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Ao todo, 13 projetos estão sendo desenvolvidos com recursos do BRDE; quatro serão divulgados nesta terça-feira (30)
Ao todo, 13 projetos estão sendo desenvolvidos com recursos do BRDE; quatro serão divulgados nesta terça-feira (30)| Foto: Gian Galani / AEN

Com o apoio do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), 13 pesquisas estão sendo desenvolvidas no Paraná para compreender a evolução e possíveis soluções contra a Covid-19. Dos projetos, conduzidos por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) em parceria com outras instituições, quatro terão os avanços divulgados ao público nesta terça-feira (30), às 17 horas, via Youtube.

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As pesquisas avaliam desde o monitoramento remoto do paciente com Covid-19 até o uso terapêutico de células-tronco e, embora nem todas estejam completas, boa parte traz resultados animadores. Confira abaixo os detalhes dos quatro primeiros projetos.

Estresse oxidativo

Há duas substâncias no organismo humano que devem se manter em equilíbrio: as oxidantes (radicais livres) e as antioxidantes. Quando há uma produção exagerada de oxidantes (por meio de alimentação desregrada, cigarro ou muita exposição ao sol), o corpo compensa com as antioxidantes (produzidas por meio dos exercícios físicos e alimentos específicos). 

Se há um desequilíbrio em favor das oxidantes, chama-se de estresse oxidativo, que pode causar danos em estruturas da célula. Infecções virais e inflamações tendem a gerar esse estresse e a pesquisa conduzida pelo professor e pesquisador Ricardo Pinho, no programa de pós-graduação em Ciências da Saúde da PUCPR, teve como objetivo observar qual o papel do estresse oxidativo na gravidade da Covid-19.

Ao olharem para o soro de 77 pacientes internados no Hospital Evangélico Mackenzie, divididos entre moderados a graves, os pesquisadores perceberam que não havia diferença dos níveis de estresse oxidativo entre os grupos. Ambos apresentavam valores elevados desse estresse, o que não poderia ser associado à maior gravidade da doença. 

Mas, entre os pacientes mais graves, havia um dano maior em algumas estruturas das células — e as substâncias antioxidantes poderiam contribuir nesse ponto. "O estudo é de base, mais descritivo, e não faz nenhuma intervenção nos pacientes. Mas ele sugere que o uso de antioxidantes nesses pacientes poderia contribuir. Não se trata de tratamento, não vai impedir o desenvolvimento, mas pode ajudar na questão da progressão da doença", explica. Resultados deste estudo foram publicados em março na revista científica Free Radical Biology & Medicine.

Pinho conduz ainda outras duas pesquisas contra a Covid-19. Uma delas avalia o papel do Sars-CoV-2 no metabolismo das gorduras. A partir do soro de 145 pacientes, internados no Hospital Marcelino Champagnat, verificou-se que todos, com obesidade ou não, apresentavam uma mudança no perfil metabólico relacionado à condição. "Isso é terrível para o tratamento da doença, porque o metabolismo desregulado compromete a função da célula como um todo", explica Pinho. Este estudo está concluído, mas os resultados ainda não foram publicados. 

O outro estudo de Pinho, com previsão de conclusão até a metade de 2021, avalia amostras do pulmão de pacientes que foram a óbito pela Covid-19. "Fizemos a coleta pulmonar por biópsia e vimos se aquilo que acontece no soro do paciente tem alguma relação com o que encontramos ou o que vamos encontrar nos pulmões dos pacientes. Se há alguma causa e efeito", relata o professor.

Células-tronco como tratamento

No momento em que o pulmão se recupera da infecção pelo Sars-CoV-2, ele pode cicatrizar de forma errada, chamada de fibrose. Os alvéolos pulmonares comprometidos pela fibrose não trabalham da melhor forma, mas o uso das células-tronco mesenquimais pode ajudar nessa recuperação, segundo Paulo Brofman, professor titular da Escola de Medicina e coordenador do Centro de Tecnologia Celular da PUCPR/Ministério da Saúde.

"Aprendemos, decorrente da experiência mundial e da nossa, que essas células têm enorme poder imunomodulador. Elas tentam controlar a cascata de citocinas e têm a propriedade de reparar a membrana do alvéolo, por meio de elementos liberados por elas mesmas. Essas substâncias tendem a diminuir fortemente a inflamação, encurtando o tempo de recuperação da membrana", explica o pesquisador, que destaca como uma das principais expectativas desse tipo de tratamento a melhora na oxigenação do paciente e recuperação mais rápida.

A pesquisa, que foi iniciada no fim do ano passado, acompanhou 18 pacientes internados no Complexo do Hospital de Clínicas da UFPR. Destes, 12 receberam as células-tronco e seis obtiveram o tratamento padrão. As células foram ofertadas pelo Centro de Tecnologia Celular da PUCPR, no qual foram isoladas e purificadas, para poderem ser usadas na pesquisa. 

"Injetamos 1,5 milhão de células por quilo de peso do paciente. Então, se o paciente tem 100 kg, são 150 milhões de células, divididas em três dosagens, aplicadas via endovenosa. Naturalmente, essas células são atraídas para o pulmão", detalha Brofman. Nesta primeira etapa, a pesquisa avaliou pacientes graves, internados e intubados, com mortalidade próxima de 50% em uma evolução natural da doença.

Os resultados ainda não foram divulgados, mas devem sair nas próximas semanas. Segundo Brofman, as etapas seguintes avaliarão pacientes menos graves, mas ainda internados. "Esse será um estudo multicêntrico, e vai envolver o Hospital das Clínicas de Porto Alegre; o Hospital do Trabalhador, o Hospital Evangélico Mackenzie e o Complexo Hospital de Clínicas/UFPR de Curitiba; o Instituto Nacional de Cardiologia no Rio de Janeiro; e o Hospital Espanhol, em Salvador. São esses os centros porque já contam com pesquisadores experientes na terapia com células tronco", argumenta.

Cuidado remoto

Na tentativa de diminuir a contaminação dos profissionais da saúde devido ao contato com os pacientes de Covid-19, pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Tecnologia de Saúde da PUCPR desenvolveram um sistema de monitoramento dos parâmetros fisiológicos das pessoas por telemetria

O dispositivo permite o acesso remoto e em tempo real dos sinais vitais dos pacientes, que podem ser armazenados em nuvem. De acordo com informações divulgadas pela instituição, os resultados foram satisfatórios com o equipamento, e ele poderá ser o ponto de partida para novas implementações. 

Nos testes, os pesquisadores simularam uma febre em uma pessoa, que teve a temperatura aferida de forma contínua, e mostrada em um display de cristal líquido (LCD). O profissional da saúde é, então, alertado da mudança na temperatura do paciente por meio deste dispositivo.

Protótipo que monitora a temperatura do paciente. Na imagem da esquerda, paciente com a temperatura normal e, na da direita, com febre. Foto: Divulgação.
Protótipo que monitora a temperatura do paciente. Na imagem da esquerda, paciente com a temperatura normal e, na da direita, com febre. Foto: Divulgação.

Outros parâmetros avaliados foram os batimentos cardíacos e, na sequência, os pesquisadores testam um circuito que permitirá verificar qual é a oxigenação do paciente. Ao todo, serão três parâmetros fisiológicos a serem mensurados no projeto. A pesquisa está sendo conduzida por Mauren Abreu de Souza, professora e pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Tecnologia em Saúde da instituição.

Acesso à educação na pandemia

A área da saúde não foi a única afetada pela pandemia da Covid-19. A educação de crianças e adolescentes também sofreu reveses, especialmente entre as comunidades mais vulneráveis.

Para verificar o tamanho do impacto, a equipe da professora Ana Maria Eyng, do Programa de Mestrado e Doutorado em Educação da PUCPR, avaliou a percepção de 512 estudantes (entre 10 a 18 anos), 147 profissionais de educação e 24 profissionais da saúde, distribuídos em três estados brasileiros, Paraná, Pernambuco e Rio Grande do Sul, além da Argentina, Chile, Colômbia e México.

Todos responderam formulários online com 60 questões, a partir da percepção de cada um deles sobre como os direitos dos estudantes estavam sendo atendidos nesse período. De acordo com Eyng, embora o meio mais propício para as aulas fossem as plataformas online, com interação entre professores e alunos, cerca de 40% dos estudantes não tinham computadores ou acesso à internet em casa. "Eles tentam acompanhar as aulas via celular ou com materiais impressos que são organizados e entregues pela escola", diz a coordenadora da pesquisa.

Segundo a pesquisadora, algumas escolas usaram as rádios comunitárias para manter o vínculo dos professores com os alunos. "O que observamos da percepção dos estudantes foi que muitos dizem que estão tendo os mesmos resultados na escola, ou piores. Alguns não têm consciência clara de como está o seu processo de aprendizagem", destaca. Das dificuldades, eles apontam para problemas no esclarecimento de dúvidas, no momento de realizar atividades e de compreensão. 

Com relação ao direito à saúde, também avaliado, os estudantes assinalaram com maior ênfase a ansiedade, estresse, depressão, descontrole emocional, insônia, crises de pânico, entre outras. Os profissionais da educação e da saúde também identificaram, nos alunos, maior depressão, tristeza, obesidade, baixo rendimento e desorientação. 

"Nossa grande meta é buscar a construção, a partir de boas práticas, de parâmetros e recursos para a formação de profissionais de educação e saúde, que atendem a infância nessa situação de pobreza", explica a pesquisadora. Os dados foram coletados entre junho e dezembro de 2020.

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