“Eu queria frisar que não tem nada a ver com política, que essa questão de política está extremamente fora do contexto, não tem nada a ver com um ato ou briga política, foi um acaso, uma fatalidade para as duas famílias”. As palavras são da esposa do policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho, que por questões de segurança pediu para não ter seu nome divulgado. Ela falou nesta quarta-feira (13) pela primeira vez sobre o caso que tirou a vida do tesoureiro do Partido dos Trabalhadores em Foz do Iguaçu, o guarda municipal Marcelo Arruda, na noite do último sábado (9) e que deixou seu marido ferido gravemente a tiros. Guaranho segue internado em estado grave, mas seu quadro é considerado estável.
“Ninguém esperava isso, foi um acaso, um momento de bobeira que aconteceu, não tem nada a ver com política, o Guaranho era de direita, ele era apoiador do Bolsonaro, mas nunca participou de carreatas, de nenhuma passeata, ele não fazia parte de partidos políticos, associações políticas ou coisas assim, ele gostava de acompanhar política nas redes sociais, mas ele não era fanático a ponto de fazer qualquer loucura”, continuou o relato.
A esposa, que estava no veículo com o policial penal no momento em que houve a primeira discussão – antes dos disparos de arma de fogo –, contou à reportagem durante uma conversa de 25 minutos que o policial penal passou pelo local por acaso, apenas para fazer uma ronda de rotina, que não sabia se tratar de uma festa temática e que não se tratou de uma briga por questões políticas.
Como o policial penal chegou à associação onde ocorria a festa
A companheira de Guaranho disse que ele já foi da diretoria da Aresfi (Associação Recreativa Esportiva Segurança Física Itaipu), local onde Marcelo Arruda comemorava seus 50 anos em festa que tinha como tema o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Guaranho seguia associado ao local onde joga futebol e sinuca duas vezes por semana, às quartas e sextas-feiras há pelo menos 3 anos. A esposa contou que ela e o marido estavam em uma associação próxima onde estavam em churrasco. O marido fez o fogo e assou a carne. “Ele tomou dois chopes, não bebeu muito não”, afirmou.
Após saírem de lá, passaram pela Aresfi para fazer uma ronda de rotina, por haver registro de furtos recentes naquela região. A mulher estava no carro, no banco de trás com o bebê, um menino de dois meses, quando houve a primeira discussão. Ela nega que tentou sair do veículo, e contou ter aberto a porta para pedir calma a Marcelo, alertando que havia uma criança ali.
“Eles tinham atacado pedra e terra contra o carro, falavam que eram policiais, achei que poderiam atirar, eu pedi calma e nisso meu esposo acelerou o carro e foi embora”, contou ao reforçar que o policial penal e Marcelo, bem como outros participantes da festa, não se conheciam. “Em momento algum meu marido sabia que estava acontecendo uma confraternização do PT ali. Ele passou para fazer uma ronda, eu mesma fui algumas vezes com ele nessas rondas”, reafirmou.
Ela disse já ter dado depoimento à polícia e negou à reportagem que o marido tivesse acesso às imagens internas e do que estava acontecendo no local. Relatou que o circuito de câmeras é recente na associação. “Se ele [o policial penal] tivesse o intuito de fazer alguma outra coisa, ele não teria nem me levado nem levado meu filho, se tivesse o intuito de fazer alguma coisa, ele teria feito no momento que ele foi ameaçado, porque ele estava armado no momento, não teria me levado embora do local e voltado”.
Como a discussão começou
A mulher de Guaranho confirma que no carro do casal tocava uma música cuja letra falava “o mito chegou e o Brasil acordou” no momento que chegaram à associação, mas que o volume estava normal. “Quando chegamos em frente da Aresf, o pessoal lá de dentro ouviu [a música] e começaram a gritar com palavras de baixo escalão [sic], xingando. Meu esposo falou assim ‘Bolsonaro mito’, aí ele veio [o guarda municipal Marcelo Arruda] e tacou a terra e a pedra na gente. Ele começou a mandar sairmos de lá, que lá estava cheio de polícia e tudo mais, e a xingar. Aí que eu abri a porta do carro e falei para ele ‘por favor moço, eu estou com meu filho’”, reforçou.
A mulher do policial penal confirma que Guaranho chegou a fazer menção de que estava armado, mas negou que ele tivesse ameaçado o grupo. “Depois que ele foi agredido pela pessoa que jogou a pedra e a terra dizendo que ali estava cheio de polícia, ele sempre sai armado por proteção, ele mostrou a arma e disse que também era polícia, só ergueu [a arma] e falou ‘eu também sou polícia’”.
“Ele [o policial penal] ficou muito transtornado com a situação (...) ele ficou muito nervoso, ele falou que ali é o local dele, que ele joga futebol ali, que foi ameaçado por nada, que a família dele foi ameaçada, que ele queria voltar ali para tirar satisfação. Porque o cara fez isso com ele e com a família dele. Eu até pedi e implorei para ele não voltar [ao local da festa], para deixar isso quieto, mas ele acabou querendo voltar para tirar satisfação”. Guaranho deixou a esposa e o bebê em casa, numa residência próxima à associação.
“Ele é extremamente tranquilo”
“Só pelas imagens eu vi que ele chegou lá e o Marcelo já estava esperando ele com a arma apontada. Se ele [Guaranho] quisesse fazer alguma coisa, ele não iria voltar sozinho ou não iria voltar, ele sabia que o pessoal ali estava armado, que era policial”. A companheira de Guaranho disse que o marido é um homem “extremamente tranquilo” que em todo tempo que estão juntos – 4 anos – nunca o viu sacando a arma e nunca agrediu alguém.
“Estou tão surpresa quanto outras pessoas, quem conhece ele sabe que ele é uma pessoa do bem. Não é do feitio dele, passou em vários concursos públicos, é uma pessoa instruída, está há 12 anos de órgão [Polícia Penal federal], acabou de ser pai, foi pai há dois meses, ele não iria jogar tudo isso fora”, considerou.
Como ficou sabendo que o marido havia sido ferido
A esposa do policial penal Jorge José da Rocha Guaranho relatou ainda que ficou sabendo que o marido havia sido baleado a partir de informações em um grupo de troca de mensagens. “Eu moro perto [da Associação] e tem um grupo [de troca de mensagens] da Vila A, de segurança, no momento que houve os disparos eles mandaram no grupo e quando mandaram eu já deduzi que era ali no local e me desesperei”.
A mulher contou ainda que a bolsa do bebê havia ficado no carro. “Eu pedi para o meu tio [após o ocorrido] ir lá buscar e eles bateram no meu tio, não deixaram pegar a bolsa dentro do carro, quem se identificava como parente ou quisesse mexer no meu carro, que fosse da nossa família, eles agrediam, estava todo mundo muito transtornado”. Ela também disse não ter ido ao hospital nas horas seguintes ao ocorrido e deixou sua casa por medo.
A mulher de Guaranho afirmou que o marido nunca precisou de auxílio psicológico – por conta do estresse da profissão – não tomava medicamentos e que trabalhava na parte administrativa da penitenciária, sem contato direto com os detentos. “Ele nunca precisou ir ao psicólogo, nem ao médico ele precisava ir”, seguiu. A esposa disse ainda não saber se o marido se envolvia em embates políticos e discussões mais acaloradas sobre o tema.
“Em redes sociais não sei, mas pessoalmente nunca, na minha família existem muitas pessoas que são [eleitores] do PT e nunca teve nenhum problema, minha mãe votava no Lula, meu padrasto, eles não são do Bolsonaro e cada um respeita seu partido político. Se ele tivesse essa intolerância com o PT, ele não iria nem falar com a minha mãe, com meu padrasto, para ele isso era tranquilo”, disse ao reafirmar não se tratar de uma briga ou embate por intolerância política.
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