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Lerner fez o 1º projeto de metrô para Curitiba, mas não quis colocá-lo em prática
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Quem olha o primeiro projeto de metrô para Curitiba encontra, em destaque, o nome do arquiteto Jaime Lerner como coordenador do planejamento físico. Isso foi no ano de 1969, quando o primeiro humano foi à Lua, o governador era Paulo Pimentel e o prefeito da capital era Omar Sabbag. Menos de dois anos depois de concluir o estudo preliminar sobre a possibilidade de implantar um modal de transporte metroviário na cidade, o próprio Lerner viria a se tornar prefeito de Curitiba, indicado no período da ditadura militar.

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A pergunta que fica, então, é: se ele havia trabalhado no projeto do metrô, por qual motivo não colocou a proposta em prática quando virou o chefe do Executivo local? A Gazeta do Povo buscou a resposta com pessoas que trabalharam com ele naquela época e com fontes e documentos do próprio Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). Todos apontam que o principal motivo foi dinheiro. Esse conteúdo especial, cheio de entrevistas, pode ser conferido no Podcast Pequeno Expediente desta semana.

O arquiteto Carlos Eduardo Ceneviva – que, por muito tempo, atuou ao lado de Lerner – não estava no Ippuc em 1969, mas foi convidado pelo prefeito recém-indicado e passou a trabalhar, em 1971, no órgão que viria a presidir mais tarde. Sendo assim, estava lá justamente no momento em que Lerner tomava as primeiras decisões administrativas.

Com excelente memória para recordar, com detalhes, de vários outros projetos em que atuou, como a Rede Integrada de Transportes (RIT) que viria a criar anos depois, Ceneviva diz não se lembrar de que o assunto metrô tenha sido abordado nos primeiros anos de gestão de Lerner como prefeito. Para ele, a explicação é óbvia: como executor, buscava projetos factíveis e relativamente rápidos de serem implantados.

“Já entramos com o programa de trabalho definido”, conta. “Metrô, para nós, naquela época, não era nada no nosso horizonte”, complementa. Segundo o arquiteto, “não havia nem sombra de recursos” para pensar nesse tipo de solução de transporte. “Tanto que já começamos a estruturar o projeto de expresso”, acrescenta, iniciativa que viria a se concretizar em 1974.

Ainda de acordo com Ceneviva, quando assumiu a prefeitura, Lerner tinha ideias pré-definidas bem claras do que queria fazer. “Ele colocou o pé no chão”, resume. “Lerner não tinha em mente fazer o metrô. Isso eu posso afirmar”, assegurou Ceneviva, para quem até hoje qualquer iniciativa enterrada ou sobre trilhos parece inviável em Curitiba. “Ao invés de fazer meia linha de metrô, melhor fazer uma rede inteira de ônibus”, diz. E complementa que o projeto só foi feito porque essa é uma obrigação de um órgão de planejamento.

A Gazeta do Povo procurou Jaime Lerner para entrevistá-lo sobre o assunto por diversas vezes, mas a resposta da assessoria dele foi de que não havia disponibilidade de agenda. Expoente do urbanismo e de soluções arquitetônicas, com reconhecimento mundial, e que depois viria a ser prefeito de Curitiba mais duas vezes e também ocupar, por oito anos, o cargo de governador do Paraná, Lerner declarou reiteradamente, em muitas palestras e entrevistas, que o ônibus era uma solução mais adequada para a cidade e que não tinha interesse em fazer metrô.

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