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Deputado Michele Caputo (PSDB): coordenador da Frente Parlamentar do Coronavírus
Deputado Michele Caputo (PSDB): coordenador da Frente Parlamentar do Coronavírus| Foto: Marcos Vinícius Schroeder / ALEP

Crítico das políticas de saúde adotadas pelo atual governo do Paraná, o deputado estadual Michele Caputo (PSDB) defende o decreto estadual que determinou a quarentena restritiva em sete regionais do estado (ampliado para oito com a inclusão do Litoral). Segundo o deputado, o decreto estabelece critérios claros e prevê revisões periódicas, de acordo com a situação da pandemia de Covid-19 em cada região. Coordenador da Frente Parlamentar do Coronavírus, Caputo causou polêmica a promover, na última quinta-feira, debate entre a Sociedade Brasileira de Infectologia e o grupo de médicos que defende o tratamento precoce à Covid-19 com o uso de hidroxicloroquina o ivermectina. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele explica o objetivo do debate:

Como coordenador da Frente Parlamentar do Coronavírus, o senhor promoveu um debate sobre uma proposta de tratamento precoce da Covid-19 com drogas que ainda não tiveram comprovação científica de eficácia. Como farmacêutico, qual a sua posição sobre esse uso da hidroxicloroquina ou do ivermectina já nos primeiros sintomas ou mesmo como profilaxia da doença?

Eu como farmacêutico, gestor de saúde, ex-secretário, e, agora, como deputado eleito pelo setor de saúde, respeito demais a opinião da sociedade cientifica e da área médica, e não é só a infectologia, a pneumologia também tem posição muito parecida com a infectologia (contrária ao uso das drogas enquanto não há comprovação científica de sua eficácia e segurança). Mas essa questão do tratamento precoce é algo que tomou uma grande proporção e precisava ser debatida na Assembleia. Tem centenas de médicos pelo Paraná que apoiam. Eu respeito a relação médico-paciente. Mas eu percebo que muitos que defendem esse tratamento precoce estão lutando por uma generalização que eu acho que é muito perigosa. Os médicos são obrigados, principalmente quando a medicação não tem eficácia comprovada, de dizer para o paciente os riscos todos, isso não pode virar protocolo. Além disso, dinheiro que está sendo gasto com algo que é muito discutível (já há prefeituras distribuindo esses medicamentos), poderia ser aplicado em outras questões. Eu vejo que tem muita gente dando razão para as mídias sociais, ao invés de se preocupar com questões científicas.

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Mas dar o mesmo espaço às sociedades científicas e a um grupo que atua sem evidências não é perigoso?

Não acho, porque essa questão já vem tomando as redes sociais há um longo tempo. O que a gente propiciou foi que a comunidade cientifica ganhasse um espaço maior para se defender, porque o espaço ocupado por essa tese precoce já bomba em uma amplitude muito maior. Eu, por exemplo, saí com a minha opinião ainda mais fortalecida. Outros, que têm uma ideologia, confirmaram o que eles queriam, a verdade que eles acham e precisam para se apegar, porque o cara que pensa ideologicamente, ele não vai mudar de pensamento. Mas já havia deputados que não são desta ala mais ideológica nos questionando, enquanto Frente, sobre esse tal protocolo. Então o que fizemos, trouxemos o protocolo ao debate, mas trouxemos, junto a posição da ciência. O que eu penso é muito claro e transparente. Como presidente da Frente eu vou estar sempre possibilitando o diálogo. A gente quer ajudar o Executivo. Se desses debates saírem novos projetos e inovações que a gente puder propor, nós vamos fazer. Porque tem questões importantes que são debatidas.

Como o senhor avalia a condução da crise causada pela pandemia no país?

Curto e grosso. Ela veio sendo tocada de forma equilibrada até o ministro Mandetta. Não dá pra dizer que estava tudo errado. Apesar do presidente, ele tinha uma equipe do SUS especializada. Depois da saída do Mandetta, um caos em todos os sentidos, inclusive de recursos. O que você vê agora é só atitudes e atos que não colaboram em nada com a unidade universal necessária e com as atitudes que precisam ser tomadas. Você teve um prejuízo em toda a cadeia de comando do Ministério da Saúde. Hoje, há hospitais que são estratégicos no Paraná e nos país, que pedem um simples aval do Ministério para renovar os empréstimos usando o consignado do SUS junto aos bancos e estão sem resposta, sob risco desses hospitais não terem condições de pagar suas contas, para financiar suas dívidas, correndo um risco gravíssimo de fechar leitos em um momento difícil como o que estamos vivendo agora.

Essa pandemia veio para o Brasil, além de toda a desgraça que ela traz, além de todo prejuízo econômico sanitário e social, ela vem em um momento de eleição, e no Brasil os caras perdem a linha, pensando em não desagradar eleitores e apoiadores financeiros para sua reeleição ou eleição do sucessor

E no Paraná?

Aqui no Paraná eu avalio o seguinte: que foi difícil para os países todos, para as autoridades sanitárias, porque esse vírus é muito desconhecido, além de toda a história de enfrentamento, de não ter imunidade. As pessoas comparam com a Influenza, mas já faz 70 anos que se imuniza contra a Influenza, então você tem, apesar das mutações, você tem imunidade de rebanho, tem vacina, tem medicação, tem conhecimento, tem sistema de vigilância, tem tudo organizado. Eu acho que no Paraná demorou a oferta de exames. Nós poderíamos ter organizado antes a compra de EPIs, respiradores e ventiladores, para não cairmos nas dificuldades e armadilhas de mercado e preços do mercado. Em relação ao fechamento das atividades, eu acho que o índice foi bem elaborado, até porque não é diferente de quase nada que o sistema de saúde pregou em todo o lugar sensato desse país. Agora eu acho que é preciso de um protagonismo, porque ficou um enfrentamento de secretários municipais e de prefeitos muito isoladamente, e isso foi cansando. Mas o último decreto, nesta medida em que o governo está sendo mais criticado, é a que eu apoio mais. O que precisa é monitoramento, transparência e coragem para fazer o que precisa ser feito. As regiões do Paraná também enfrentam a pandemia de maneira diferente. Mas agora você não pode tomar atitudes porque um setor quer, você não pode tomar atitudes porque a questão econômica pede e nem pelo o que um sanitarista isolado deseja. Com relação ao governo do estado, acho que, hoje, ele acerta mais do que erra. Atrás, acho que, em alguns momentos o governo foi muito pautado. E, nessas situações, o governo deveria pautar, antecipar as situações. Mas reconheço que é muito difícil. Por isso não critico com tanta veemência como critico a condução no caso da dengue, do sarampo, da febre amarela, pois, nestes casos, estava claro o que deveria ter sido feito e não foi.

O senhor elogiou o decreto, mas das sete grandes cidades afetadas, apenas duas cumpriram integralmente a quarentena (Curitiba e Foz do Iguaçu). Cascavel aderiu, mas não fiscaliza, Londrina e Toledo aderiram tardiamente, Cianorte e Cornélio Procópio, praticamente ignoraram o decreto estadual...

Concordo com a maior parte do decreto porque vejo que o gestor estadual que orientou o governador a editar o decreto partiu de um índice confiável quanto ao aumento de casos, as vagas de UTI e a taxa de retransmissão do vírus. Eu concordo com esses critérios do índice. O que estamos vendo é questionamento das prefeituras quanto aos números dos índices. Daí não é problema da natureza do decreto. Mas posso dizer que é absurdo o Oeste do Paraná não tomar providência, pois a situação deles chegou a ser mais grave que a do Leste aqui. Hoje você vê gente que eu acho que fez tudo certo, começando a fazer errado, porque a questão eleitoral nos municípios ela pesa muito. E aí vira mais um fator da pandemia, que é o fator eleição municipal de 2020. Essa pandemia veio para o Brasil, além de toda a desgraça que ela traz, além de todo prejuízo econômico sanitário e social, ela vem em um momento de eleição, e no Brasil os caras perdem a linha, pensando em não desagradar eleitores e apoiadores financeiros para sua reeleição ou eleição do sucessor. As medidas precisam ser tomadas e cumpridas, revistas periodicamente e com transições racionais a partir da lógica sanitária. Meu apoio é à tese que o decreto traz. Se as decisões são tomadas em cima de números verdadeiros, o decreto é correto e profissional de saúde nenhum questiona esse critério. Terça-feira (14) termina, o estado terá que apresentar o resultado disso.

E, mesmo as cidades que aderiram, não se observou aumento significativo no isolamento social. A população já não está cansada? São mais de 100 dias em estado de emergência, sem perspectiva de saída...

Nós vamos ter vários vai e vem. Teremos uma transição muito difícil. O Paraná deve ser o último ou um dos últimos a sair da pandemia, até porque ela demorou mais para chegar aqui. Quando os números estavam bons, muita gente achava que era mérito dos cuidados e trabalhos que estavam sendo feitos no enfrentamento, na verdade não. O nosso índice de isolamento nunca foi alto, creio que até porque os nossos números de casos não estavam altos. Mas agora a crise está clara, estamos perto de atingir o limite da nossa capacidade hospitalar e, se o crescimento se mantiver, poderemos chegar à situação da Itália, onde pessoas morreram por falta de atendimento. E o jovem tem um papel crucial nisso. Pois o jovem é o que mais negligencia, porque é quem tem menos risco, mas é ele que está transmitindo o vírus para outras pessoas até chegar aos idosos, que têm maior risco. E, quando chegar no momento de falta de vagas nas UTIs e os profissionais de saúde tiverem que escolher entre salvar a vida de um jovem ou de um idoso, o jovem terá prioridade no leito. Então, está na hora do jovem tomar consciência que, neste momento, ele é responsável pela vida do próximo.

A principal queixa quanto às medidas restritivas é em relação ao impacto econômico e, sendo o último estado a sair da pandemia, o Paraná tende a ser o estado que mais poderá sofrer consequências econômicas. Como convencer o trabalhador autônomo ou o empresário que depende do faturamento diário do seu negócio a “ficar em casa”?

É fato que há desemprego, queda de renda, mas o sistema financeiro também tem que entender o momento e se adaptar. O sistema todo precisa buscar alternativa para a retomada do poder de compra senão o sistema financeiro todo quebra também. Então, não adianta se cobrar as mesmas taxas, recusar-se a fazer prorrogação de dívidas, de financiamentos, não diminuir o impacto dos juros. Se o grande capital não administrar isso, também vai quebrar. Porque se não tiver gente para consumir e empresa pra produzir pra gerar imposto, para onde que vamos? Então não é uma questão só da saúde, senão fica fácil culpar secretário de saúde.

Outro momento em que o senhor e a Frente tiveram destaque nesta pandemia, foi quando o senhor externou, na tribuna da Assembleia, ataques e ameaças a profissionais de saúde e, até aos secretários municipais de saúde. Essa situação foi superada?

A Márcia (Huçulak), a secretária de Saúde de Curitiba, é uma das profissionais de saúde que eu mais respeito. Pode ter alguns problemas de relacionamento, justamente pelo fato de ser bastante dura. Agora, independentemente disso, tivemos relatos de que ela foi, de fato ameaçada, ela e a família dela. Depois que tratei disso na tribuna virtual da Assembleia, a secretária de Formosa do Oeste (Pollyanna Gimenes) me procurou para registrar que ela e diversos outros secretários estavam sendo ameaçados. Fiz um novo pronunciamento. Sem contar um outro problema de funcionários da saúde que não podem mais andar nos ônibus de branco ou jaleco, porque estão sendo ameaçados por uma gama de ignorantes. Essas pessoas deveriam estar sendo tratadas como heróis, estão privadas do convívio com suas famílias para cuidar das nossas, estão trabalhando em jornadas exaustivas, vendo a morte de perto e se expondo ao risco de contaminação e, no Brasil e no Paraná, estão sendo hostilizadas.

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