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Dos bondinhos ao Paço: a trajetória do prefeito Cândido de Abreu
| Foto: Reprodução

Após o pioneirismo de José Borges de Macedo, primeiro prefeito da cidade (1835-1838), Curitiba esperou 54 anos até ter outro nome chefiando o Executivo municipal. Somente em 1892, o engenheiro Cândido Ferreira de Abreu, então com extensa atuação no serviço público, ocuparia o topo da hierarquia do município. Em uma eleição nos moldes da República Velha, em que poucos poderiam votar, o neto do famoso produtor de erva-mate Visconde de Nacar foi eleito com mais de mil dos 1,3 mil votos disputados.

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Essa passagem, no entanto, não durou muito. O engenheiro de 36 anos, nascido em Paranaguá, permaneceu no poder somente até o ano seguinte, 1893. Nesse breve ínterim, Cândido de Abreu inaugurou o sistema de iluminação pública da capital e estendeu a malha férrea da cidade, graças a sua experiência prévia em projetos deste tipo. Também concluiu a Igreja Matriz, um dos maiores símbolos da capital. No entanto, alegando dificuldade de entendimento com a Câmara Municipal, optou pela renúncia.

Não seria a única passagem de Cândido pela prefeitura, porém. Após anos atuando em cargos públicos, por indicação (como secretário) ou eletivos, como deputado e senador, ele retornou à prefeitura, onde permaneceu de 1913 a 1916. E foi justamente em sua segunda gestão que implementou diversas melhorias urbanas.

A principal delas foi a expansão da rede de bondinhos elétricos. O transporte por bondes começou em 1887 na capital, mas até os anos 1910 eram puxados por mulas. A eletrificação dos veículos já vinha sendo gestada havia anos, desde que a cidade começou a crescer e o modelo já não satisfazia os curitibanos. Essa mudança foi concretizada no primeiro ano da nova gestão de Cândido, que a partir daí mudou leitos das ruas e criou mais estrutura para o modal. É de sua gestão a estação central de bondes, na Rua Barão do Rio Branco.

O prefeito foi responsável também pelas primeiras ações de “embelezamento urbano”, como os adornamentos das praças Carlos Gomes e Eufrásio Correia, além de reformas na Osório e Santos Andrade, que naquela altura recebia as obras da Universidade Federal do Paraná (UFPR) – a instituição foi fundada em 1912, mas funcionava em imóvel na Comendador Araújo antes de o prédio imponente em que funciona até hoje ser erguido. Uma das obras mais emblemáticas foi a reforma do Passeio Público que, sob sua gestão, ganhou coreto, o portão (inspirado em um modelo parisiense), túneis, grutas e a cerca de cimento que imita troncos de madeira.

A algumas quadras do Passeio Público, outra de suas maiores marcas ainda apreciáveis na cidade. Cândido autorizou, em 1914, a construção do Paço da Liberdade, prédio neoclássico na Praça Generoso Marques que serviria como sede do Executivo municipal pelas décadas seguintes (até 1969). Curiosamente, o prefeito não aproveitou aquela moderna estrutura para a época. O Paço só foi inaugurado em 1916, pouco após sua saída do cargo. Hoje, o prédio está restaurado e é tomado como Patrimônio Histórico Nacional pelo Iphan.

Registros históricos indicam ainda que o prefeito teve o primeiro carro oficial da cidade. Ele veio com os primeiros caminhões de prestação de serviços nas ruas da capital. Em uma de suas publicações na coluna Nostalgia, da Gazeta do Povo, o jornalista e fotógrafo Cid Destafani (falecido em 2015), relembrou que “para armazenar as latas de combustível foi construído um depósito para os lados do Prado do Guabirotuba, prédio hoje denominado Teatro Paiol”.

A segunda passagem de Cândido de Abreu pela prefeitura foi sua última incursão política. O engenheiro prefeito faleceu dois anos após sua saída, em fevereiro de 1918, aos 62 anos.

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