O futebol ocupou o centro dos 96 anos de vida de João Maria Barbosa, o Barbosinha, sem jamais se tornar monótono. Foi jogador profissional pelos extintos clubes Água Verde e Ferroviário, técnico na suburbana e responsável pela Sala de Preservação e Memória do Paraná Clube, como um verdadeiro historiador prático do time. O esporte era, além de trabalho, protagonista em suas conversas cotidianas e na mente do ex-atleta. Barbosinha faleceu no último dia 18 de novembro, por problemas pulmonares.
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Apesar de não precisar de papéis e registros escritos para lembrar de detalhes sobre o futebol brasileiro, ele era exímio no trabalho de identificar, selecionar e catalogar informações sobre os jogos. A diretora cultural do Paraná Clube, Renyra Eracy Egg, percebeu esse talento ao entrar no escritório na casa de Barbosinha e conhecer a meticulosidade com que organizava fotos e lembranças da carreira. Convidou o então aposentado para trabalhar com ela na Sala de Preservação.
Com impecável elegância, sempre de terno e gravata, lá ele atuou do final dos anos 80 até 2016. Após cada jogo, religiosamente fazia os recortes de todos os jornais, o borderô completo e, com letra caprichosa, anotava cartões, gols, escalação e tempos. Ao final de cada mês, providenciava a encadernação dos registros, dando um toque de biblioteca ao museu de relíquias paranistas.
Como guardião da memória do clube, só permitia que fitas, DVDs e outros materiais históricos fossem emprestados do local sob assinatura de documento de responsabilização. “E ai de quem demorasse para devolver. Ele ia lá cobrar”, relembra com graça Luiz Carlos Casagrande, o Casinha, presidente do Conselho Deliberativo do Paraná Clube. A Sala ficava na sede social da Kennedy, e hoje seus itens aguardam nova morada.
Sua memória ajudou a contar a história do futebol mundial. Além de declamar na lata escalações diversas da seleção brasileira, foi fonte de informações para emissoras nacionais e internacionais sobre a Copa do Mundo de 1950, a primeira sediada pelo Brasil. Assistiu aos jogos no estádio e participou de obras para o evento, pois trabalhava na Rede Ferroviária.
Tinha ligações com o clube desde os primórdios do Ferroviário
O primeiro time em que jogou foi o União da Lapa, sua cidade natal, em 1940. A história com o Paraná começa, de certa forma, em 1944, com a contratação pelo Ferroviário. Permaneceu no clube até 1948, quando passou a vestir a camisa do Água Verde, onde atuou até encerrar a carreira como jogador, em 1956. O Água Verde seria renomeado Pinheiros, e ao se fundir com o Colorado (união entre Ferroviário, Britânia e Palestra Itália FC) daria origem ao Paraná Clube em 1989. Assim, o tricolor contou com a presença de Barbosinha desde seus primórdios.
Em 2016, realizou um sonho. Entregou a Pelé o Prêmio Belfort Duarte, concedido a Barbosinha em 1951 pela CBD (antiga CBF) por permanecer 200 jogos em dez anos sem ser expulso de campo nenhuma vez. Era seu desejo presentear Pelé com a honraria que mais lhe dava orgulho, o prêmio que nem o rei do futebol tinha.
João Maria Barbosa deixa a esposa, Madalena, seis filhos, netos e bisnetos.
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