fala de Gilmar Mendes foi “aterrorizante” e um “sinal de que as coisas fugiram do controle”. Segundo Oliveira, o magistrado “não respeitou a posição de ministro e reforçou o discurso de ódio do bem, que parece estar se tornando moda”.

Ele seguiu, apontando que Mendes foi irresponsável ao usar o termo “fascismo”. “Esses rótulos relacionados a fascismo e nazismo . estão sendo, de maneira frequente e indiscriminada, usados contra grupos e comunidades que simplesmente são contrários a um ponto de vista. Esse discurso de ódio só aumenta a polarização e dificulta o diálogo produtivo. Isso com certeza são ações e atitudes de governos totalitários”, afirmou.

Delegado Tito Barrichello pediu apoio dos outros deputados

Ainda na linha de críticas às falas de Gilmar Mendes, o deputado Delegado Tito Barrichello (União) ressaltou a gravidade da situação ao lembrar ter sido o quarto deputado a usar seu tempo de plenário para tratar do mesmo assunto que seus antecessores. O deputado reforçou que o fascismo, termo usado por Mendes, é “exemplo do antidemocrático”, e leu um pedido de registro de repúdio pela Alep contra o magistrado.

“Espero o apoio dos demais deputados, e proponho também uma audiência pública de desagravo, porque Curitiba não merece ser chamada de gérmen de um modelo totalitarista que é o fascismo. Nós, povo curitibano, não aceitamos isso em hipótese alguma. Precisamos tomar providências contra falas descabidas que denigrem a imagem da nossa capital, que é um exemplo para o país, com uma população ordeira e que não aceita injustiça”, disse.

"Alep não vota votos de repúdio", explicou Traiano

Após as falas iniciais, o presidente da Alep, Ademar Traiano, lembrou os deputados daquilo que chamou de tradição histórica da casa de “não votar votos de repúdio”. “Já tivemos situações bem conturbadas, piores do que essa”, reforçou Traiano, que confirmou que como presidente se comprometia a fazer uma nota sobre as falas de Gilmar Mendes.

“Acho que o ministro foi infeliz, e faremos sim uma nota pública. Mas não temos como orientação aqui votar votos de repúdio. Me manifestarei em nome do Poder Legislativo”, completou o presidente da Alep. Até às 21h a nota pública prometida por Traiano não havia sido publicada no site oficial da Assembleia Legislativa.

"É preciso concordar com Gilmar Mendes", disse Requião Filho

Ainda no plenário da Alep, o deputado Requião Filho (PT) foi voz dissonante do tom de críticas a Gilmar Mendes. Ele leu a postagem do ministro na qual Mendes explica que não teve a intenção de ofender os curitibanos. Segundo o magistrado, a crítica foi direcionada aos membros da força-tarefa da Lava Jato e à chamada “República de Curitiba”.

Requião Filho disse que é preciso concordar com Gilmar Mendes, pelo menos em parte. “Infelizmente, este fantasma maldito do fascismo assombra não Curitiba, mas a República. Aqueles que acham que a toga serve para perseguir. Aqueles que acham que o Ministério Público serve para impor as suas opiniões. Estes sim, fascistas, canalhas, que sujam as instituições”, afirmou.

Críticas em notas e nas redes sociais

Nas redes sociais, o deputado Luiz Fernando Guerra (União) também repudiou os comentários do ministro do STF Gilmar Mendes. Em sua conta no Twitter, o deputado escreveu: “É um absurdo ouvirmos um ministro falando que Curitiba é ‘germe fascista’. Curitiba é terra de gente que trabalha, que luta por um futuro melhor e valoriza a justiça. Me orgulho do trabalho realizado pela Lava Jato”.

Ricardo Arruda (PL) encaminhou uma nota à Gazeta do Povo na qual teceu duras críticas ao magistrado. “Ora, Gilmar Mendes, a que ponto de imoralidade o senhor chegou. Que leviano e odioso o senhor foi para criticar uma população inteira. População esta trabalhadora, que respeita as leis, a Constituição Federal, tudo o que o senhor não o faz e é bem pago para fazê-lo”, disse.

Arruda seguiu: “Nós aqui lutamos pelo que é certo, pelo que é correto. Diferente do senhor, visto pelo seu trabalho de anos no Supremo [Tribunal Federal], colocando em liberdade criminosos que já foram condenados e presos. Este é o senhor. E o senhor não tem moral nenhuma para falar ou julgar qualquer brasileiro”, afirmou.

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